BOM DE CAMA

Posso falar? Não me recordo de ter alterado meu humor na cama “um só dia”… em toda a minha vida. Casei-me no século passado com a Doroti, e desde então venho me empenhando na difícil tarefa de compartilhar o mesmo ringue UFC de quatro pontas, noite após noite com a fofa.

Nos poucos minutos que antecedem as 24 badaladas, é a fina flor em pessoa. Sorri, me dá beijinhos de paixão, faz carinho na cachorrinha, se benze e… capota. Ela não percebe, mas também me benzo e peço proteção extra aos meus anjos da guarda, eu tinha apenas um, mas contratei mais doze, como garantia. Apesar de católico, um plano B: um amigo me assegurou ajuda dos orixás de seu terreiro, com direito a vela de sete dias e oração para um preto-velho, que diz ser porreta.

Acoelha-se então do meu ladinho um ser híbrido, misto de pitbull e rottweiler. Na cabeceira da cama, mantenho pequenos mimos para garantir o meu soninho: uma focinheira com pontas de aço, uma metralhadora ponto 50 e um galão de 5 litros de spray de pimenta das forças armadas. A Belinha, minha cachorra, deita entre nós para acalmar os ânimos; nunca gostei da ideia de ter um bicho dividindo o mesmo espaço na cama, mas não sou nem besta, a danada incorpora o papel de escudo. Proteção extra pra qualquer sufoco.

Recentemente, adaptei na cama um fundo ejetor para emergências. Vai que a coisa fique feia e é só acionar meu vôo para uma zona segura, há 5 metros dali. Teve um dia em que caí na besteira de acordá-la para perguntar se ela havia tomado seus calmantes florais, ela me deu uma gravata e um chute no saco, antes que eu terminasse a pergunta. Seu jeitinho agitado me toca fundo o coração!

Mas amo a Doroti assim mesmo. Já li sobre inúmeros relatos de heróis da guerra do Iraque que sobreviveram a coisas piores. O mais paradoxal desta criatura é o toque de despertar do seu celular; um hino de pássaros. Todos os dias faz assim: um leve tremor, alguns piados, aumentando e aumentando aos poucos até os curiós todos cantarem a plenos pulmões. Lindo!

Mas nem sempre ela acorda. Aí é que mora o perigo. Me levanto então, e com a ponta de um cabo de vassouras cutuco a fera, vai que tenha um surto e aí… só Deus. Outro dia ela me acordou. Léo, vira para lá, você está roncando! Caí na besteira de refutar. AH! Virou o capeta. Quis pedir o divórcio, ligou para o advogado e só não marcou um horário porque a Belinha deu uma lambida na cara dela. Adoro essa cachorrinha.

Foi a sorte! Ela então se acalmou, eu parei de roncar e a noite correu tranquilinha até o sol raiar. Amanhã, faremos 25 anos de casados. Estou pensando em levá-la para comemorar a data em um restaurante vegano, a comida é leve e não provoca sobressaltos no sono. Uma recomendação de seu médico. Eu aplaudi a ideia!!!