Retornar é Preciso VI

Quem promete, deve. Tenho cumprindo esta máxima, ao prometer enviar-lhe capítulos do meu livro recém-concluído, sob o título Retornar é Preciso. Espero não lhe importunar com a frequência dos meus e-mails. Considero você um amigo complacente, pois não?

Paris II

Palácio de Versalhes

Em tarde bastante ensolarada, visitamos o Palácio Real de Versalhes, de reconhecida exuberância. O edifício dispõe de 2.153 janelas, 67 escadas, 352 chaminés, 700 quartos e 1.250 passagens laterais. Por tudo que representa, recebeu da UNESCO o título de Patrimônio Mundial da Humanidade. Trata-se de um dos maiores palácios do mundo e o mais visitado da Europa. Em 2017, recebeu a visita de 8 milhões de turistas. Esse número cresce anualmente.

A fila de interessados em conhecê-lo internamente era enorme. Homens, mulheres, adolescentes e crianças expunham-se ao sol forte à espera da vez por ordem de chegada. Assim, aguardamos a hora de adentrar as dependências reais, ciceroneados por excelente guia turístico.

A construção do palácio teve início em 1669, por iniciativa do rei Luís XIV, chamado de O Grande e de Rei Sol. Luís XIV nasceu em 5 de setembro de 1638. Sua coroação ocorreu no ano de 1654. Até sua morte, em 1 de setembro de 1715, governou a França por 61 anos. A corte estabeleceu-se nas dependências de Versalhes no dia 6 de maio de 1682.

Percorremos deslumbrantes espaços, ricamente ornamentados com telas, esculturas, móveis épicos de variados estilos, ricos objetos confeccionados em bronze, louça e cristal... Tais itens, produzidos por mãos habilidosas e geniais, compõem a faustosa decoração dos ambientes reais. Ali, abundam a beleza e a ostentação.

A seguir, citarei alguns dos sublimes recantos visitados em nossa peregrinação pelo Palácio de Versalhes. Ei-los, portanto:

O Grande Aposento do Rei, decorado segundo o requinte dos palácios italianos que lhe serviram de inspiração, era o lugar no qual Sua Majestade, o rei Luís XIV, exercia suas funções monárquicas. Os sete salões do aposento real contemplam iluminação natural, propiciada por grandes janelas instaladas nos idos de 1670. Esse requintado espaço compõe-se do quarto de dormir ou antecâmara, sala da guarda e gabinete destinado à realização de atos oficiais. Ficava aberto durante o dia para receber franceses e estrangeiros desejosos de ver o rei quando se dirigia à capela. Três vezes por semana, animados serões descontraiam a corte com a execução de músicas e a realização de danças e de jogos recreativos.

O Grande Aposento da Rainha assemelha-se ao do rei. Pouco lhe deve em espaço e suntuosidade. Compõe-se de quarto de dormir, sala dos guardas e duas outras dependências, em uma das quais Sua Majestade, a rainha, fazia refeições acompanhada à mesa por futuros herdeiros do trono, os Delfins e Delfinas. Distantes, nobres da corte acompanhavam o degustar das iguarias reais, sem, contudo, prová-las. Alguns ficavam sentados e outros em pé.

A sala dos guardas, ocupada por doze guardiões, zelavam dia e noite pela segurança de Sua Alteza. Nesse local, as rainhas consortes davam à luz, em público. Dezenove membros da realeza nasceram ali.

O Salão de Hércules, criado no reinado de Luís XIV, foi decorado em 1712 com o quadro denominado Ceia na Casa de Simão, de autoria de Veronese, datado de 1570. A construção do Salão de Hércules, interrompida por dez anos, somente foi inaugurada em 1736.

Contemplamos o luxo dos salões da Abundância, de Vênus, de Diana, de Marte, de Mercúrio, de Apolo, da Paz... E de tantos outros que a memória envelhecida não me permite lembrá-los para descrevê-los ao atento leitor.

Estivemos nas dependências da Capela Real, inaugurada em 1710, onde a corte assistia à missa diária. O rei participava das solenidades cristãs da tribuna real, enquanto os súditos o faziam acomodados nas naves laterais do templo.

Na Galeria dos Espelhos, ambiente de 73 metros de extensão, 357 grandes espelhos revestem as paredes laterais. Os tetos abobadados contemplam grandes e bem concebidas gravuras, representativas das vitórias do rei Luís XIV em suas demandas contra os reis da Holanda, Alemanha e Espanha...

Por todos os majestosos espaços físicos percorridos no Palácio de Versalhes, admiramos uma profusão de belas gravuras dispostas nas abóbadas das partes superiores dos respectivos recintos. Nas paredes laterais, veem-se dezenas de telas de variados motivos e tamanhos, enquanto os assoalhos encontram-se repletos de móveis épicos e estilosos, distribuídos harmoniosamente. Grandes lustres de cristal pendem dos tetos decorados com variada motivação.

Vimos mais no interior do palácio. Restrinjo-me ao que escrevi, motivado por falhas de memória e pela ausência de apontamentos suficientes. Penitencio-me, pois, por não descrevê-los mais extensamente. Agora, falarei de nossa peregrinação pelos jardins de Versalhes.

***

Jardins de Versalhes

Em ensolarada tarde do mês de julho de 2018, percorremos parte dos maravilhosos jardins de Versalhes. A natureza, em todo o seu esplendor, e a arte, expressa na genialidade de cada artífice, associaram-se para nos oferecer momentos de inesquecível contemplação.

Por todo o jardim, constituído de 700 hectares, vimos abundantes espaços ocupados por alamedas, bosques, lagos, árvores, plantas de diversas espécies e tamanhos, esculturas e muita história. Percorremos os mais interessantes lugares dos extensos jardins. Eis o que me disponho a descrever, baseado em minhas observações:

O Lago de Latona foi um dos primeiros lugares visitados por nosso grupo familiar. Nos anos de 1687 a 1689, o lago original, concebido em 1670, foi modificado pelo paisagista Jules Hardouin-Mansart, deixando-o com as configurações atuais. À sua frente, em espaço ajardinado, existem dois pequenos lagos, um à direita e outro à esquerda, denominados Lagos dos Lagartos. No centro do lago principal, uma escultura da lavra de Gaspard e Balthasar Marsy, produzida entre os anos de 1668 e 1671, representa a deusa Latona e seus filhos.

O nome Latona foi herdado de uma lenda da obra Metamorfoses, de autoria de Públio Ovídio Naso, poeta romano nascido em Sulmona, Itália, no ano 43 a.C. Segundo essa lenda, Latona, mãe de Apolo, a fim de proteger seus filhos contra ações de camponeses, pediu a Júpiter, deus do dia e pai de Marte, que a vingasse. Em resposta às suas preces, Apolo transformou os agressores dos filhos de Latona em rãs e lagartos.

O atual Lago de Apolo, planejado e executado por André Le Nôtre, é substituto de outro existente no local, denominado Lago dos Cisnes. Por ordem do rei Luís XIV, verificou-se a reforma e ampliação do antigo lago, resultando esse maravilhoso espaço aquático. Nele, o deus Apolo dirige uma carruagem puxada por quatro magníficos corcéis esculpidos em bronze dourado. O autor dessa magnífica obra foi Jean-Batiste Tuby, nascido em Roma, em 1635 e falecido em Paris, em 1700.

Visitamos outros locais dos jardins e do parque de Versalhes, sobre os quais não farei comentários detalhados. Citá-los-ei apenas nominalmente, em face da limitação do espaço editorial. Foram eles: Jardim de Água, Alameda Real, Lago das Ninfas, Lago do Dragão, Lago de Netuno, Orangerie (laranjal), Alameda de Baco e de Saturno, Bosque da Rainha, Bosque das Cúpulas... Ah, basta! Cansei de nominá-los. Imagine leitor, quanto exaustivo é percorrer todos aqueles espaços, a pé, em ensolarada tarde do verão europeu.

***

Até o final desta semana, enviarei ao leitor mais detalhes de nossa visita à Paris. Aguarde!