Tributo à Professorinha

Neste domingo, em homenagem às professoras, inclusive à minha esposa, Dona Nice, que foi professorinha (com muito orgulho e idealismo) durante 25 anos, transcrevo um texto, divulgado pela revista Nova Escola em 1994:

MINHA PRIMEIRA PROFESSORA

Paulo Freire

A primeira presença em meu aprendizado escolar que me causou impacto, e causa até hoje, foi uma jovem profssorinha. É claro que uso esse termo, profssorinha, com muito afeto. Chamava-se Eunice Vasconcelos(1909 - l977), e foi com ela que aprendi a fazer o que chamava de "sentenças".

Eu não sabia lere escrever quando chegueià escolinha partcicular de Eunice, aos 6 anos. Era, portanto, a década de 20. Eu havia sido alfabetizado em casa, pr minha mãe e meu pai, durante uma infância marcada por dificuldades financeiras. mas também por muita harmonia familiar. Minha alfabetizaação nao me foi nada enfadonha, porque partiu de palavrase frases ligadas à minha experiência, escritas com gravetos no chão de terrado quintal.

Nao houve ruptura algua entre o novo mundo que era aescolinha de Eunice e o mundo das minhas primeiras experiências- o de minha velha casa do Recife, onde nasci, com suas salas, seu terraço, seu quintal cheio de árvores frondosas. A minha alegria de viver que me marca até hoje, se transferia de casa para a escola, ainda que cada auma tivesse suas caracteristicas especiais. Isso porque a escola de Eunice não me amedrontava, não tolhia a minha curiosidade.

Quando Eunice me ensinou era uma meninota, uma joveniznha de seus 16, 17 anos. Sem que eu ainda percebesse, ela me fez o primeiro chamamento com relação a uma indiscutível amorosidadeque eu tenho hoje, e desde há muito tempo, pelos pproblemasda linguagem e partcularmente os da linguagem brasileira, a chamada língua portuguesa no Brasil. Ela com certeza não me disse, mas é como se tivesse dito a mim, ainda criança pequena: "Paulo, repara bem como é bonita a maneira que a gente tem de falar!..". É coo se ela me tivesse chamado.

Eu me enyregava com prazer à tarefa de "formar sentenças". Era assim que ela costumava dizer. Eunice me pdiu que colocasse numa folha de papel tantas palavras quantas eu conhecesse. Eu ia dando forma às sentenças com essas palavras que eu escolhiae escrevia. Então, Eunice debatia comigo o sentido, o significado de cada auma.

Fui criando naturalmente uma intimidadee um gosto com as ocorrências da lingua - os verbos, seus modos, seus tempos...A professorinha so intervinha quando eu me via e dificuldade, mas nunca tevea preocupação de me fazer decorar regras gramaticais.

Mais arde ficamos amigos. Mantive u contato próximo com ela, sua família, sua irmã Débora, at´o golpe de 1964. Eu fui para o exílio e, de lá, me correspondia com Eunice. Tenho impressão de que durante dois anos ou três mandei cartas para ela. Eunice ficava muito contente.

Não se casou. Talvez isso teha alguma relação com a abnegaçãoe amorosidadeqe a gente tem pela docência. E talvez ela tenha agidoum pouco como eu: ao fazer a docência, meio da minha vida.eu termino transformando a adocência no fim da minha vida.

Eunice foi professora do Estado, seaosentou, levou uma vida bem normal. Depois morreu em 1977, eu ainda no exílio. Hoje, a presença dela são saudadss, são lembranças vivas. Me faz até lembrar daquela músicaantiga, do Ataulfo Alves: "Ai que saudade da professorinha,que me ensimou o bê-á-bá.

P.S. Paulo Freire é o Patrono d Eucação no Brasil que o atual governo que cassar do curr´culo dasescolas, colégos e faculdades. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 03/02/2019
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