Término de uma ilusão

A paixão se dissipou. O amor, não.

Ontem teve uma recaída de saudade: sentiu vontade de escutar a voz e relembrou os breves momentos de plenitude que tiveram juntos.

Não podia mentir para si mesma, ainda guardava na memória seu toque, cheiro e maciez da boca.

Demorou um pouco para aceitar a condição complicada de suas vidas. Afinal, não se pode alimentar uma paixão impossível, ainda mais quando se é a outra.

De uns tempos para cá, ele inventava desculpas para não encontrá-la e passou a não estar mais disponível. Ela demorou a perceber as sutilezas no comportamento dele para evitá-la. Aliás, percebia, sem querer acreditar, achando que eram somente impressões de uma mente fértil. Estava envolvida pela ilusão de que ela era o amor de sua vida. Por isso, mergulhou de cabeça, bem fundo, sempre ignorando as atitudes dele e, consequentemente, seus pensamentos.

Certo dia, ele se foi, sem que houvesse uma única explicação. Várias ligações foram feitas, mas sempre caíam na caixa postal. Depois de várias insistências, ele resolveu atender e, mesmo sabendo que era ela, fingiu que a ligação era um engano.

Foi o gatilho que faltava para enlouquecer.

Os dias se tornaram de uma aflição sem igual, tamanha desilusão. A saudade e a ausência corrosivas a destruíam lentamente.

Experimentou dentro de si toda a angústia, nó na garganta, dores físicas e aperto no peito (como um vulcão prestes a explodir!).

Nos delirantes momentos de desespero, o choro convulsivo a fazia perder a respiração.

É... Só o tempo mesmo seria capaz de cicatrizar totalmente essa ferida. Só o tempo seria capaz de dissipar as nuvens turbulentas para trazer um novo alento. O tempo é o melhor remédio e sempre se encarrega de colocar tudo no lugar.

Tinha que buscar forças para seguir sua vida, porém estava com ele dentro de si, ocupando totalmente sua alma e coração.

Ele tinha sido sua primeira referência de sensações que se tornaram vívidas e inesquecíveis. Porém, teria que, forçosamente, fazer parte de seu passado, estando lá guardado, para sempre, num baú de recordações.

Vivi Peixoto
Enviado por Vivi Peixoto em 06/01/2019
Reeditado em 07/04/2019
Código do texto: T6544237
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