"OU ISTO OU AQUILO"

“OU ISTO, OU AQUILO”

Ela o conheceu aos 15 anos. Era o mês de dezembro. O encontro foi na casa de uma amiga no Condomínio onde morava, numa festa, talvez de 15 anos. Todas as amigas estavam fazendo 15 anos. Ele era moreno, alto e magro. Era Congregado Mariano e servia na igreja do bairro onde moravam. Ele tinha 17 anos e estudava no 2º ano científico e ela terminara o ginásio.

Naquela época não se ficava como hoje. Apenas dançaram e ele pediu para vê-la de novo. Em sua casa não havia telefone fixo e o celular não existia, nem em sonho. Era a década de cinqüenta, do século passado.

Encontraram-se, apenas uma vez para conversar, no condomínio dela. Ele, num gesto de carinho, procurou sua mão, mas ela não permitiu. O motivo é que estava apaixonada por outro rapaz, já havia mais de um ano. E sentiu-se infiel àquele amor platônico, não correspondido. Acreditem, ele mal sabia que ela existia, embora estudassem no mesmo colégio, em turnos diferentes. Ela o via passar, às vezes, quando voltava das aulas. Ele também era congregado mariano e servia na missa das 7 horas da manhã do domingo. Quando podia ela, também, ia naquele horário. E gostava de vê-lo, com seu casaco de veludo cotelê marron, que lhe ficava tão bem... Ele descia do coro para comungar no altar principal, mas não se falavam, apenas ela olhava e seu coração disparava de emoção. Ele morava próximo ao seu condomínio.

Voltando ao rapaz que queria segurar a sua mão. Ele telefonou para sua vizinha para marcar um segundo encontro, mas ela estava indecisa. Como estavam no período das férias e ele tinha uma casa em Coroa Vermelha, região de praia, e sua família foi passar uns dias lá , então ele, também, foi. Ela não sentiu saudades, não telefonou para ele e nem ele para ela. E assim, terminaram o que mal havia começado.

No início do ano seguinte, eles se cruzaram sem se falar, por umas duas vezes, quando ela saía das aulas. É que ele morava numa casa vizinha ao seu colégio.

O tempo passou, aliás, muito tempo. E nunca mais se falaram. Mas ela sabia o seu nome todo, afinal foi seu primeiro fâ, como seu pai se referia a ele, na época.

Um dia, ela leu no Jornal do Brasil, um artigo escrito por ele. Ele, com certeza, se formara em direito, pois o assunto era código penal.

E o tempo passou mais ainda, uns cinqüenta anos. Agora já havia telefone celular, computador, internet.... E um dia, ela sentiu vontade de procurar na internet pelo seu nome. E encontrou muitos trabalhos dele. E lendo um, vinha a referência à sua pessoa, ”o saudoso fulano de tal”. Então ficou sabendo que ele já havia partido. Não soube quando, nem como. E veio uma curiosidade humana, feminina:

Como ele ficara quando maduro? Como era sua família? Era feliz?

Quantas indagações sem resposta... Apenas, realmente, soube que se tornara um grande advogado, um grande jurista.

E veio um pensamento: Como seria a vida deles hoje, se ela tivesse dito sim, naquele mês de dezembro, há cinqüenta anos atrás. Mas ela estava cativa de um amor platônico, seu primeiro amor, que a privou de experiências reais na adolescência, ficando apenas na experiência virtual. Mas o Tempo e a Graça de Deus fizeram-na esquecer daquele sonho, daquele amor platônico, e a trouxeram para a realidade da vida que é muito melhor, gratificante e verdadeira.

Concluindo: Nosso caminho é feito a partir de nossas pequenas escolhas do dia a dia, e das grandes escolhas vocacionais que são responsáveis pelo rumo que damos à nossa vida.

Já dizia nossa querida Escritora Cecilia Meirelles em sua poesia: “Ou isto, ou Aquilo”.

Terezinha Domingues
Enviado por Terezinha Domingues em 02/03/2019
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