Olhar dela

Ela havia me dado o olhar mais doce que eu poderia ter recebido em toda a minha vida, não tive como não lhe devolver o mesmo olhar, sua expressão carregava uma inocência intacta e eu sou o contrario disso tudo, sinto como se eu chegasse a cheirar mal de tanta coisa ruim que carrego dentro de mim. Ela continuava me olhando e com um brilho inarrável nos olhos, não entendi o porquê, o que eu posso ter para se olhar?

Sento-me em um banco de praça e pego um maço de cigarros em meu bolso, puxo um cigarro e o acendo, dou uma baforada demorada e olho para ela e ela ainda me olha, faço milhões de reflexões dentro da minha cabeça e após refletir sobre tudo, não faço nada além de olha-la e sorrir enquanto me preocupo em terminar o meu cigarro; com pouco tempo, termino o meu cigarro, respiro profundamente e logo em seguida me levanto e coloco-me a andar, ela me acompanhou lado a lado.

Aproveitei que fazia parte do caminho e entrei em um bar, ela não quis entrar e fez bem, bares de garagem costumam ser hostis e mal frequentados, até porque, eu não ia demorar, queria apenas uma saideira para aquecer o coração e foi exatamente o que fiz, pedi uma dose de cachaça e logo engoli, enquanto ela descia pela minha garganta, olho para fora do bar e ela está me olhando e falando baixo, para mim mesmo, pergunto para ela... Se ela tivesse a metade da minha consciência, se entregaria aos vícios mundanos tal qual eu fiz e faço e com certeza seguirei fazendo? Ela me olhava e parecia esboçar um sorriso.

Pago a cachaça que bebi e saio do bar caminhando devagar, ela me acompanha alegre, quase que saltitante, olho para ela e abro um breve sorriso, com poucos passos eu já estou em minha casa, olho para ela, acaricio lhe a cabeça e em resposta ela abana o rabo, assim, entro portão adentro.

Henrique Sanvas
Enviado por Henrique Sanvas em 30/12/2018
Reeditado em 22/09/2020
Código do texto: T6539191
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