E MOÇAMBIQUE ALI TÃO LONGE

Há dias, na zona costeira sudeste africana, o ciclone Idai atingiu o grau três, constituindo uma enorme tempestade tropical formada frente à costa tanzaniana e que alastrou, crescendo de intensidade, até Madagáscar e sobretudo Moçambique.

Ventos superiores a 200 km/h, chuvas diluvianas e ondas superiores a 10 metros causaram enormes inundações, com o transbordo das margens dos rios, formando mares interiores com largura superior a 50 km.

O número de mortos cifra-se de momento em mais de 240, para além de muitos milhares de feridos e desaparecidos.

As pessoas afetadas, só na cidade da Beira, uma das mais importantes da ex-colónia portuguesa, superam as 150 000, não há água potável ou infraestruturas como a eletricidade e as redes de telecomunicações.

Dada a incipiência das construções, muito rudimentares fora dos aglomerados populacionais, as casas foram arrasadas e submersas num ápice, deixando muitos corpos pelo caminho e as populações sem abrigo, empoleiradas em árvores e outros pontos um pouco mais altos.

A cidade da Beira, vista do ar, parece um imenso lago. Os corpos entram em decomposição na água e o risco de doenças epidémicas é crescente, cada vez mais elevado.

Para cumular toda esta infeliz situação, a comida é demasiado escassa e as poucas ONG’s envolvidas lutam contra o tempo e a falta de meios de acesso às populações vítimas dessa catástrofe. Portugal e outros países enviam ajuda, apesar de tudo insuficiente para fazer face às necessidades, mas a boa vontade é muita e conta-se com o importante apoio da ONU para dar mais relevo e angariar solidariedade por parte dos países mais ricos, que pouco se importam com países pobres como Moçambique.

Estas são as notícias mais recentes… Mas para além da informação em si, importa refletir sobre as desgraças que se abatem com frequência sobre África, esse continente tão martirizado pela fome, pelas guerras e pela cobiça das grandes potências face às imensas riquezas de alguns países.

Na maior parte dos casos trata-se de ex-colónias de países europeus que, libertando-se do jugo dos antigos países colonizadores, caem depois nas garras de outros abutres, dando continuidade a essa vida de escravidão, produzindo guerras civis para fomentar a venda de armamento a ambas as partes beligerantes, sempre retirando dividendos da miséria alheia. Petróleo, diamantes, ouro e outra matérias-primas valiosas são extraídas com enormes lucros para as multinacionais e também para governos corruptos, que não sentem qualquer escrúpulo em vender as riquezas da nação a quem suborna mais.

E são os países mais pobres aqueles que mais indefesos se mostram, como é o caso de Moçambique, agora sob a inclemência do clima e que certamente demorará anos a recuperar.

O mesmo já sucedeu há anos no Haiti e em outros pequenos países, um pouco por todo o mundo.

Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 21/03/2019
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