A afirmação premeditada por Mãe Dinah acabou com algumas fichas que vinha guardando há algum tempo, tipo uns números de biscoito da sorte retirados em restaurante japonês, diga-se de passagem minha comida preferida, depois de salada, é claro.
Logo, resolvi colocar em prática o *O Milagre da Manhã, um manual para mentes “frouxas” engatar a primeira marcha e lá vou eu., empostou morto.
Primeiro a corridinha de leve pra queimar os biscoitinhos de coco do desjejum. Depois a meditação e pra terminar o retorno a vida E naquela onda “vibe boa” entro no elevador sorrindo e cumprimento um a um conversando amenidades. A “Mãe da Paciência com recheio de melado” despontava ricamente até que o elevador parou. Estamos no quarto andar. Pane elétrica. Vamos chamar os técnicos. E depois de 40 minutos aguardando, veio s sentença: a manutenção do equipamento durará entre duas e três horas. Sacudi a cabeça como quem negasse a si mesma o direito de reclamar, o Milagre da Manhã já tinha começado. De repente, de onde menos se espera uma provocação: o problema do Brasil é o brasileiro. Eu tava de “boas na lagoa” olhei pro relógio e continuei muda, a meditação foi minha álibi. Mas ele insistiu dizendo que o síndico era um irresponsável, que a empresa de manutenção era picareta, que a empresa de segurança só tinha pilantras e que era o problema do Brasil era o tal brasileiro (conceito distante dele). E como já havia me tornado a irmã mais velha da paciência (mudei muito rápido de temperamento) e já tinha esquecido do tal milagre, respondi: você tem razão, o problema do Brasil é você, ou é estrangeiro, passageiro de algum trem? Provoquei e fiz silêncio por dois segundos, mas como a vida é um milagre (Erold que o diga), mais eloquente do que nunca continuei dizendo que o problema do brasileiro é acreditar que os problemas do país são sempre do outro, o outro;
É terminar a eleição e ficar pensando na próxima, com um quê de "em 2000 e tanto eu voto fulano", mas não consegue enxergar que do jeito que está, talvez nem exista o tal ano;
É encontrar um objeto alheio, saber de quem é a propriedade e tomar posse, por vezes, com o aval da justiça;
É de pedir desconto quando a dívida é sua, e sonegar impostos, inclusive, usando atestados falsos de utilização de serviços de saúde;
É de comprar sem ter e de “ter por ter” só para pertencer a um grupo de status;
É sentir menos valia de cuidar das suas coisas (casa, carro, horta) como se isso fosse serviço de terceiros, sem qualificação;
O problema do brasileiro é encontrar um jeitinho de apresentar um atestado de renda adulterado só pra ter direito a cota estudantil;
O problema do brasileiro é gostar da grama alheia (internacional) como se no Brasil fosse impossível viver do mesmo modo;
O problema do Brasil, meu caro, você tem razão, é do brasileiro, é meu, é seu, é nosso. A diferença é que alguns já assumiram a sua nacionalidade e outros, embora registrados, não assumiram a patente.
De repente o silêncio foi virando um ruído e já incomodava, já havia uma hora e meia. E o elevador abriu. Com ele, o sorriso entre os dentes, no rosto de quem, nem com meditação, Budismo e Milagre da Manhã fica calada. Ah não! Alguém sugere outro livro, terapia, SPA, sei lá, uma semana inteira num resort 5 estrelas all inclusive, um trevo da sorte...
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 03/04/2019
Reeditado em 03/04/2019
Código do texto: T6614355
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