PAÍS ESTRANHO ESSE NOSSO!

Tenho, há anos, a sensação de estar parado; eu e nós, os brasileiros. O Brasil parece estar eternamente estacionado; nós, brasileiros e brasileiras, estamos inertes, porém apreciando a paisagem, sempre, com moderação.Deixem a vida nos levar! No final tudo vai dar certo porque é o jeito. Fazer o que? São as explicações que mais ouço.

Quando os portugueses deram uma passadinha por aqui, para marcar presença,e voltar à rota de navegação para a Índia pela segunda vez, deixaram 2 degredados e mais 2 grumetes. Esses ficaram porque quiseram, ou, sabe lá Tupã por que outras razões. Os degredados não; eles foram obrigados a ficar aqui para confirmar o conteúdo da carta que Pero Vaz Caminha escreveu e mandou pra o rei D. Manuel pelo “navio dos mantimentos” (!). Os portugueses retornaram a Vera Cruz somente 50 anos depois para então tentar estabelecer uma colônia. Esse foi nosso começo. O início de nossa atual formação como povo. Não digo que esse quarteto luso sem eira nem beira que aqui ficou nos idos do ano de 1500, seja o responsável por nosso eterno subdesenvolvimento e nossa irremovível crença de que somos o país do futuro, dado seu perfil curricular. A Austrália foi colonizada por gente da pior espécie e, no entanto, parece que vai indo muito bem. Nós, nosso país, não é pior nem melhor do que nenhum outro. Pensamos assim. O que somos, então? Somos estranhos.

A corrupção é geral e tem tudo pra ser uma praga porque se espalhou por toda a nação e está viva e ativa em todos os setores da sociedade. A corrupção, é uma espécie de “entidade perfeita”, por que composta por corruptores e corruptíveis, os corruptos, torna-se indestrutível. Os corruptos amparam-se nos mesmos desejos; de levar alguma vantagem enganando e fraudando. Assim se completam e um não existe, jamais, sem o outro. São criminosos, porém, do primeiro grau na lista de trambiques e jogadinhas menores. Afinal, quem não quer tirar uma casquinha? Uma vantagenzinha que seja. Um desconto, um prazo maior, um pedaço maior de qualquer coisa dá a sensação de vitória. Sensação de ser mais experto; talvez, quem sabe, mais inteligente. Se der pra enganar no troco, beleza! Se der pra enganar no peso, jóia! Se der pra aumentar alguns centavos na conta da energia elétrica, do telefone, da água....de milhões de contas mensais, quem vai se importar? São apenas alguns centavos que não valem uma reclamação. Pagamos para não sermos incomodados e quem nos rouba sabe muito bem disso.

Vantagem.

Nos idos dos anos em que generais mandavam “nesçe pahíz”, um publicitário utilizou como tema para a campanha de propaganda de uma marca de cigarro, uma frase que saiu do inconsciente coletivo contido nele. E, como se faz na propaganda, colocou na boca de alguém famoso. O “canhotinha” da seleção brasileira de futebol do ano do tri Campeonato Mundial, o Gerson, foi a vítima. E foi execrado pela intelectualidade de esquerda da época, que se pensava politicamente correta. Não sei se aumentou a venda de cigarros com aquela campanha de propaganda, mas o tema proposto fui um sucesso. Pois quem não levava vantagem em alguma coisa era estúpido; e os gênios levavam vantagem em tudo. É a moral dessa história.

Estamos estacionados. Não digo deitados em berço esplendido por que isso pode parecer certo deboche, ou desaforo; ou ambos. Entretanto, há quantas décadas não é inaugurada uma grande obra “nesçe pahiz”? Capaz de transformar e melhorar a vida de milhares de brasileiros indistintamente? Nenhuma grande rodovia que ligue centros produtores a portos e aeroportos para exportação de nossos produtos foi construída nas últimas décadas; e as que existem estão destruídas por falta de manutenção e de dinheiro desviado e surrupiado do orçamento. Onde estão as novas usinas de energia, sejam elas atômicas,hidrelétricas ou termoelétricas, decididamente necessárias para o crescimento econômico e social? Porque pagamos tão caro por nossos combustíveis e temos que importá-los se somos auto-suficientes em petróleo e em bio combustível? Porque o nosso álcool combustível é tão caro, tanto quando é a gasolina, se nós não importamos a cana de açúcar para produzi-lo pois somos grandes plantadores mundiais desse insumo, cujo preço não é regulado pelo cambio internacional? São perguntas de uma enorme lista. Para todas existem respostas oficiais. Talvez até expliquem, porém nenhuma justifica. Nenhuma iniciativa e nenhuma medida foram tomadas e adotadas para mudar radicalmente nossos paradigmas viciados, atrasados e em desconformidade como os naturais avanços das sociedades humanas. Nada tem sido feito para acompanhar as mudanças naturais do pensamento de nossa sociedade brasileira quanto a aspectos morais e éticos; nem se mudou nada nas instituições em favor de todos os cidadãos nem nada a eles foi oferecido como alternativa ou benefício que não sejam políticas públicas compensatórias.

Vantagem II

Estranho esse nosso pais por que nada justifica a existência de foros privilegiados, vantagens agregadas, repetições imutáveis, procedimentos burocráticos intocáveis que prevalecem no Estado brasileiro com amparo legal, vez que são práticas injustas e eticamente discutíveis, pois não estão ao alcance de todos os indivíduos de nossa sociedade. No discurso descomprometido a lei é igual para todos pois todos nós temos os mesmos direitos e deveres. Uma falácia.

Provisório

Tornar permanente o que é provisório por força de lei é impor para sempre o que se acreditava ser passageiro; só por um momento, só para determinado fim. A contribuição provisória sobre movimentação financeira, dita CPMF, que não é aceita pela absoluta maioria do povo brasileiro, é uma imposição inapelável e compulsória; e como em todos os descontos automáticos não temos nem mesmo a chance de decidirmos paga-los ou não. Não podemos escolher sermos devedores dos impostos que nos são descontados em folha, como se diz, e nas notas fiscais dos produtos que adquirimos por que é componente arbitrário, por que não é separado, do preço que pagamos. O Governo, retém e dispõe desse dinheiro sem dar qualquer satisfação à sociedade. São 32 bilhões de reais mensais de arrecadação de um imposto que ninguém lembra para que fim foi criado.Pois foi criado para ser totalmente investido em no setor de saúde; uma baita idéia do Adib Jatene, quando era ministro da Saúde. Hoje, porém... Quem se importa com os nossos sagrados centavos de cada dia, retirados como que com cota-gota de toda a grana que troca de mãos diariamente, “nesçe pahiz”?

Alguns conceitos expressos em frases famosíssimas têm efeito devastador no animo de quem quer renovar e mudar para mais e melhor. Tem lei que pega e tem lei que não pega, dizia um debochado e conhecido político. E um outro debochado competente treinador dizia – disseram,já morreram - que em time que está ganhando não se muda. Talvez! E isso poderia explicar porque uma Medida Provisória funciona como decreto lei. Se dá certo...A Loteria Esportiva, aquela da zebrinha, que aparecia todos os domingos, a noite, na televisão, deve lembrar-se quem tem mais de 30 anos de idade, certamente, foi por muitos e muitos anos, um teste. Oficialmente um teste. Foram 52 sorteios anuais, por anos e anos; sempre sendo testados. E só não se tornou permanentemente provisório porque todo o sistema de loterias foi alterado.

Cartões, carteiras, carteirinhas

Não tenho dados precisos sobre cartões e carteirinhas existentes em todos os países do mundo. Porém, como acredito que ninguém também tenha, acho que o Brasil deve estar no topo da lista. Exceto os Cartões de Crédito e de Débito, que são de uma meia dúzia de bandeiras, perfeita maneira de portar dinheiro, temos cartões e carteirinhas para quase tudo. São milhões. Desde os cartões das lojas, do tipo CardIsso e AquiloCard, aos cartões de identificação pessoal. Esses “cards” são fornecidos por lojas de todos os portes, das pequeninas aos grandes magazines, em todos os municípios, e inclui-se aí desde capitais até distritos, longínquos e quase perdidos; dependendo de onde se está,certamente. Não me refiro também a Carteira de Identidade, que deveria ser suficiente e sobrepor-se a qualquer outro tipo de identificação, mas das carteiras e carteirinhas de identificação profissional fornecidas pelas entidades das diversas classes de trabalhadores de quase todas as atividades. Advogados,médicos,engenheiros,enfermeiras, e todos os outros profissionais liberais, autônomos, militares, e policiais; e estudantes nos três níveis de ensino, professores e trabalhadores de escolas públicas e particulares. Temos carteirinhas pra tudo além daquelas que são nossos documentos obrigatórios para votar,dirigir e pagar impostos. Tem gente que adora carteirinhas e cartões em suas carteiras, uns por cima dos outros deixando a mostra apenas o suficiente para serem identificados. Dá status. São inúteis, a maioria deles; só são aceitos com a apresentação de uma outra carterinha, a de identidade, oficialmente chamada de cédula. Coisa horrível.

Mas, “carteiraço” só dá quem pode; ainda que todo mundo deseje poder fazer isso um dia. Uns só por farra, outros por vingança e outros por estupidez mesmo.

Sem carteira de alguma coisa ninguém vive feliz, Sem elas não há quem se sinta um cidadão pleno; cheio do espírito santo da cidadania. Uma delas, porém, a carteira de trabalho, não tem lá muita importância "nesçe pahiz" estranho. Na maioria das vezes ela atrapalha quem precisa desesperadamente de um emprego. Conseguir um emprego “sem carteira assinada” é sempre bem mais fácil.

Amador

O juiz de futebol é a autoridade máxima dentro do campo durante noventa minutos. Tem poder absoluto; não aceita reclamação, que muitas vezes é por si só motivo de punição, não aceita recursos, apelos,críticas, nada. Pode ser xingado a vontade por torcedores, mas não pelos jogadores e pelos treinadores ou quem mais que esteja dentro do campo de jogo. Mesmo que centenas de milhares de pessoas digam gritando que ele tem a mãe na zona, não muda a decisão tomada, em geral errada. O juiz de futebol é soberano pelo menos uma vez por semana em algum jogo de futebol profissional. A confederação brasileira e as federações estaduais de futebol são dirigidas por profissionais, assim como os clubes são. Os jogadores, os treinadores e demais trabalhadores diretamente ligados ao futebol são todos profissionais. São médicos, massagistas,nutricionistas,cozinheiros,garçons,roupeiros, e também todo o pessoal que trabalha nos Estádios. Desde o que cuida da grama, aos porteiros,bilheteiros,seguranças e todo o pessoal administrativo dos clubes. Enfim, todos são profissionais dedicados trabalhando para um momento glorioso; a partida de futebol. O jogo, os 90 minutos decisivos. Nesse momento, que é o objetivo do esforço de centenas de milhares de profissionais, uma só pessoa tem o poder absoluto. É o juiz de futebol, que não tem treinador,nem médico,nem massagista, que não é funcionário de ninguém e que está lá, para apitar o jogo, por sorte. Escolhido por sorteio será pago pelo jogo que apitar O juiz de futebol tem outra profissão e a exerce. São comerciantes, advogados, ou militares; são profissionais de muitas outras atividades. O soberano e todo poderoso juiz do futebol profissional, é amador.

Já que esse é o assunto, futebol, há quem diga que somos o país do futebol, que temos o melhor futebol do mundo. Será? São brasileiros os melhores jogadores de futebol do mundo, sim; o que não é a mesma coisa. Só no Milan tem 8 e mais o Leonardo que é dirigente.

Estranho

País estranho esse nosso. Temos a maior floresta do mundo, temos o maior rio do mundo, temos o melhor isso e aquilo e somos pobres subdesenvolvidos. Não dominamos plenamente nenhuma ciência – e nem temos institutos de pesquisa – não temos nenhuma marca internacional, como tem a pequena Suécia. Não exportamos produtos, mas, sim, insumos. Não temos patente de nada relevante e vital, não dominamos com exclusividade nenhuma tecnologia. Temos aquilo que é nosso, é verdade. Nossa cultura, nosso riquíssimo folclore, nossa arte, nossa música. Isso, porém, não basta. E se soubesse o que fazer para mover a roda da fortuna – aqui ventura, felicidade - e tivesse o remédio para curar nossos males não daria mais esmolas, que perpetua a pobreza; as doenças, a ignorância. Que pereniza a preguiça e esse Brasil brasileiro, que parece ser sempre só terra de samba e de pandeiro. Esmola compensatória oficial que destrói a auto-estima, acaba com o livre arbítrio, com o entusiasmo, e que apenas reafirma seu convencimento de que esse é o jeito. País estranho esse nosso, que se pretende um país do futuro. Esse vir a ser inatingível de uma retórica.

Ufa!

Quando uma tragédia atinge um pequeno grupo da categoria dos que se imaginam intocáveis merecedores de tudo o que acreditam ser apenas dever do Estado e das organizações civis, as quais somente eles têm acesso, imediatamente se revoltam e, em busca de culpados, põem-se a protestar.Saem às ruas em passeatas empunhando faixas e vestindo camisetas especialmente confeccionadas para a ocasião, com fotos de vítimas, e inspirados eslogans de efeito publicitário e entoados ao ritmo de palavras de ordem. Assim procedendo, acreditam estarem falando em nome de toda a Nação, pois a movimentação dá essa impressão. Estão cansados, ufa!Entretanto, estão apenas protegendo um privilégio exclusivo que deveria ser comum a todos, e defendendo-se do que pensam ser contrário aos seus interesses. Entretanto não agirão da mesma maneira, nem com o mesmo entusiasmo e a mesma retórica indignada pequeno-burguesa-judaico-cristã, para defender as pessoas e os interesses delas, da maioria desamparada, que sofre em seu cotidiano a dor maior da humilhação permanente e irreparável de ser miserável, doente e analfabeta, até que a morte a separe de nós; e que vem, para ela, bem mais cedo. Infalível.

Abstenção

Abstenção, na hora do “pega pra capá”, é mais feio do que mandar recados “sublimes” e “subliminares”. Quando abstenção significa obedecer um preceito religioso, a questão é de fé, e isso não se discute. Quando,porém, significar qualquer coisa como “me inclua fora dessa”, é uma imoralidade; é mais do que coisa feia. No Congresso da República “desçe pahiz”, viu-se recentemente que voto de abstenção não foi para isentar-se de manifestar-se contra ou a favor. Naquele caso valeu como contra, “sou contra”;como “não”.

Recado

Tem gente que acredita em tudo. Em Papai Noel, Mula Sem Cabeça, Teiniaguá, Negrinho do Pastoreio, Lobisomem,Caipora...acredita em amor, em perdão e, sobre tudo, em misericórdia. Tem gente que acredita em sinais e em recados. Em sinais de nebulosas teorias; em conjeturas sobre utopias com aparência de doutrina e, até mesmo, de sistemas.Crendices. Tem gente que acredita em recados: “isso é um recado”, dizem quando vêem um sinal marcante. Ou numa simples frase dita ou escrita descobrem recados onde eles não estão, mas que podem estar escondidos secretamente. Sinais, recados, dicas, plás- como se dizia no passado-existem é claro; mas nem sempre são claros, claro. Há os secretos, cifrados, incompreensíveis ou os explícitos, cristalinos, diretos e todos podem ser ameaçadores ou de advertência;. Ou mesmo um simples aviso, um comunicado qualquer e podem não ter nenhuma importância. Não mando sinais,avisos,recados por absoluta falta de interesse e de tempo para usar essa ferramenta; por isso mesmo não os mando. Para ninguém. E isso não é um recado, já que não é o que pode aparentar ser. Entretanto os sinais e os recados estão no ar, nas falas presidenciais, por exemplo. Estão no ar, entre aviões, os quais apenas controladores de vôos podem identificar, quem sabe. Estão na Terra também. Os recados podem estar escondidos nas bolsas-famílias “desçe pahiz” estranho. Podem estar bem na ponta do nariz da gente. É preciso estar em alerta vermelho, porém, deve-se ter cautela na avaliação.

Dúvida cruel

O povo quer saber e pergunta:

- “Quem matou Tais?”

Vulpino Argento o demente sabe e responde:

- “Foi Tom Cavalcante, irmão de Antenor Cavalcante, a mando do pai deles, Belizário Cavalcante. Tradicional crime de pistolagem.”

País estranho esse nosso!

CESAR CABRAL
Enviado por CESAR CABRAL em 18/09/2007
Código do texto: T657823
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