Internet ou ao vivo? Conhecer alguém...

Se o conceito de homem biônico, ou comumente ciborgue, é aquele que têm agregado apetrechos para melhorar habilidades normais humanas, então eu me considero um ciborgue. Daquele tipo de pessoa que amplia sua gama de ações com notáveis pedaços de tecnologia. Se não são implantes diretamente em meu corpo, a internet e o celular fazem as vezes de extensões cooperativas que fazem com que eu trabalhe fora do âmbito comum. Basta que um assunto paire como dúvida para que rapidamente seja resolvido com alguns comandos básicos. Em alguns minutos um problema é solucionado. Tudo com o auxílio dessas ferramentas. Sem elas eu viro um mero ser humano.

Algumas pessoas têm certa aversão a esse meio que chamamos internet. Elas se sentem perdidas ou não compartilham desse sentimento de agregação tecnológica. Não sou desses e a minha vida desde 1998 é auxiliada pelo computador e a internet. Dessa gama de opções disponíveis uma delas é o chat online. Através dele mantenho contato com inúmeras pessoas, e consigo conversar com mais de uma ao mesmo tempo. Um claro sinal de multi-função que seria completamente impossível sem o seu auxílio. E dentre as inúmeras pessoas com quem mantenho contato puramente porque não pode ser de outra maneira, algumas outras pessoas realmente fazem-se agradabilíssimas de conversar.

Coisa curiosa que ouço de vez em quando é: “ah mas eu gosto de conhecer pessoas de verdade e não aí.” Nessas horas eu vejo o quanto estou afastado desses indivíduos em pensamento, conceitualmente falando. Gostaria de saber, falando sério, se conversar com uma pessoa pela internet não seria tão verdadeiro quanto ao vivo. E se um argumento logo vem à tona, que é: mas pela internet não podemos ver a pessoa, olhar suas reações, ver suas reações; esse argumento não mais me satisfaz. Digo porque: aprender a se comunicar é aprender as regras, os caminhos daquele meio para conseguir manter um diálogo, seja ele expressivo ou não. E antes que possam dizer alguma coisa, digo que acho a comunicação pelos chats tão expressiva quanto ao vivo.

Aprende a se comunicar através de palavras e carinhas é um novo processo de feitura desse tão antigo hábito humano.

Pela internet você passa a conhecer alguém. A conversa só pode ser conversa se sincera, se a troca de palavras equivaler ao estado do interlocutor. E se ao vivo temos uma necessidade de falar que muitas vezes se sobrepõe ao pensamento do que se quer dizer, pela internet podemos pensar e avaliar o que vamos escrever. É nesse ponto que a conversa ou é sincera ou não é conversa. Há um limiar entre pensar o que se vai escrever e escrever naturalmente. Assim como, ao vivo, quando ficamos envergonhados não conseguimos esconder a vermelhidão em nosso rosto, nosso recato no olhar ou demais expressões desse sentimento, assim podemos ligeiramente colocar em palavras ou carinhas nosso estado, sem pensar, equivalendo assim à conversa ao vivo.

Na verdade o diálogo através da internet dá um espaço maior a imaginação. Não a desvairada, mas àquela lacuna que fica em aberto e tentamos completar com nossa mente. E se o exercício só é válido se verossímil, têm-se pessoas que, assim como ao vivo, preferem cobrir o outro com suas idéias do que eles estão sentido ou pensando independentemente do que se possa constatar de fato.

Há, contudo, uma nuance desse meio que é muito peculiar. O ato de escrever. Sei que assim que aprendemos a digitar num teclado, o processo se incute em nós e passamos a não mais pensar para digitar, assim como não pensamos para falar, vira um processo automático, uma automação do ser. Uma robotização do processo. Mesmo assim há uma função de extrema importância. A reflexão.

Por mais que digitemos, por mais que tenhamos inconsciente o processo, uma tecla em especial se faz como ponte para nossa experiência. O Enter. Esse botão há de ser pressionado para mandar o que quer que se tenha escrito. E se lo aperta inconsequentemente percebe-se uma faceta da outra pessoa, ela não pára para refletir sobre o que acaba de digitar. Assim como normalmente não pararia para pensar no que está prestes a dizer. Nesse momento o processo dá-se em um nível muito próximo da realidade.

O típico, “falei sem pensar”, é admissível, pois cremos que ao vivo o ritmo de conversa é muito mais intenso e que as pessoas realmente acabam por se embolotar nos pensamentos deixando escapar o que não queriam. Entretanto, quando falamos de um processo mais cauteloso, quando o Enter faz as vezes do filtro mental, falamos dessas pessoas que são incapazes de parar para pensar no que estão prestes a falar.

Esse é um só exemplo de como podemos fazer o paralelo entre conversa ao vivo e conversa através do computador. E são inúmeros esses paralelismos.

Com isso dito, creio que consigo conhecer uma pessoa pela internet assim como conheceria ao vivo. Ou até melhor. Pelo fato de termos uma certa proteção física, estamos sozinhos atrás de nossas máquinas, consegue-se conversar coisas que nunca antes seriam tão tranqüilas se fossem ao vivo. A exposição in live é ainda uma grande dificultadora de comunicação. O olhar pode ser opressor. A atitude pode ser grosseira. Mesmo que aquela pessoa não seja desse ou daquele jeito. Essas impressões errôneas que as pessoas têm sobre outras acabam sendo filtradas pela distância.

Creio que dentro em pouco poderemos, também, fazer esse paralelo com algumas variáveis que hão de surgir pela conversa digital, mas por enquanto é um facilitador. Tantas são as pessoas que se expõem um tanto menos ao vivo que se expõem digitalmente, falando de assuntos e conforto ao falar deles.

Os dois meios de comunicação são válidos e verdadeiros, se conhece uma pessoa ao vivo e se conhece uma pessoa digitalmente, da mesma maneira, mas com enfoques diferentes. No fim, uma pessoa é uma pessoa e o meio que ela se expressa é apenas o meio para conseguirmos conhecê-la. O meio digital veio para ficar. Não sou adepto da reclusão. Não concordo com pessoas que só vivem em frente aos monitores. Mas os computadores nos dão a chance de ampliarmos nossas habilidades, meios e amostral mental de maneiras de se comunicar. Quem está fora está atrasado. Não há como competir com a massividade da tecnologia. Onde palms, celulares fazem sincronizações online com os servidores de emails, noticias e tecnologias. Onde emails, põem as cartas (ainda muito usadas) contra a parede, onde a informação é difundida. Não temos mais como nos afastarmos da era digital, quem não usa o computador porque não vê benefícios é, comparativamente, uma pessoa que ao ser difundida a luz, não a usou porque preferia os lampiões, que eram mais calorosos, mais humanos e familiares.

leandroDiniz
Enviado por leandroDiniz em 20/09/2007
Reeditado em 21/09/2007
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