Ainda sou o finito do infinito que fomos

Meus dedos nervosos faziam o tec frenético. Na sala cheia, mas silenciosa, banhada de concentração, o barulho deles no teclado do computador desfilava flutuante competindo com o ruído do ar condicionado gelado. O relógio contava 9 horas do cotidiano.

Rotina, hoje em dia, é também sentir o tremor do celular quando chega mensagem. Era a sua. Aleatória. Rotina era, antes, receber não só palavras digitalizadas, mas as suas palavras. E isso fazia toda a diferença.

Li. Sorri. Qualquer mistura simples, tonta de palavras vinda de você tornava-se suficiente para esticar meus lábios e formar um tímido sorriso.

Senti certo distanciamento antes inexistente em sua mensagem. A palavra “amizade”, dessa vez, chegou anterior ao “eu amo você”. Aqui, a ordem dos fatores alterou o significado do que sou. Ou melhor, do que me tornei. Nas entrelinhas percebi que o “ser” converteu-se para o “fui”. Qualquer verbo conjugado no passado ou traz muita alegria ou bastante saudade.

Surgiu uma viga. Não com o fim de sustentar, mas separando a esperança de você ainda me amar acima de qualquer outro. Pesada, atingiu minha expectativa florida e clara – como o primeiro raio do Sol naquela manhã atipicamente esperançosa, anunciando positividade. Me tonteou e confundiu minhas certezas egoístas e burramente inquestionáveis por mim mesmo.

Acabou. Pressenti o começo de um fim que eu tanto desenhava mentalmente. Que, diversas vezes, pensava em como seria se acontecesse. As interrogações colocadas afirmavam-se em pontos finais. Perceber a falta de pontuação na frase aquecia a saborosa ilusão de continuar escrevendo nossa história tão bonita.

A distância de suas palavras realçou a proximidade que tem com quem agora me substitui e te faz feliz. Estar seguro em dizer que me ama e chamar de “coisa linda” mostra sua superação. Afinal, quem está com o novo só goza de certa culpa e receio em declarar amor ao antigo quando ainda sente o mesmo por ele.

Seu “eu te amo” carnal, sexual, pulsante e forte tem novo destino. Para mim, restou o “eu te amo” puro, limpo, sem tantos altos e baixos. O “eu te amo” comum que, fragmentado forma a viga que separa meu fogo da sua deliciosa faísca. À la Clarice, sinto que minhas palavras agora deslizam sobre ti, mas não te penetram.

Antes, surgia em mim a vontade de retornar ao papel depois do tempo de descanso. Dançar com o lápis as palavras mais bonitas para dar continuidade no que tanto me fez bem. Mas é preciso usar ponto final. E, apesar de tudo, agradecer por não precisar rasgar a folha.

Retorno para o frenético dedilhar e ao incômodo silêncio já comum aos meus ouvidos. Mas volto satisfeito. Suas mensagens não são mais as mesmas, em compensação, minha dor pela sua ausência também não.