RESPEITO QUEBRADO

RESPEITO QUEBRADO

Não raro, acontece de quebrarmos alguma coisa em casa, no trabalho, no restaurante. Pode ser um vaso, um prato um espelho ou qualquer outro objeto, mas que, de um modo geral, não chega a causar grandes complicações. Afinal, são objetos que podem ser substituídos e cuja troca por outros do mesmo tipo recoloca todas as coisas no lugar, sem deixar traumas.

Há algumas coisas, porém, que, se forem quebradas, a situação resultante é capaz de provocar preocupação e – me atrevo a dizer – certa desconfiança quanto ao futuro. Não, caros leitores, o fato a que me refiro não é a invasão, em 6 de junho de 2006, ao Congresso Nacional, seguida de depredação do patrimônio público e de agressões a funcionários do espaço que representa, segundo o próprio Presidente da República, o símbolo da democracia em nosso país. Não estou dizendo que tal fato seja justificável ou insignificante, mas que, na verdade, é apenas o reflexo de um conjunto de ocorrências muito mais lamentáveis e perigosas para a estabilidade de um país com instituições frágeis como o nosso. Não se pode esquecer que, há muito tempo, os Três Poderes da nossa nação estão sob suspeição. O Legislativo, sabidamente, age em causa própria, ao criar leis que, nem de longe, visam ao bem daqueles que votam e depositam, nas mãos de Deputados e Senadores, toda a sua confiança de um futuro melhor. Basta lembrar do famoso escândalo dos anões do orçamento. Alguém ainda lembra de um “Ilustre Deputado” chamado João Alves (chega a me dar arrepios só de pensar), que justificou sua fortuna afirmando que havia ganhado centenas de vezes na Loteria Federal, por obra Divina? Infelizmente, parece que minha memória, tão ruim para algumas coisas importantes, insiste em me punir com a lembrança daquele episódio repugnante. O Executivo já nos brindou com confiscos do nosso dinheiro, Medidas Provisórias (permanentes) que nunca serviram ao propósito para que foram criadas, corte de verbas que jamais atingiu as quantias generosas que sustentam as mordomias dos Parlamentares, mas que desfigura cada vez mais as áreas da Saúde e da Educação. Tudo isso sem falar na compra de um avião para a Presidência da República, num momento em que o desemprego e a fome assolam nossa Pátria de norte a sul. O Judiciário, por sua vez, além da característica morosidade, tem dado muitos exemplos de absoluto descaso com a sua principal função: fazer cumprir a lei, “doa a quem doer”, como já disse um antigo protagonista de fatos igualmente lamentáveis.

Pois é. Se voltarmos a um período mais recente, veremos que todos esses fatos, somados aos últimos escândalos – a CPI dos bingos, do mensalão, os sanguessugas do Ministério da Saúde e, mais recentemente ainda, o caso Renan –, estão provocando a quebra daquilo que se tem de mais valioso: a confiança nas Instituições Nacionais e, sobretudo, o respeito por elas. Isso, sim, é um problema sério, com o qual devemos começar a nos preocupar imediatamente, sob pena de que este Gigante Adormecido – temporariamente, também cego e surdo – acabe perdendo de vez o rumo.

Everton Falcão
Enviado por Everton Falcão em 19/09/2007
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