COMPANHEIRA DE VIAGEM

É sempre grande a expectativa em conhecermos nossa companhia por horas e horas de viagem, e nem sempre a surpresa é agradável, considerando-se que nas viagens de dia há grande possibilidade de haver mais barulho, pois há aquela impaciência das crianças pulando nas poltronas, pessoas abrindo e fechando sacolas, idas ao banheiro. Viagem é sempre uma aventura.

Desconhecidos são sempre interessantes, e eu que aprecio uma boa conversa, fiquei observando minha companheira de viagem, uma senhora que desajeitadamente colocava suas malas no bagageiro acima de mim. Cumprimentou-me com um sorriso e jogou-se na poltrona. Imediatamente gostei dela e iniciamos uma conversa que, anos depois, consolidaria minha opinião de que atraímos pessoas semelhantes a nós.

Uma senhora, de no máximo 70 anos, que possivelmente não mais a veria, mas que tratou-me como uma amiga íntima. Todo um passado foi colocado diante de mim. Ficara viúva muito jovem, seus filhos agora crescidos e casados viviam no Rio de Janeiro, que era o destino de nossa viagem. Morava sozinha num sobrado, numa pequena cidade do interior do Espírito Santo. É como se o tempo não tivesse atingido aquela mulher, tamanha alegria e disposição para o relato de acontecimentos tão rotineiros, mas que contados por ela tornava-se uma narrativa incomum, que poderia ser ouvida várias vezes sem cansaço.

Por um momento senti que todo o ônibus calou-se para ouvir nossa descontraída conversa. O que seria uma viagem de paisagens e pensamentos, era agora uma história gostosa e envolvente. Sua visita à cidade maravilhosa era curta, pois não gostava de se ausentar de sua casa por muito tempo. Queria pouco da vida, um lugar, um céu, o sorriso dos filhos e os abraços dos netos no Natal. Combinamos um reencontro em outra viagem, mas a vida não quis.

Bom seria termos sempre boas companhias em nossas viagens e, principalmente, nas viagens da vida. O mais importante, creio, é sermos boas companhias em qualquer situação, alegrando sempre o coração de quem estiver ao nosso lado.

Aquela senhora que sentou-se ao meu lado foi um exemplo de alegria contagiante. Eu não mais a vi, mas a sua lembrança está viva no meu pensamento. A sua beleza me acompanha pela vida e minha viagem continua.

Cláudia Sabadini
Enviado por Cláudia Sabadini em 31/10/2005
Reeditado em 03/01/2024
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