Poema Porreta de Jorge Amado

Infelizmente hoje a literatura está em baixa, principalmente a poesia. Um retrocesso trágico e abissal.

Lembro que quandeo adolescente havia naa escolas e ginásios até concurso de declamação de poesias. Ficava roendo porque não podia participar mesmo sabendo decorado vários poemas. Motivo: a voz horrível, a timidez e a absoluta falta de expressão verbal (para declamar não basta repetir o texto do poema, hpa que se gesticular). Ainda sinto essa frustração, na linguagem oral sou uma nulidade, incapaz de contar até uma piada.

Mas eu tinha algumas amigas e amigos que eram o cão chupando manga na arte da declamção. Sempre recordo um causo arretado num concurso de declamação que houve no ginásio, no salão nobre. Ele reuniu alunos do ginásio dos padres e moças do ginásico das freiras, além dos religiosose religiosas havia os professores e as chamadas pessoas "gradas" (detesto essa palavra) da sociedade.

A comissão julgadora era composto de professores e religiosos. Começou a disputa. Uma moça declamou A Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, foi muito aplaudida; um rapaz um trecho do Navo Negreiro, outra Cecília Meireles, um carinha foi de Augusto dos Anjos, até que chegou a vez de um amigo muito gozador e biriteiro, unha e carne comigo, exclente declamador, fazia muitas mungangas para declamar. Ele subiu ao palco improvisado e afirmou que iria declamar um dos mais importantes poemas brasileiros da autoria de Jorge Amado. Os religiosos ficaram logo temerosos, cochichando uns para os outros, afinal o baiano não era bem visto pela religião. O amigo declamou O Poema da Mulata Desconhecida:

"Eu canto a mulataos freges/ De São Sebastião do Rio de Janeiro...// A mulata cor de canela,/ que tem tradições,/ que tem vaidade,/ que tem bondade,/ (essa bondade/ que faz com que ela abra/ suas coxas morenas,/ fortes,/ serenas,/ para a satisfação dos instintos insatisfeitos/ dos poetas pobres/ e dos estudantes vagabundos)./ / É entre essas coxas sadias/ que repousa o futuro da Pátria./ Daí sairá uma raça forte,/ triste,/ burra,/ indomável,/ ms profundaente grande./ porque grandemente natural,/ toda sensualidade.// Por isso cheirosa mulata/ do meu Brasil africano/ (o Brasil é um pedaço da África,/ que migrou para a América)./ nunca deixes de abrir as coxas/ ao instinto insatisfeito/ dos poetas pobres/ e dos estudantes vagabundos,/ nessas noites mornas do Brasil,/ quando há muias estrelas no céu e muito desejo na terra".

Desnecessário dizer do rebu que provocou. Os religiosos e religiosos de cenho franzido fazendo o sinal da cruz, as betas xingando, até um beatãoprofessor de latim gritou que o poema era invnção de subversivo que Jorge Amado nunca tinha escrito tal poema. O declamador sacou o livro (estava debaixo da camisa) "O País do Carnaval", abriu na página do poema e esfregou na cara do beatão. Houve palmas, mas, claro, o carinha não venceu o concurso. Mas ficou na istória da cidade. Ainda hoje quando nos encontramos ele declama o poema. E acrescenta: - Você foi quem teve a idéia e eu paguei pela má fama.

Sinceramente adoroesse poema, sei que não é uma poesia comme il faut , mas teve o dom de estarrecer os beatos e beatas. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 05/02/2019
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