__________A TRAGÉDIA (ANUNCIADA) DE BRUMADINHO

 
Era pouco mais de uma da tarde, da sexta-feira de 25 de janeiro, quando vieram as primeiras notícias sobre o rompimento da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho-MG. Num primeiro momento, pessoas que estavam no local, entre frases entrecortadas e confusas, diziam sobre a destruição: a lama tinha devastado tudo que havia por ali, invadindo, inclusive, a parte administrativa da empresa Vale e o refeitório onde muitos trabalhadores se encontravam em horário de almoço. Nas proximidades, uma pousada também havia desaparecido por completo.

Com as primeiras informações, as imagens mostravam um lugar coberto por extenso lamaçal, e pela confusão do primeiro momento era difícil compreender com exatidão o que se passava, mesmo porque quem relatava, se encontrava naturalmente sob forte comoção. Mais tarde, foi possível se avaliar a dimensão da tragédia: não era um simples acidente, mas um desastre de proporções grandiosas.

No sábado, as mídias se voltaram em especial para o acontecimento que chocou a região de Brumadinho, Minas, o Brasil e o Mundo. Uma catástrofe de grande repercussão, desta vez não só pelos danos ambientais, mas principalmente pelas perdas humanas: muitos mortos e feridos, e uma dolorosa lista de desaparecidos — causa arrepios o que ainda está por vir. É assustador pensar que sob aquele mar de lama, muitas vidas estão agora sepultadas, sem terem podido sequer entender todo o horror recaído sobre elas.

Posteriormente, vi o anúncio publicitário da pousada que havia no lugar, a mesma que o primeiro vídeo relatava ter desaparecido. A pousada, segundo informações, pertencia a um conhecido empresário e classificava-se como de alto padrão. Ao ver as imagens anteriores à tragédia, uma sensação de incredulidade me tomou: o local era realmente magnífico, com acomodações maravilhosas, piscinas, restaurante, áreas de lazer, recintos para descanso, tudo cercado por um paisagismo que encantaria qualquer turista. Para além das imediações da pousada, a vista descambava para as belezas naturais das cercanias, mostrando os belos cenários dos montes de Minas...Tudo agora irremediavelmente varrido do mapa.

É difícil crer que tudo que havia no exato lugar daquela pousada dos sonhos, sedimenta-se agora sob o peso das espessas camadas de lama, inclusive — e supostamente — os donos e funcionários que ali se encontravam, na hora do sinistro acontecimento. É difícil crer, que o poder absoluto dos rejeitos que desceram da barragem e devastaram tudo pela frente, tivessem todo aquele poder destruidor. Mas, infelizmente, era mesmo um poder descomunal. Pegas de surpresa, muitas pessoas nem tiveram tempo de escapar da avalanche marrom e lamacenta — digna de um filme de terror — que fez emergir em tempo recorde um grande cemitério a céu aberto.

Inenarrável é a sensação que nos toma, indescritível é a certeza de que a vida humana pouco vale quando a ganância atropela e avassala, na corrida pelo lucro, pelo poder, pelo dinheiro. E não há multa bilionária que pague o sacrifício de tantas vidas, de tantos sonhos. Pior é saber que a tragédia de Brumadinho não foi a primeira, nem será a última, pois o lema desde a tragédia de novembro de 2015, era “Mariana nunca mais”. Pena que o “nunca mais” tenha durado tão pouco. Da tragédia anterior, não se tirou nenhum aprendizado, e a lição “aprender com o erro”, de nada valeu. Se nesta vida, o que vale é o que dela se leva, nem todos parecem pensar assim, pelo menos a VALE — e muitas autoridades que governam esse nosso País de forma leviana e inconsequente — sabemos que não.

Marina Alves