IDADE, A IRMÃ DO TEMPO

Calma! Respire fundo e tente outra vez. Dizia a mãe ao filho, que refugou na tentativa de pular na piscina. Carlinhos alegou que a água estava gelada isto e aquilo. A mãe, irritada mas paciente, contava até um milhão. Invertendo os papéis, respirou fundo e disse: “Tudo bem, Carlinhos, não quer entrar? Eu espero. Temos tooodo o tempo do mundo.”

Isto ocorreu em 1936. O menino, à época com 6 anos e a mãe com 31. O tempo passou e Carlinhos saltou inúmeras vezes nas piscinas geladas da vida ao longo de décadas. Doravante, tornou-se competitivo e respeitado medalhista.

Ao contrário do que lhe disse a mãe, ela não tinha todo o tempo do mundo. O “garoto” hoje, no alto de seus 83 anos, e ela, se estivesse ainda entre nós, teria 114, batendo um recorde na piscina do tempo e seria uma medalhista longeva. A passagem do tempo provoca em nós uma sensação estranha mas muito interessante.

Combina num mix a ilusão de eternidade e a racionalidade; que desnuda tudo apresentando a conta na boca do caixa. Os mais jovens, até meados dos vinte e poucos anos, têm a enganosa sensação da eternidade e da intangibilidade.

Mergulham fundo nas mais loucas aventuras, mirando apenas na adrenalina. Muitos, negligenciam o risco de suas ações; pulam, mergulham, saltam de incomensuráveis picos e profundezas abissais. Quando questionados acerca dos níveis de risco, retrucam zombeteiros. É coisa da idade, melhor ainda; imaturidade que afeta mais os novatos. À medida que avançam os segundos, minutos, horas e anos, o pirralho deixa a emoção e absorve a razão.

Seu hipotético Carlinhos olha para ele e diz: pai, se você gosta tanto de mim por que se arrisca tanto? Você pode morrer e eu não quero perder o meu pai. Muitos jovens encontram em algum momento seus Carlinhos, seus sinais evidentes de que devem tirar o pé, baixar a bola. É bacana viver. É legal compartilhar a presença dos amigos, filhos e demais entes. Olhe ao redor, veja o tamanho desse mundão e ligue o simancol.

O tempo é imutável no conceito, mas abraça a todos indistintamente.

Vejo no Face inúmeros videos de reminiscências; cenas mostrando tudo que hoje é só lembrança. Da caneta tinteiro ao carrinho de rolimã. No futuro elas serão os iPads e os smart TVs, num outro futuro os carros híbridos ante um teletransporte ficcional.

Mergulhe na piscina do tempo e seja um medalhista. Leve consigo suas lembranças todas e junte-as num só pacote. Mas não esqueça de comemorar os novos tempos, seus novos anos, afinal, a idade é a irmã do tempo. O Carlinhos que o diga.