Sobre ser Atleticano

E sobre ser atleticano, é bem mais que um título (mas é também ter títulos).
O atleticano é a materialização da resistência, do "ainda não acabou"; da inusitada surpresa; do grito de gol engasgado;do "eu acredito"; da alma lavada e do sufoco (real e contínuo)
O atleticano nasce na emoção dos torcedores amantes que, em família, torcem e retorcem sobre o sofá, à espera de um milagre (que Deus concede aos que creem e eles agradecem).
O atleticano nasce na dor de ver os últimos minutos do segundo tempo virarem horas infindáveis de luta, de perseverança, de força de vontade e de superação.
O atleticano nasce na movimentação da bandeira que tem um peso gigante diante dos méritos de Minas, no embalo do manto sagrado, no beijo ilustrativo no tecido alvinegro.
O atleticano, ah o atleticano... Reza sem cessar, sonha com o impossível, acredita no grupo, ressuscita jogador por autoestima, faz de antigos ídolos torcedores e faz do técnico um jogador-torcedor (com direito a promessa ao santo protetor).
O atleticano (sem rasteiras da vaidade) tem a humildade de reconhecer a grandeza dos times que, como ele, lutam diariamente por um lugar ao sol, uma taça, uma tática, um gol.
O atleticano traz emoção na alma, grita antes de se emocionar e sente no peito um aperto, um nó na garganta.
O atleticano no fundo, bem lá no fundo, faz um espetáculo à parte (é o brasileiro com B maiúsculo). É a torcida que joga e se joga. E quando tudo parece perdido, lá vem um atleticano balançando a bandeira e gritando "eu acredito".
O atleticano critica o time a todo tempo durante o jogo, distribui apelidos pejorativos aos ídolos de seleção, solta palavrões em "stand by", mas chora... Porque depois de tudo, de toda expectativa e de ausência de razão, entende que pra ser atleticano é preciso nascer: (re) nascer de novo, a cada partida (nos dois sentidos).
Ser atleticano é isso... Mas é também levantar a taça, é espalhar purpurina pelas ruas para "vingar" a provocação, afinal atleticano dá sempre o que tem de melhor, e o que o atleticano tem de melhor é o brilho... Magia! E esta, ninguém apaga, tira!
E nem tente entender um atleticano. Para isso carece de sensibilidade, empatia, ausência de racionalidade. Tem que entrar no peito, abrir com ternura o coração e lá dentro, no íntimo, estará a razão de ser atleticano: amor por um time, intensa entrega e pura emoção. Só almas livres de rótulos reconhecem e se reconhecem...
É campeão! Não contra todos, mas a favor de si mesmo. Vencendo os limites , derrubando muralhas (*), pintando de preto e branco o cenário.
Honrar o nome de Minas no cenário esportivo mundial é para poucos...
Hoje o dia é preto e branco, é cinza... Em todos os tons!
Eu sou atleticana e acredito! Até o fim!

Nasci atleticana! Não, não foi uma escolha aleatória. Era a genética atrelada à insanidade. Desde cedo via meu pai, ainda na época do disco de vinil, rodar aquele hino até o disco arranhar, literalmente. Os jornais mais famosos à época ofereciam como brinde um “disquinho promocional”, e de novo, todo domingo vinha ele com aquela música. Dias de jogos também. Era uma vitrola antiga, coisas de meu avô, que permanece viva até hoje.
Não diferente dele, era um tio (já falecido) que em dias de jogos pegava seu “radinho de pilhas”, colocava ao pé do ouvido e ficava ali na rua (no interior tem disso) esperando o gol para celebrar junto aos amigos que se amontoavam agachados para ouvir o jogo. Tinham televisão em casa, mas o barato era aquela movimentação fora de casa (no campo).
O meu pai contou por diversas vezes a história do meu avô (atleticano roxo como dizia) um homem simples que morreu cedo tentando oferecer o melhor para sua família. Ele amava futebol. E seus filhos, 9 homens e 2 mulheres, aprenderam cedo a gostar dessa brincadeira.
Certa vez (pai contava), ele e os irmãos, que se revezavam na entrega em casa, dos pães feitos pela padaria (para ganhar um troquinho) saíram para essa função. Bem no meio do caminho, eram 6 km que separavam a cidade alta da cidade baixa, eles viram que acontecia um torneio de futebol mineiro num campo que tinha na comunidade. Ansiosos pelo fim da partida, cujos jogadores sempre ofertavam o “jogo de camisa”, eles se sentaram e assistiram todo o torneio. Nem viram o tempo passar. Já eram 16 horas quando se deram conta de que haviam deixado de entregar os pães. E numa atitude desesperadora, já que o pai desceria do ônibus na esquina do local as 16:20 mais ou menos, eles distribuíram os pães para todos, inclusive o salame, amassado e esquentado durante horas num papel de pão. Todos comeram e eles ficaram conhecidos, a partir desse episódio, como o Milagre de Jesus. E sempre que alguém os chamava pelo apelido, o pai indagava de onde aquilo havia partido, e os filhos, espertos que eram diziam que era dele, o exemplo. E ele nunca soube do pão, das camisas e da verdadeira história. Tudo isso porque as camisas eram preto e branco! E foi aí que entendi o amor pelo time. Meu pai ainda guarda a capa do banco da bicicleta, a manter do câmbio de marchas de uma Brasília azul, bonés e chaveiros diversos, fitas cassetes e filmes de câmeras de fotografia, além dos discos de vinil e a vitrola tudo isso com um timbre do Atlético. E tem jeito de não ser Atleticana? Duvido.
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 19/03/2019
Reeditado em 16/05/2019
Código do texto: T6601633
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