Aniversário
Olha, dá-me a tua mão, não deixa que nada estrague este momento. Teu peito é uma encosta relvada dos Campos Elíseos. Teus braços são as duas margens do Lete, eu me esqueço até mesmo de quem sou, de quem tu és, quando me abraças...
Te chamo "meu amor" sem que minh'alma se aperceba e depois, mais uma vez e tu te fechas como uma ostra em sua concha, e fica a angústia, a minha, a tua, a sem pessoa que vive entre nós...
Vai para longe de mim. Leva teu barco aonde os ventos da minha tristeza não o alcancem e venham a molhar suas velas. Meu peso é grande por demais e tu, menino encantado, tu és leve como uma pétala e não deves ver o teu reflexo no espelho da minha dor.
Tu não entendes, diamante de três faces. Que olhos os teus... Negros como o Estige, abissais como o Aqueronte... Como os rios infernais, carregam minha alma sem esperança de regresso.
Contemplá-los é descer ao Tártaro e tu não sabes, nunca saberás.
Ó, impossível. Dá-me do teu carinho, mas não permite que eu o roube.
Posso roubar tudo de ti. A noite líquida dos teus olhos, a tua leveza de pássaro, o instante livre de angústia que há pouco repousava em teu ser.
Observa-me. Mas de longe. Não suporto proximidades.
Destruir é meu dom.
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 15/01/2019
Reeditado em 07/07/2019
Código do texto: T6551523
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.