O CAPETA FICOU VERMELHO DE VERGONHA
Pra encarar uma vida a dois tem que ter paciência de tartaruga,
astúcia de leopardo e, geralmente, sangue de barata.
É guerra sem trégua, mar aberto sem porto à vista,
mata cerrada em noite sem lua.
Vida a dois exige pós-pós-doutorado nas ciências do perdão
e sabedoria de Deus reencarnado em Deus infinitas vezes.
Tem prova atrás de prova, cilada atrás de cilada, motim atrás
de motim.
Vida a dois nunca destrava, nunca relaxa, nunca debanda.
Os poucos privilegiados, ou condenados, que dela conseguem
sobreviver relatam coisas que deixariam o capeta vermelho
de vergonha.
Mas, apesar de tudo, tem seus encantos. Como tem!
É delicioso construir uma história juntos, ver a relação agigantar,
ver sonhos acontecerem, um atrás do outro.
É bárbaro ter com quem compartilhar, vibrar, comemorar vitórias,
superações, passos acertados. E tudo mais de bom.
Não tem nada melhor do que sentir o gosto do envelhecer sem o amargo
da solidão, do desprezo, do esquecimento.
Se perceber acarinhado, se perceber acolhido, se perceber motivo de
orgulho é impagável. Isso só acontece quando misturamos almas,
suores, vidas. Principalmente vidas.
O resto é estorvo, é nada, que descartamos na primeira lixeira e pronto.
Não tem nada melhor que somar 1 + 1. Nada mesmo.