Atiradores de Suzano e o plano de estupro coletivo

Já dizia Kant, há uma lógica curiosa e convincente, mesmo no mais perverso pensamento humano. E essa tônica é a palavra chave desta crônica que não rima a toa.
O crime bárbaro que a mídia tem nominado de tragédia de Suzano (o que discordo por acreditar que tragédias tem vinculação com a natureza e são por isso fortuitas), em fase de investigação, trouxe uma nova vertente para reflexão desde o recolhimento de um terceiro adolescente (co-participe), na Fundação Casa, quem mantinha ligação direta com os atiradores envolvidos, tendo inclusive trocado mensagens sobre o planejamento das ações a serem praticadas com uma frieza tamanha a ponto de permitir denominá-la perversidade, vejam: “A gente ia deixar as garotas nuas, executar algumas no meio do pátio, deixar o corpo de uma forma humilhante, e fazer coisas a mais, para o crime ficar inesquecível”,
Nas palavras do rapaz, para ter o efeito midiático planejado, eles deveriam matar supostos namorados diante de suas paixões e praticar rituais de estupro bem nos corredores da escola, diante das câmeras de segurança, diante dos próprios alunos. É tão surpreendente esta afirmação que mais me parece um desejo fervoroso de demonstrar uma supremacia masculina de vangloriar a questão da sexualidade, de recolocar o homem no papel de dominador, de provedor, de figura indiscutivelmente assunta, uma disseminação da cultura machista considerada antiquada nestes tempos.
O fato de um dos atiradores ter reconhecido a irmã deste suspeito e de tê-la poupado do crime praticado na escola de Suzano também é intrigante: o ódio feminino morre na relação direta com aqueles que fazem parte do grupo, uma espécie de defesa social consanguínea, ou um “se for do grupo nós pouparemos, racionalmente “.
São tantos fatos inenarráveis por falta de nexo e, ao mesmo tempo, são tantos dados revelados (a tecnologia é uma espada) que remontam a cena do crime como se fosse realmente um jogo eletrônico manipulável.
A manipulação é um instrumento da mente humana utilizado para provocar no outro esta sensação de aprisionamento e culpa como se as suas ações/atitudes dessem causa a consequência.
Novos fatos virão à tona com a investigação policial, mas estes últimos já chocam pela perplexidade e pervesidade de tão jovens garotos.
Haverá uma explicação científica para atitudes como estas? Estamos nós diante de um jogo “virto-social” e poderemos ser a próxima vítima? Quem de nós está isento? Há de fato, uma lógica que nos convença de que estes jovens sejam apenas o reflexo de uma sociedade doente, desestruturada é incapaz de controlar o efeito mórbido da tecnologia e modernidade?
E a pergunta que não quer calar: qual seria a nossa reação se o crime planejado fosse executado? Ainda bem que o plano não foi executado na íntegra porque já estamos desolados pelas mortes abruptas e sanguinárias, mas poderíamos acrescentar o status de machucadas, nos dois sentidos. Só de pensar arrepio, ser mulher é um explosivo! Estamos doentes, só pode.

PS. E antes que alguém diga que se trata de uma posição meramente feminista, já adianto que desde os tempos primórdios a sexualidade vem sendo avalizada com a figura masculina como a dominadora, no campo racional claro. Mas é inegável que não se resume a isso, bem sabido e divulgado nos últimos meses, foi a punição da igreja católica por ter sido omissa a crimes de pedofilia e até casos de abuso sexual por padres em estudantes do sexo masculino. Nas prisões também, há dados estatísticos que revelam este “abuso” entre detentos de média e pequena periculosidade, mas para estes, o fim justifica o meio, não naqueles referidos no texto em epígrafe.
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 21/03/2019
Reeditado em 16/05/2019
Código do texto: T6603495
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