Apaixonados por histórias

Somos todos apaixonados pelas nossas histórias, o que não é de todo mal, posto que elas são parte do que somos e querer nos livrar delas é o mesmo que decretar-nos a triste sentença de vivermos fragmentados.

Porém, vivermos apaixonados por elas é o mesmo que querer passar o resto da vida acorrentados a algo que, ás vezes,nos impede de arriscar em novas aventuras, em histórias que seriam igualmente importantes.

Nós carregamos essas histórias porque necessitamos da presença delas e para tanto falamos sobre elas com as pessoas.

O interessante é que essas histórias, quando contadas, carregam palavras vestidas com roupa de festa, são histórias importantes e não podem ser contadas de qualquer jeito...e então acabam não sendo apenas “um encontro casual na fila do banco”, mas sim “um momento mágico de reencontro entre duas pessoas que aparentavam se conhecer a vida toda”.

Existe uma teimosia, um pensamento de que a história é bonita, é mágica, enfim, pode até ser tudo isso, mas o fato é que essa história já foi, ACABOU pra sempre e agora é só lembrança.

Não, não dá pra retomar, porque de hoje em diante seria outra história e não mais “aquela” história.

Existe uma forma de saber se estamos apaixonados pela história ou pela pessoa em si, basta descontextualizar a pessoa, pensar nela e só, desligando-a da história.

Por que a pessoa pura e simplesmente já não tem tanto valor, é difícil nos imaginar com ela, o que queremos é a história, uma história impossível de ser vivenciada novamente pelo simples fato de que os protagonistas “daquela” história já não existem mais.

Hoje, eu, você, ele ou ela somos outras pessoas e podemos protagonizar inúmeras outras histórias igualmente belas, mas “aquelas” que insistimos, que queremos de qualquer jeito, igual crianças birrentas...essas histórias NUNCA MAIS.

Elas nos imprimem uma marca sim e é difícil desapegar, separar, esquecer, querer deixar para trás.

Nós temos a necessidade de perguntar tanta coisa. Mas não estamos preparados para ouvir as respostas.

Queremos saber o porquê de tudo, saber se ainda..., saber se não..., se sim... se foi...ou se será.

Mas não passa pela nossa cabeça ouvir um “esquece isso porque não teve importância” ou “do que você está falando?”

Tudo o que queremos é sentir que tudo foi importante não só para nós, que nossa história não foi protagonizada apenas por nós e nossas doces (talvez amargas) ilusões, e que “o outro” existiu de fato nessa história participando dela por vontade própria.

O pensamento do “como seria se...” impregna os pensamentos juntamente com as inúmeras possibilidades, porque quando tudo está apenas no nosso imaginário é tão bonito, é tão perfeito e igualmente impossível e definitivamente irreal.

E todo mundo que se apega a essas histórias sempre diz que elas foram mal acabadas e por isso sobrevivem, mas eu acho que pessoas que rotulam suas histórias como “mal acabadas” querem sempre um gancho para a continuação delas porque pensar assim é mais fácil, acaba tornando mais viável uma retomada dessa história que, no fundo acabou sim, exatamente no momento em que acabou, e nós sabemos quando foi isso, embora não admitamos.

O fato é que as histórias acabam, embora se repitam e se repetem tanto, mas mesmo assim conseguem ser tão diferentes cada vez que se repetem e tão doloridas cada vez que acabam.

Talvez o mais difícil seja compreender que essas histórias valem (e valem muito), mas as pessoas nem tanto...

Thaysa Moreira de Assis
Enviado por Thaysa Moreira de Assis em 16/09/2007
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