Memórias de um Trajeto

Dissestes que ficaria, mas mentira. Em verdade, acabastes de dizer, ainda que sem palavras: deseja seu passado, nele, entretanto, eu não existo.

Ora, por qual motivo deixara seu coração acreditar que um adeus era simples? É, em suma, a pior cicatriz, pois mesmo cicatrizada, dói todos os dias. Quando imaginas ter encontrado o amor da sua vida, nada lhe tira essa ideia, é assim, portanto, que se torna impossível esquecer a única pessoa que existiu e existe em sua vida. É nela que sua essência se encontra, ainda que se configure como um erro deixar parte de sua vida com outra pessoa. Afinal, ela por si própria queimou seu corpo.

Ó, meu bem, por qual razão me beijastes aquele dia? Não desejava nada, não esperava mais, porém aquele encontro, aquele maldito encontro, confundira todas as minhas veias, só ao pensar, meu corpo reage.

Ó, querida, por qual razão me abraçastes com tanta ternura? Me senti aquecido, protegido, me senti humano. Hoje, entretanto, o mundo escureceu e meu coração sofreu, retornei ao gelo, meu único amor.

Ó, amor, por qual razão dissera que se importava com a minha solidão, diferente de ti, não existe solitude que me contemple.

Ó, mulher, me desculpe por ser a pior pessoa, me perdoe por realmente pensar em você todos os dias, mas, principalmente, me perdoe por pensar que és obrigada, ou que fizera, qualquer dessas coisas com algum interesse, eu, do meu modo, enfio a adaga em meu peito todos os dias, ainda que em minha mente você seja a cura, me tornastes o veneno de minha própria alma.

Conquanto, o maior veneno é seu sorriso, não há uma pessoa que resista.

Rodando pela região devem vir a me odiar, estou a escrever com tanto brilho em meio a escuridão, mas só vejo representando minha vida, resta pouco brilho, em pouco tempo serei consumido

Digas que fica, digas que se importa. Mas o faça. Afinal, a cada dia é mais difícil, a cada dia meu fim se aproxima, sinto isso. Sinto que, mesmo continuando vivo, minha humanidade tomou conta das estrelas, serei apenas uma carcaça de palavras, no entanto, não fostes sua culpa, eu imaginei uma vida ao seu lado, eu menti.

Caso nunca mais a veja, não chore, ainda me sinto inútil por não ser capaz de secar suas lágrimas, me sinto mais ainda por cobrar algo que não existe. Contudo, se serve de consolo, és maravilhosa. Queria deixar de sentir, de viver, mas ainda escrevo, enquanto o fizer, permanecerei vivo de algum método. Lamento, todavia, o futuro que havia imaginado não vai acontecer. Somos tristes, entretanto, escolhera seu próprio caminho.

E assim, neste transporte, deixo mais um pouco de luz, deixo mais um pouco de vida.