Tempestade

Quando o tempo voava alucinante como um raio que atravessa o horizonte, eram teus carinhos que me traziam conforto para o peito. Hoje o tempo, vilão da existência, senhor que consome o ser na escuridão de dias sombrios, é tua ausência que impede a luz de entrar.

Quando havia os encantos passageiros do canto dos pássaros numa tarde quente de verão, eram teus beijos que matavam minha sede.

Já não escuto os pássaros cantar, nem mesmo sinto aquela sede incessante que provocava a alma até se satisfazer.

Minha dependência crônica de ti tornou- se uma vontade incontrolável de habitar na lama onde minha alma se esconde.

Foge da vida para não lembrar do passado. Mergulha num infinito abismo de indiferença. Aceita a podridão do corpo se desfazendo em versos medíocres, em versões ultrapassadas de mim.

E assim me torno a sombra do que fui. Vou com o vento percorrendo lugares que desconheço.

Ainda preso, essa corrente me traz de volta ao pesadelo que tento fugir e o vento não leva.

Nessa hora já vivo embriagado no esquecimento do sentir e anestesiado procuro refúgio nas lembranças que um dia me fizeram sorrir.

A tempestade que me fez ultrapassar os limites da razão, agora me deixa solitário num parque sem vida.

Sem rosas para oferecer, dou parte do sofrimento que habita uma alma cansada.

Das cores torno todas cinza novamente e meu arco-iris desapareceu quando adormeci já sem sonho nenhum.