Palavras

Eu só queria morrer amanhã. Nunca mais acordar, a vida não gosta de minha presença, ela brinca comigo todos os dias.

Mesmo querendo algum motivo, não encontro, não sei por que estou aqui, apenas sinto que é para segurar o mundo em minhas costas.

Por favor, alguém diga algo, eu estou desistindo.

Me fazem chorar ao dizer que se importam, me abraçam já se esquecendo de tudo, criam esperanças de uma vida em que eu possa existir, mas não percebem, a vida não me quer.

Sentado em um bar, olhando todos em volta, logo vejo que todos estão mortos, porém, ninguém nunca perceberá. Algumas chamas, entretanto, ardem, nelas existe certa vontade de sobrepujar a morte, as admiro, haja vista que a minha é apenas um cisco esperando sua morte.

Após uma, após duas, esqueço e finjo estar vivo, respiro como a muito não o faço. Tomo o ar que me falta e então, escrevo. Onde quer que eu esteja, escrever é a única coisa que me faz bem. No dia que a vida me impossibilitar, é preferível morrer em qualquer esquina. Espero qualquer coisa, qualquer tapa, qualquer sangue, porém, se o ódio frente a mim a fizer acabar com a única coisa que amo e que devolve este sentimento, hei de odiar tudo e todos, morrerei unicamente pela vontade da escrita, quando ela me rejeitar, perderei tudo, mas aceitarei por saber que algum dia, nascerá alguém que busque uma vida apropriada e que será salvo pelas letras, da mesma maneira que sou todos os dias.

Meu único amor depende de mim, é isso o que me assusta, sem apoio, sem ninguém, apenas com a dor no ombro, é um sinal que a mala está pesada. Saindo do bar a carrego de forma cansada, sem esperança alguma, caminho até minha casa, mas ora, que casa? Só existo em ti, mas tu não estás só em mim, o que fazer? Chorar não adianta, viver não adianta. Não existe opção, escrever-lhe-ei, morte, para que se aproxime logo, deixando meu amor para alguém que mereça, afinal, sou a falha que se institui em vida.

Kind
Enviado por Kind em 31/03/2019
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