ESSA NOITE NÃO

Essa noite não

"(...)Tá sozinha, tá sem onda, tá com medo

Seus fantasmas, seu enredo, seu destino

Toda noite uma imagem diferente

Consciente, inconsciente, desatino..."

3 da manhã. Lá estava eu ouvindo na rádio nada mais que Lobão, sim...mais. Foi uma soma.

Pela primeira vez senti a letra integrada à mim. Eu escrevendo, porque madrugada é a melhor hora para escrever. É silêncio.

Eu respiro, meu coração bate mais lento, o funcionamento das coisas correm como deveriam porque de dia eu não sou eu, eu sou qualquer coisa, menos eu.

Para algumas pessoas a dissociação da vivência em sociedade faz bem. Não nego que viver como eremita me é convidativo, mas não posso, não é viável diante das necessidades humanas no mundo atual.

Tecnologia requer recurso financeiro e recurso financeiro requer vida social...então não posso.

Lembro que eu ouvia essa música bem baixinho no dia em que decidi voltar a escrever...hábito frequente desde a infância que foi sequestrado na adolescência.

Quem escreve sabe que é um ato solitário.

Subjetivo, estranho, esquisito e mágico.

" Essa noite não" fala sobre suicídio mais ainda sobre solitude e solidão. Gosto dela porque não é triste, me lembra o Blues...se você conhece sabe que esse sim é um ritmo triste, melancólico, também apaixonante e que fala só de amor...bem parecido com o sertanejo colocando em terras nacionais...ou para que conhece também com as músicas da Alcione "marrom".

Mas a diferença é que no Blues a pessoa vai atrás do amor perdido. Lamenta mas busca uma reconciliação.

Pois bem, quem admira esse tipo de música sabe que pode ouvi-lo só não precisa vivê-lo no dia dia. Entende meu raciocínio?

De um tempo para cá me cantam aos ouvidos indagações sobre meu estado civil.

Veja bem. Estado civil.

Posso estar sozinha e não ser só. Há uma diferençazinha aí.

Antes da resposta soprar o corpo responde primeiro com um risinho de canto de boca.

E penso; como assim? Eu nasci só. Meu umbigo não veio colado ao de ninguém, morreremos só, quando entenderão isso?

Imagina-se o que as pessoas aceitam passar com medo de ficarem sós.

Ser humilhado, passar necessidades... dentre outras coisas que nem vou comentar...e ainda há coisa pior? De acordo com desabafos que ouço, sim.

Não costumo pregar o que não vivo, soa autencidade? Não...não é isso.

Geralmente respondo ao único fato ruim, não há nada mais tedioso que comer sozinho. Você mal sente fome estando só. Comer em comunhão é divertido, prazeroso.

Carrego algo comigo, uma experiência íntima...toda vez que visito alguma casa em que vejo o quadro da santa ceia na sala, automaticamente sinto a presença de Jesus em mim. Porque ele sabendo do seu martírio ainda sim despediu-se reunido ao redor de uma mesa com pessoas que tinham importância para ele. Grosseiramente falando, não entrarei no mérito religioso. Quem come só está acompanhando de pensamentos mas eu sei que Deus está presente. Há companhia melhor?

Sei que a curiosidade é grande, de certo. Não vivo no limbo. Há uma diferença entre solidão e solitude.

Solidão é a tristeza por estar só e se pensar bem somos solitários atrás de outros solitários. Cada um quer uma coisa, nosso desejo é indiferente ao outro, tanta gente com a casa cheia, mas a mente confusa, os corações vazios e o amor...ele sim anda sozinho por aí procurando uma porta aberta.

Ambientes familiares cheios de gente e cada um por si.

Solitute é uma escolha deliberada, querer estar só sem sentir falta de outra natureza humana, ter momentos de reflexões no privado, se pegar com olhar reminiscente sobre a vida..sobre o dia, é cuidar-se de si, é ter privacidade é procurar um estado NÃO civil e sim um estado de paz.

Priscila Ferrer
Enviado por Priscila Ferrer em 22/02/2019
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