Somos os artefatos perdidos das nossas guerras internas.BVIW
Partimo-nos ao meio a cada vez que necessitamos avançar. O cordão umbilical cortado, o parto, a fala, o passo. Tudo é separação. A morte, a saída da casa dos pais, casar, descasar, mudar de casa, mudar de cidade, de país, de visual, de emprego. Escolher entre o sim ou o não. Escolher entre um amor e outro. Pra lá ou pra cá? Trocamos de sonho, de ideia, mudamos de amores, de planos, de caminhos. Tudo em nós se torna despedida. Quantos “adeus” são necessários para que nos tornemos adultos de vez? Perdemos as contas de quantas vezes nessa vida, despedimos de nós. Nem todos os planos são infalíveis. Nem tudo é chegada ou espera. Nem tudo é solidão ou companhia. Vamos nos recortando, aparando as arestas, dando adeus aos nossos restos para dar forma aos novos sonhos. Em contrapartida, puxaremos a corda num cabo de guerra, relutando em sofrer a dor da separação. Parece que nos deixamos ir naquilo que se foi. Somos fragmentos dos pedaços das despedidas constantes, somos os artefatos perdidos das nossas guerras internas. Como é difícil a despedida de nós mesmos. Quantos últimos abraços teremos que dar no passado antes de aceitarmos pegar o trem que, de hora em hora, parte para o hoje?