ENQUANTO VOCÊ DORMIA

Desde a infância ela sempre gostou de sopa, seja de carne ou seja de legumes. O que não podia faltar em qualquer refeição era um prato de sopa. Lembra da juventude, quando a mãe por falta de recursos, esquentava pela manhã, um prato de sopa para ser tomado antes de ir a escola ou ao trabalho.

Contrariando o dito popular, cresceu e não enjoou, ao contrário, continuou pela vida adulta gostando cada vez mais desse alimento.

Muito tempo passado, nas noites de paz e de tranqüilidade, sempre antes de dormir não dispensa uma tigela com algum tipo de ensopado. E é nessas horas de recolhimento, enquanto o sono não vem, que a sua imaginação atravessa o espaço e ganhando as avenidas da cidade grande, mistura-se aos milhares de transeuntes que buscam na noite o consolo para tantas dores, em todos os lugares onde a diversão e a alegria estão presentes. Pensa também naqueles que nessa hora fazem e recebem juras de amor e também naqueles que estão, nesse momento, cumprindo as suas juras de amor.

Pensa naqueles que oriundos do ato de amar estão nascendo e em tantos que, morrendo, nessa hora deixam a dor e o amor em muitos corações. Pensa naqueles que trocando o dia pela noite, batalham e suam num noturno ganha pão. Seu pensamento voa para os que não dormirão, pensando que não terão como nem onde buscar o pão.

Pensa nos que procuram abrigo e que sem teto, fazem do firmamento sua coberta, sob a qual habitam males que até eles próprios desconhecem. Pensa então em tudo isso, que esta acontecendo enquanto tem por companheira a sopa quentinha. Mas sabe, que tudo isso também estará acontecendo enquanto ela estiver dormindo...

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