Eu costumava nomear estrelas

É verdade, não minto. Costumava nomear estrelas. Ou ao menos aquelas que eu podia ver do céu da minha casa, aquelas que não faltavam aos encontros, aquelas que se escondiam sem graça atrás da árvore de galhos esparsos que ficava no terreno ao lado do nosso.

Eu nomeava estrelas, porque acreditava que, de certa forma, eram todas especiais. Eu nomeava estrelas pra me lembrar de quantas eram. Dava nome pra não me sentir sozinho enquanto brincava na rua.

E nesse joguinho que hoje percebo ser muito mais importante do que eu imaginava, aprendi a gostar daquelas que brilhavam mais cedo. Daquelas que mesmo sem acender o céu me iluminavam um caminho simples, estreito e seguro de volta pra casa.

Nunca contei pra ninguém os nomes e as características das minhas luzes amigas, mas esses dias tenho sentido tanta saudade que queria poder gritar do alto do meu prédio ou do topo de um morro qualquer. Queria poder chamar pelo nome as estrelas que por muito tempo me fizeram companhia.

Engraçado é que, quando era criança, acreditava que se decorasse a posição de cada um daqueles brilhinhos no céu, eu seria capaz de notar a queda de uma estrela. Mais velho e idealmente mais sábio, olharia pra imensidão enegrecida e diria às crianças que ao lado de uma estrela qualquer, exista outra, sua irmã, que eu teria visto cair anos ou décadas atrás.

A verdade, no entanto, é que o tempo passou e foram poucas as cadentes que assisti pularem do céu. Olhei pra escuridão agora há pouco e não reconheci as minhas amigas. Não sei se o céu daqui é diferente ou se fui um amigo meio bosta, que não compareceu ao funeral e sequer sabe pra onde olhar.

Eu costumava nomear estrelas. Não só pra contar e lembrar, mas pra poder endereçar as mensagens que trocávamos. Um Código Morse nos olhares, uma sequência de brilhos e opacidades.