A Trapasseira visão de preenchimento do vazio da alma com overdose de religiosidade

O capitalismo selvagem que salvaguarda a visão do consumismo como forma de evolução econômico-social, nos impele para práticas que estimulam o ter e a sua substituição a qualquer preço. Assim, se uma criança tem seu brinquedo exterminado, em poucos segundos, é alimentada pela ilusória ideia de que outro lhe fará sentir melhor, sem, contudo, ser lhe dada a oportunidade de viver a perda, a ausência de, mesmo que essas sejam insignificantes, do ponto de vista humanitário.
E como somos motivados a nos transformar em máquinas do desenvolvimento em todas as suas vertentes, sejam elas pessoais ou profissionais, assim também, nos colocamos como seres que merecem e carecem de substituições. Podemos dizer isso quanto ao emprego do qual fomos dispensados, quanto ao namoro que terminamos, quanto a tudo que nos é tomado de alguma forma, aquilo que provoca rupturas em nossa estrutura, aquilo que nos acende uma sensação de vazio. Um buraco negro de grande profundidade, incapaz de ter fim, a não ser que...
Somos seres limitados e abastecidos por enigmas que nos avalizam respostas para as perguntas que norteiam a nossa existência: “de onde viemos, porque estamos aqui, para onde vamos”... É o nascer, o viver e o morrer (recheado de atos e ações que se desenvolvem nesse contexto de início e fim), demandado pelo estigma da criação, que, cientificamente, é fruto de uma evolução dos seres irracionais e, espiritualmente, é um mistério religioso.
Pra contrapor essa noção de reconhecimento do vazio que nos é salutar, já que nos impulsiona a alçar voos mais altos, entra a visão religiosa, como “solução sem a qual”, uma fórmula calculista de garantir esse preenchimento. Se esse apego religioso se desse de forma coerente talvez fosse, em tese, a melhor opção para o desenvolvimento de uma consciência crítica, mas a questão é que o resultado dessa “bengala de sustentação” é a experiência do extremo, que ocupa linhas paralelas em seu surgimento, mas jamais se encontram no seu fim.
E essa fuga da vivência da perda, como processo natural da vida, se ancora no extremismo religioso, chamado de fanatismo, que gera uma intolerância em relação ao que acontece no entorno, e afasta as pessoas criando um espaço solitário de existência, onde o ser que se ancora, se vê perto de Deus, mas longe dos homens, com os quais precisa conviver para existir, afinal ninguém é uma ilha.
Desse modo, cada vez mais surgem os dotados de sentimentos mal resolvidos, que, ao se depararem com a primeira ruptura subliminar da igreja à qual pertencem, se desembocam no vazio que outrora sentiram preenchido. Recomeçando, assim, o ciclo vicioso, perda_preenchimento_perda...
Por isso, trava-se, compulsoriamente, a batalha da psicanálise X dogma religioso. Os concorrentes se desdobram para ampliar suas justificativas, e os leigos vivem os dois extremos.
Diante de todos os lados dessa moeda de troca é mais coerente situar as nossas apostas naquilo que transpõe a alma, e nesse caso, cada alma tem sua essência, e cada essência tem um ponto, que pode ser reticências ou final. Vale ressaltar os estragos da intolerância regiosa no mundo, será que o fanatismo vale a pena? Ou será o fanatismo um extremo alimentado pelas desilusões reunidas e não vividas? Vai saber...
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 13/03/2019
Reeditado em 16/05/2019
Código do texto: T6596630
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.