À LUZ DE VELAS...


Ontem saí do trabalho cheia de planos: sexta é bom pra tomar um banho quente, comer um lanchinho bacana, navegar no virtual, ver as notícias, descansar, que ninguém é de ferro. Era assim que vinha pensando enquanto voltava pra casa, depois de um dia cheio. Meus planos estavam ótimos, do jeitinho que gosto bastante.

Deu tudo errado. Já da esquina vi a rua toda escura. Minha vizinha me contou que desde às cinco a “luz tinha ido embora”, e a previsão de volta, segundo a Cemig, era pra depois das seis. Tudo bem. Então, era esperar.

É ruim ter que mudar planos por falta de energia, mas não é coisa do outro mundo. Acendi uma velinha e me deitei no sofá, à espera da luz. Esquisito ver o mundo na escuridão. E a casa também, quando o simples se mover na cozinha vira uma coisa desajeitada: sem jeito para acender forno ou fogão, pegar um copo d’água na geladeira, ficar sem tv, sem internet, sem banho morno e coisa e tal... Mas nada é o fim do mundo, principalmente sabendo que a qualquer hora vai acontecer aquele bum tão esperado e tudo estará novamente iluminado, todas as coisas em seus devidos lugares, ufa!

Foi assim que não houve banho quente nem morno, não houve assado no forno, nem internet, nem jornal na tv. Foi assim que tudo teve que tomar outro rumo, e os planos de sexta à noite tiveram que ser adiados:  a luz não chegou nem às seis, nem às onze... Nem sei que a que horas, pois só pude ter o prazer de revê-la hoje cedinho.

Quando acontece isso — e como tem acontecido! É melhor relaxar e achar outra coisa pra fazer. E essa coisa, muitas vezes, se chama nada. Aquele nada que a gente nunca faz, por achar perda de tempo. Aquele nada encantador de ficar apenas olhando uma chama bruxuleante de uma vela na escuridão e que nos faz lembrar, que fazer nada também faz parte... Mesmo que ele não pareça frutífero. Ele é! Nem que seja pra lembrar o quanto a luz faz falta!


(Marina Alves)