A fé como elemento de resistência e vitórias Quando

Quando chegamos em Amado Bahia há anos atrás, apesar de alguns avanços em infraestrutura, a luz ainda era fraquinha, a água era dia sim, dia nao, o esgoto era em forma de fossa, o sinal de tv era horrível, sinal das operadoras só no morro, os sapos e muriçocas eram gigantes e animais para o culto aos Orixás se resumiam ao que Sr.Zé dos pombos vendia; só pombos.

Como eu e as meninas nos dispunha a ajudar em tudo que nossa condição de não iniciada permitia , e como forma de contribuir nas funções do Ilê , ficávamos atentas a quaisquer coisas que pudessem suprir as necessidades o mais perto possível do Candomblé.

Moramos um período de quatro a cinco anos em Dias D' avila 💜 e lá descobrimos um criatório de bodes, no bairro da Vaginha.

A Vaginha só fica perto das ruas de lá, que lugar longe, o único bairro de ladeira do município e, provavelmente, o mais quente☀️.

Na Obrigação de Ekedi Mirinha♥️, Luciano♥️, meu sobrinho , e Jorge ♥️, um irmão que até hoje amo, fui responsável,juntamente com as minhas filhas, de comprar os bichos de quatro pés🐐🐑.

Batemos nossa paleta legal no solzão de janeiro pra comprar o bode e a cabra e levar até a roça.

Fomos de carroça🐎, ( se alguém tiver essa foto me manda♥️), as peitolas sacudindo num caminho esburacado e cheio de mato, fora a vergonha ainda tinha o medo das rastejantes 🐉.

O medo é tão irracional, às vezes, que eu nem refletia que seria impossível uma cobra seguir a carroça e esperar uma oportunidade pra subir nela e me pegar. Mas enfim ...

Chegamos no Alá Dei, desceu eu, as meninas e o carroceiro, na porta de casa. Descemos e o rapaz começou a desamarrar o bode de Ogum, no caso de Ekedi Mirinha. Quando ele colocou o bicho no chão o danado deu um pinote e se mandou pelo portão da vizinha. Foi tão rápido que nem deu tempo de pega- lo.

Foi um alvoroço passada a nossa surpresa. O bicho simplesmente sumiu pelo portão de D. Tereza.

Pegamos a cabra, levamos pra dentro e fomos pro mato procurar o bode de Ogum. A dia, viu!!

Subimos o morro, como os terrenos eram separados por cercas, fomos de quintal em quintal atrás e nada.

Voltamos pra casa deixando na roça os recolhidos, D.Antônia, Mãe Lia e Ekedi Mira ❤. Todos consternados e preocupados porque a Ekedi teria mais gastos.

No outro dia , em casa , aguardando o que ia resolver, Jorge me liga dizendo que ' falaram' que o bode tinha voltado pro criatório, ou seja, que o bicho era ' ensinado ' e que era comum esse criador/ comerciante vender e o bicho voltar pra casa.

O famoso diz que diz, fofoca, fuxico.

Eu disse:

- Meu irmão, pare! Que maluquice é essa? Se esse bicho voltou pelo mesmo caminho que viemos ele só pode ser uma entidade. Tou chegando aí na roça.

Cheguei logo depois do almoco, soube que Seu Pedreira Branca, o Índio, tinha ido lá. Depois que fez um ebós disse que o bode ia aparecer. Soube disso antes de entrar em casa.

Como de costume entrávamos pela porta da cozinha, ao me aproximar Ekedi Mira ♥️ estava clamando pra Oxossi que trouxesse o bode, quando ela olhou pra cima do morro, dentro da roça, gritou:

- O que é aquilo ali comendo folha?

Eu miope:

- Aonde?

- Ali, é o bodeee!!!

😭😭😭❤

Foi um corre corre, morro acima.

O bode estava lá, pleno, com a mesma corda que veio de Dias.

Acho que Jorge que pegou ele e nós chorando. Ekedi Mirinha gritando Ogunhê!

Ekedi Mira gritando, Okê Arô!

E eu dizendo, Seu Pedreira é vivo!

❤❤❤

Foi a resenha desse barco de Ogum, Oyá e Xangô. Aliás, outra hora eu conto a história da compra do carneiro desse barco.

Eu tenho muitos relatos de fé e é por causa da minha fé que eu me mantenho em pé. Mesmo quando estou triste, desencantada com as coisas ou as pessoas minha memória sagrada me levanta e me faz pensar que tudo é por um tempo. Tempo determinado pelos orixás.

A partir desse relato eu penso e acredito, esse tempo mais ou menos vai passar. E quando passar serei honrada por Orixá.

Uma coisa é certa, quando as pessoas humilham, Orixá exalta.

Laroye !

Ogunhê!

Obá Nixé Kaô!

Okê Arô!

Esparrei!

Posso ser uma mulher negra e o racismo insistir em me negar direitos e dignidade mas Eu Sou de Orixá e Orixá sustenta e garante o nosso lugar no mundo.

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Altamira Simões
Enviado por Altamira Simões em 11/03/2019
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