Um texto triste demais para ser lido sem café
Eu levei tempo demais para entender que tudo que eu fiz durante toda essa vida, foi destruir a base do amor que vem naturalmente junto com a gente e os líquidos da placenta da nossa mãe, porque não é ele o cara que sente a dor, mas é ele o cara mais ansioso do mundo pra conhecer o nosso rosto, esperando lá fora. Dentro do corpo de um homem adulto, habita um garoto doido para agarrar a joia que Deus acabou de mandar para ele. Triste o fato de nunca ter conseguido enxergar isso enquanto estava perto, mesmo que agora a gente se fale ao telefone as vezes, dê risada, relembre brincadeiras (raras) do passado. É o meu velho e eterno me mostrando o quão próximo do efêmero ele se encontra. Por que eu tinha que demorar tanto para descobrir?
Mas nem todas as lágrimas reunidas numa sexta à noite, ou pelo resto dos próximos dias da vida, pareciam ser suficientes para me redimir de toda a dor que causei ao meu pai e de todo o ódio que eu já disse sentir dele, mesmo sendo mentira.
E mesmo sabendo que já era hora de seguir em frente.
- Nós já nos perdoamos! - ele disse.
E não era isso que as rugas embaixo dos olhos, no queixo e pescoço dele, me diziam. Para sempre depois dali, minha maior punição seriam os anos cruéis refletidos na retina do meu pai. Até o dia em que eu não pudesse mais ver a cor dos olhos dele. Ou até depois disso...