Ainda Brumadinho

Sempre que ocorre uma tragédia, há uma busca frenética, irracional, pelos culpados, e os apontados - é infalível - nunca é uma pessoa, ou várias delas, mas uma abstração, um sistema de pensamento, uma instituição, ou a corrupção. Há um embate, agora, para se apontar os culpados pelo desastre em Brumadinho, e não poucas pessoas, inspiradas por uma ideologia, mesmo sem o saber, estão, sem uma razão plausível, a enquadrar a ideologia oposta, impelidas, unicamente, por rejeição a ela, inexplicável. É puro automatismo. Os socialistas culpam o capitalismo, cujos agentes, egoístas, desumanos, só pensam no lucro, e os liberais atacam o Estado, cujos membros são burocratas incompetentes e corruptos. Nem os socialistas, tampouco os liberais, esquadrinham os fatos, revelam vontade de conhecer a realidade; apontam, de imediato, o dedo acusador ao sistema oposto. Tal expediente, em tal ânsia justiceira, atende, não ao correto senso de justiça, mas ao desejo, mesmo que inconsciente, de dar-se ares de exclusiva superioridade moral, ao de emprestar à ideologia que defende poderes para solucionar todos os problemas do mundo, e ao de aniquilar os que subscrevem a, assim entendem, ideologia oposta, a qual, consequentemente, é vista como um flagelo. Condenam os socialistas a Vale do Rio Doce, empresa privada - mas eles esquecem que cabe ao Estado brasileiro a fiscalização das barragens; condenam os liberais a ineficiência do Estado em fiscalizar - mas eles esquecem que são os empresários que investem nas barragens. A responsabilidade, portanto, está nas mãos, não de abstrações, o Capitalismo e o Socialismo, o Mercado e o Estado, mas de pessoas que ocupam, umas, cargos na alta hierarquia de empresas privadas, outras, nas instituições estatais. Em sua ira justiceira, irracional, irrealista, imputando o crime a um sistema de pensamento, à uma ideologia, à uma abstração, os justiceiros favorecerão as pessoas que falharam em seus deveres, afinal não miram na justiça; querem apenas, para usar uma expressão da moda, lacrar.

Ilustre Desconhecido
Enviado por Ilustre Desconhecido em 27/01/2019
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