A CONCILIADORA

A assembléia era dinamite prestes a explodir: ânimos acirrados, punhos cerrados, bandeiras vermelhas desfraldadas e muita palavra de ordem. Todo mundo falava; ninguém escutava. Parecia a executiva do PT em deliberação.

Não era. Tratava-se de uma simples reunião de pais e mestres, cuja monotonia fora quebrada pela mãe de um aluno que acusava uma professora de ter destratado seu filho. Destratado não: o-fen-di-do! Simplesmente chamou o seu pimpolho de burro. Burro era ela, a mãe dela, e toda sua família. Se tivesse filhos, eram burros também; se não tivesse, seriam quando nascessem.

A turma do deixa disso tentava apaziguar, enquanto outra turma queria ver o circo pegar fogo. A Secretaria Municipal de Educação enviou um dos seus melhores técnicos pedagógicos, especialista em apaziguar ânimos aguerridos, mas ofensor e ofendido não queriam acordo, era guerra declarada, salvasse-se quem pudesse. Daquela reunião teria que sair um cadáver, se possível, dois. Guerra é guerra e só ganha quem manda mais torpedo:

– O que você me diz de uma professora que chega na cantina da escola destampando as panelas, hein? – indagou a mãe do aluno ofendido.

– É uma mal-educada! Muito mal-educada! – respondeu a conciliadora, jogando mais lenha na fogueira, mais gasolina no incêndio, pólvora no calor da explosão – Aliás, Rui Barbosa quando foi morar na Inglaterra, mandou fazer uma placa e colocou na sua porta, com os seguintes dizeres em letras garrafais: “ENSINA-SE INGLÊS AOS INGLESES”. Isso em Inglês, claro, pois lá na Inglaterra ninguém fala Português.

– Rui Barbosa escreveu isso? – perguntou a mãe aguerrida, duvidando que o seu vizinho, Rui Barbosa, tivesse escrito tal placa. Aquilo era um vagabundo.

– Claro! E se não escreveu, devia ter escrito!

A furibunda mãe se acalmou. Não sabia que o inútil do seu vizinho, que vivia lhe paquerando, falava Inglês e, principalmente, havia morado na Inglaterra. Mas se a professora afirmava, então era verdade. Quem poderia saber mais das coisas do que a professora? Rui Barbosa, aquele cachaceiro imprestável, que se cuidasse.