O POVO MERECE RESPEITO

Como todos estão carecas de saber, a democracia deveria (deveria) ser o governo do povo, pelo povo e para o povo. Isso quer dizer que, apesar de apresentar inúmeros problemas, o regime democrático ainda é o melhorzinho, o que permite alguma aproximação da população aos seus representantes (que costumam não representá-la, nunca).

Continuando na mesma toada, lembremo-nos que o congresso (ele merece ser escrito com letra minúscula) deveria (deveria) ser a casa do povo, ou dos representantes do mesmo, como já dito no parágrafo anterior.É claro que é melhor ter um congresso do que uma ditadura, de esquerda ou direita. Porém, isso só é válido quando essa instituição funciona.

Quanto ao poder judiciário, nem é preciso falar muito, pois ao longo de toda a história do mundo, e a nossa, em particular, nunca funcionou a contento. Há juízes corretos, atuantes, isentos, mas só o fato de termos de citá-los, já dá uma ideia de como a coisa anda.

Temos uma realidade caótica, nas ruas, escolas, repartições, por todo lado para o qual nos viramos, não importa onde, quando e como. Tudo está desmoronando, todos os serviços estão (com raríssimas exceções) paralisando, os bandidos dominam e estão mais armados que a polícia, o desrespeito ao próximo, ao cidadão e às instituições (as verdadeiras, que prestam), cresce dia a dia, e não há quem se sinta em segurança, entre os honestos e dignos.

Paralelamente, as “autoridades” desfrutam de privilégios nababescos, declaram que está tudo caminhando bem, que estão defendendo os direitos do povo, que são os guardiões da constituição, que atuam em prol do país, e que seus atos são soberanos.

Será que existe uma aminésia grupal, que atinge políticos, magistrados e vários outros altos funcionários federais, estaduais e municipais, que desfrutam de alguma autoridade (ou até muita, como ministros e secretários), e faz com que esqueçam que são apenas serviçais? Que trabalham para o povo? Que devem prestar contas ao povo? Que devem acatar todas as vontades majoritárias do povo? Porque, afinal de contas, é o povo quem deve mandar no país.

É claro que com muita bufunfa no bolso, mordomias saindo pelo ladrão, aquela besta e, totalmente, desnecessária imunidade, proteção corporativista (entre poderes e compadres, que desfrutam da já citada autoridade) e a empáfia característica de quem acredita ter o rei em sua barriga, fica fácil erguer o nariz, exigir submissão, arrotar alguma idiotice, que tenha aparência de pronunciamento inteligente, e posar de todo poderoso.

Tenho ouvido magistrados “exigindo” respeito, mas eles agem de modo a apresentarem uma figura respeitável? Usar a letra de nossa lei, tão fragmentada e estruturada de maneira a proteger, indefinidamente, crime e criminosos, para justificar atitudes perversas, que só fazem mal à sociedade, é iniciativa monstruosa, que desumaniza seus autores e comparsas. Crer que isso sempre vai ficar impune é crer em fadinhas. Não é à toa que cresce, geometricamente, a multidão que grita pela intervenção militar no país. Quando as pessoas, mesmo aquelas que nunca simpatizaram com o militarismo, veem o mal se apoderar do poder, ao mesmo tempo em que se veem desamparadas, apelam ao único caminho que conhecem para dar um basta na situação terrível em que o país mergulha, cada vez mais.

É verdade que elegeram um presidente atinado com os militares, é verdade que dentro do governo estão atuando vários militares, mas apesar de seus trejeitos e disciplina típica da caserna, agem como civis, e se submetem aos ditames burocráticos convencionais. Enquanto isso, o descompasso entre as aspirações e necessidades da população, e os destemperos e abusos daqueles que deviam se dedicar ao bem comum, como detentores da capacidade de ações legais, prossegue e cresce, estupidamente. Os vilões riem, impunemente.

Já não há motivo para esconder o mal feito. Todos que perpetram o pior se comprazem em conchavar, abertamente, em festejar, ostensivamente, em viajar, passear, destratar e até amedrontar incautos, sem qualquer constrangimento, mas vomitando arrogância, pedantismo e megalomania. Não há como negar que se perdeu o fio da meada, e os valores se inverteram.

Torço para que o atual governo encontre o caminho da boa gestão, mesmo que tropece, erre e tenha de rever alguns passos. Contanto que não compactue com bandidos, já estará de bom tamanho, mas ainda assim precisará extirpar o mal que infesta o poder, impedindo o país de privilegiar a honestidade e progredir de modo correto, duradouro.

Os poderosos ímpios ainda acreditam que são intocáveis. Que Deus os contrarie !

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 22/03/2019
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