APIÁRIOS HUMANOS

Ninguém escapa às insinuações da curiosidade. É um sentimento, às vezes,eivados das mais belas intenções de aprender,outras vezes transbordante do mórbido prazer de destruir um mito, um encantamento que se apossa do coração, fá-lo pulsar mais compassado e lança a criatura a descoberto do desconhecido. Isto é a curiosidade da qual cada um de nós tem sempre um pouco para aprender, ou para destruir conforme foi agora explicado.

Eu, também, não escapei à sanha da curiosidade. E, certa vez, resolvi mexer em um cortiço, onde nuvens imensas de abelhas se abrigaram. Não raro, contemplei aqueles seres pequeninos. Eram tão gentis.Voluteavam em torno de perfumadas flores, sugavam-lhes o néctar preciosíssimo e, depois, se recolhiam aos favos, onde depositavam o mel de inigualável pureza e doçura.

Era tão sublime sua obra, tão delicado o seu vôo e tão agradavél o produto de seu traalho, que imaginei-as bondosas demais. Julguei-as perfeitas, incapazes de uma indelicadeza. Jamais aceitei a hipótese de poderem reagir ante qualquer investida, pois tão doce era o mel que produziam.

Naquela tarde, porém, quando quase todo o enxame se achava recolhido, fui impulsionado pela curiosidade, não de destruir a sua edificação, mas de saber como podiam realizar sua esplêndida tarefa. Levantando a mão até a colméia, ao primeiro toque de meus dedos, avançaram contra mim, numa feroz ofensiva e, agredindo-me com profunda fisgadas, fizeram-me que, por trás de sua bondade,estavam também as reações de ódio, os males, as querras, as lutas contra quem ingenuamente só queria saber como viviam, porque existiam.

São assim, tais como abelhas, certos corações humanos, Dão mel da sua bondade, mas quando lhes tiramos mais fundo para conhecê-los melhor, eis que avançam como abelhas e, também, fisgam as nossas almas indefesas e com os melhores propósitos de auxiliá-los.

Por isso, é preciso cautela quando tiverdes de conhecer mais profundamene o interior das colméias humanas. Elas dão mel, mas também proporcionam, supreendentemente, inumeros sofrimentos.

Jaubert
Enviado por Jaubert em 19/09/2007
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