Escravos numéricos.

As pessoas nascem, começam a engatinhar, andam, falam e logo estarão indo para a escola. Lá, conhecerão novos amigos, novas experiências, aprenderão a ler e terão o seu primeiro contato com algo que mudará todos os seus conceitos para sempre: os números. Algumas terão mais dificuldades em compreendê-los, outras nem tanto. Mas o fato é que a partir desta fase da vida, tudo o que existe girará ao redor deles.

Passamos a deixar de dar peso aquelas coisas simples, mas que realmente são mais importantes e em contrapartida damos mais valor aos benditos números. Quando conhecemos algum novo amigo, relembre as suas primeiras perguntas... Elas geralmente têm algum teor numérico: ‘Quantos anos você tem?’, ‘Qual a sua altura?’, ‘Quantos irmãos possui?’, ‘Cursa qual ano da faculdade?’, ‘Qual o número do seu celular?’, ‘Quanto seu pai ganha?’, ‘Qual nota você dá pra mim?’. É fato.

Por mais que saibamos que essas tolas indagações não são as principais, continuamos persistindo em números. Damos a eles valores superiores aos que deveriam ter. Deixamos com isso de dar alta relevância a outros fatores primordiais, e fixamos nosso pensamento nessas ‘metas’. Nos acostumamos e tentamos ser como uma grande empresa, limitada sempre em demonstrar através de números e mais números, o quanto é próspera e sólida. Ignoramos o fato de que por de trás dessas gravatinhas e roupas sociais existe uma pessoa que enquanto desconhecia esse universo numérico, dava mais importância a coisas simples. Gostava de experimentar as coisas mais diversificadas possíveis, aprendia que a cada dia era possível aprender e reaprender muitas coisas, sentia a necessidade de ter carinho materno, adorava andar descalço no quintal da vovó e amava toda aquela selva que os adultos insistiam em chamar de jardim.

Então, imagine que você cresça sem conhecer os números. Teoricamente seria capaz de não dar mais tanta importância para eles, certo? Errado! A não ser que queiramos regredir à épocas muito antigas. Eles, involuntariamente, são indispensáveis e até certo ponto amigáveis. Foi você quem os deu super poderes.

Não tenho uma teoria-pessoal formada sobre como isso pôde ter acontecido, só uma breve discussão que se resume em traumas infantis, sabe aquela sabatina que levou você a levar alguns bolos da tia? Pois é, essa mania por números pode ter vindo de lá. Nada muito científico, somente empírico.

E antes que os números possam tomar conta de toda a sua vida, repense naquelas perguntas, com teor numérico, e ao invés delas tente estas: ‘O som da voz é sempre assim?’ , ‘Qual o seu sorvete preferido?’, ‘Você coleciona borboletas?’, ‘Você realmente ama a sua faculdade?’, ‘Você curte qual tipo de música?’. Ou corra o risco de se tornar escravo dos números e ter como nome dos seus futuros filhos algo como 12 ou 57.