APENAS ALGUNS PECADINHOS

Acreditem, eu sempre acompanhei minha mãe e minhas irmãs nas missas dominicais do Padre Constantino. Mas tinha também o Padre Maurício, que cobria os descansos do colega. E religiosamente rumávamos para a igreja do bairro, onde a missa começava às 8 horas em ponto. Mamãe, imperativa enfatizava: lembrem-se, lá chegando tem que se confessar! Lá com meus botões, eu achava um porre. Minhas irmãs iam carolamente na conversa de mamãe, e se não fossem, até os santos ouviriam suas broncas.

Segundo mamãe, o ato de confissão me livrava dos iminentes castigos divinos. Para mim, aquilo tudo era meio inútil, visto que não me considerava um pecador, tampouco imaculado. E confesso que era um saco quando dava um branco, bem na boca do confessionário. Buscava que buscava e nada de achar o puto do pecado... Ops! Perdão! Revirava a memória recente e… nada. Na memória da véspera, nada também, e pela demora ouvia aquela voz “in vitro” do padre na casinha me apressando.

Pra sair do sufoco praguejava uns palavrões olhando alguma velhinha coroca, daquelas que vivem mastigando chiclete, sem ter chiclete na boca. Bingo! Agora já tinha o que dizer ao reverendo. Havia sempre muitos pecadores na fila. E sempre os mesmos e mesmas. As beatas do bairro nunca faltavam. E dá-lhe blá, blá, blá com o padre. As vizinhas do nosso bairro, ah, essas passavam duas vezes na fila, sempre presentes e reincidentes. Falavam mal até dos coroinhas.

Poupavam apenas o Padre Constantino por acharem-no (usando uma metáfora da época...) um pão. As garotas disparavam o termo àqueles que lhes provocavam calores. Hoje em dia, quase não vou às missas dominicais, estou freelando em outras doutrinas e até que estou me saindo bem, sinto-me perdoado pelas fraquezas do passado. Mamãe, graças ao bom Deus, ainda frequenta religiosamente as missas como no passado, o que mudou foi que não moramos mais naquela cidade.

Em tempo, tem duas coisas que ela não deixa de fazer aos domingos, uma é ir à missa e a outra assistir ao programa daquele gorducho pentelho no “Domingão”, mas do mesmo modo... religiosamente. Se ela ouvisse este meu comentário, fatalmente ordenaria um pitstop no confessionário.

A fila dos pecados não existe mais, viraram lembrança de uma época em que se corava por erros e se valorizavam acertos. O 1º de abril virou feriado nacional, devido à crescente onda de hipocrisia e promessas vazias. Pinóquio, o boneco de madeira cara de pau e mentiroso das histórias em quadrinhos, seria hoje apenas mais um dos inúmeros pecadores na fila do confessionário, certamente acompanhado das assíduas vizinhas assanhadas dos tempos do padre Constantino, o pão.