UM PAI ESPECIAL

Um sujeito que era seis vezes o meu tamanho me aguardava na porta da maternidade. Decidido, sussurrou-me ao ouvido que mostraria os caminhos da vida, ensinando-me todas as coisas e nada me faltaria. Três anos se seguiram e esse sujeito que já se mostrava quatro vezes o meu tamanho, tinha certezas e conhecimento que me faziam amá-lo a ponto de quere-lo só pra mim. Fazia do sim um sim, do não um não sonoro. O semblante fechado e austero freava constantemente o desejo de ser dono do próprio nariz do pirralho a sua frente. Tal semblante se contrastava com o sentimento de alegria e amor que alimentava constantemente o pirralho, a querer ser igual.

Aos oito anos de idade, eu sempre podia contar com aquele sujeito que era duas vezes o meu tamanho. E as promessas que me fez quando ainda era um gigante, as cumpria uma a uma. Assim sendo, eu o queria sempre ao meu lado. Pouco me interessava se ele havia tido um dia de trabalho cansativo. Aliás, ele nem tinha esse direito, porque pra mim, eu morava na casa do Super-Homem.

Um dia aos dezoito anos, frente-a-frente com aquele sujeito que era do meu tamanho, tentava eu entender porque ele havia desaprendido a me entender. O herói havia virado meu crítico. Minhas roupas, meus amigos, minhas escolhas, meus horários, deixavam irritado aquele homem que parecia nunca desistir de cumprir as promessas que me havia sussurrado ao ouvido. Foi ai que comecei a perceber os sinais de cansaço das coisas e da carga que ele sustentava.

Hoje aos vinte e oito anos, enquanto aguardo na porta da maternidade, penso no sujeito especial que é meu pai, meu amigo, um cara que nunca desistiu de mim.

- Nasceu, é uma menina.

Abracei-a contra meu peito e decidido comecei a sussurrar ao seu ouvido...

Brandt Acosta
Enviado por Brandt Acosta em 20/09/2007
Código do texto: T661144