De repente tinha Pirapora no meio do caminho
 
Em Pirapora, o rio São Francisco é soberanamente belo e dominante. Faz-nos refletir, vendo-o a correr, que a vida é efêmera. Sem nenhum escrúpulo, apodera-se da cidade, bem como de Buritizeiros, que fica do outro lado, reduzindo-as quase à insignificância.

O porto está numa longa avenida pavimentada com paralelepípedos, repleto de barcaças tristemente abandonadas, onde me inclinei sobre a mureta para apreciá-lo. Olhando o São Francisco, comecei a pensar que há cidades e estados que têm a cara do Brasil.

Esta ideia de que Minas é o traço de união do país, identidade e continuidade, é bem característica em Pirapora. É como se fosse uma mãe, em cuja ausência toda a família se aniquila. Uma cidade à beira de um rio-símbolo, que contém alguns dos retalhos deste complexo estado, deve ser vista deste modo.

Não é uma cidade que a gente deva conhecer em dias de festa, no meio daquela confusão de turistas predadores. Eu estava, pois, na melhor posição para conhecer a cidade: numa linda tarde mormacenta de meio de semana, junto de seus mais autênticos moradores, entre os quais se incluíam alguns "estrangeiros" que se apaixonaram por ela e, enquanto podiam, ficavam por lá. A tarde estava muito quente e só se tornava suportável por causa da brisa que soprava do rio.

Diferentemente do que Corinto me sugeriu, em Pirapora triunfa a natureza, sem nenhuma competição. A cidade não tem o poder de invadi-la ou de perpassá-la, por isso se integra a ela; quando muito, a natureza admite certas modificações, sem perder a soberania. É permissiva com sua gente, com suas árvores exóticas e com tudo aquilo que as pessoas criaram pensando tornar mais agradável o seu viver. Mas é uma invasão pacífica e sem intromissão, plena de delicadezas.

Viajando pelas margens do São Francisco certamente não se encontra nada tão sedutor quanto Pirapora!