Foram os anos 80 e 90 que coroaram a emigração no Brasil. A implementação de novas tecnologias e a consequente onda de desemprego foram os principais fatores que levaram os cidadãos partirem para outros países em busca de oportunidades. Vale ressaltar que muitos destes brasileiros tinham também a ilusória visão de enriquecimento rápido. Mas nos últimos anos, essa emigração tem tomado novos rumos e as justificativas também não fogem à regra. A maioria sai do país alegando a instabilidade econômica, a violência e a insegurança. Não é de tudo inverdade esse novo conceito de fuga, muitos foram pelo sonho, apenas pelo sonho de serenais feliz.
Liza saiu do Rio de Janeiro com destino à Europa, mais precisamente Portugal. Fez das tripas coração atrás do grande sonho. Chegando lá, percebeu que nem tudo eram rosas. Bonita, Alegre, comunicativa, mas era agitada por demais, e acabou assustando os portugueses. Num dos trabalhos que arrumou num hotel 5 estrelas, acabou conhecendo o gerente, um bom rapaz, de família tradicional portuguesa, que acabou sendo fisgado pelo anzol da mocinha. Ela era dona de si, não tinha papas na língua e nem tinha receio de demonstrar afeto pelo bom rapaz em locais públicos, apesar do garoto sempre dar uma escapadinha. Numa dessas, ela o encontrou num famoso restaurante com uma mulher, linda, bem vestida, elegante aos beijos. É claro que Liza ficou arrasada, pensava que estava namorando o tal rapaz. Tanto verdade que até foi apresentada a mãe dele, embora tenha sido bastante deselegante ao vê-la no estacionamento do supermercado com o filho, numa manhã de sexta-feira. Mas enfim, vida que segue. Liza não quis mais saber do português, queria mesmo era cuidar de si, do que estava procurando. Não viu mais Gaspar. Três meses depois era o seu aniversário e ela estava radiante, tinha conseguido um trabalho numa biblioteca e à noite fazia bicos e para alegrar o seu coração receberia a visita do avô que a criou desde menina. Estava ela no aeroporto à espera do avô quando de repente dá de cara com a família do rapaz que estaria aguardando o voo de lua de mel dos pombinhos. De longe via a alegria da família que tirava fotos e dava risadas. Foi quando percebeu que seu avô estava vindo em sua direção bem do lado onde a família estava é remota de que fizessem algo do tipo esnobarem o avô ela foi ao encontro dele. Quando enfim se encontraram, estavam de frente com a mãe do rapaz que olhou para os dois com um olhar sarcástico e disse: Sirigaita! A garota sorriu como quem tivesse intimidade com a senhora dando-lhe um abraço e logo se despedindo. O avô curioso com o linguajar novo perguntou: -O que ela quis dizer com Sirigaita? A garota existes que só soltou:
- Vô, aquela senhora era minha ex patroa no hotel, tínhamos muita intimidade. Aquele código que ela falou era sobre preferências dela: carne de siri e toque de gaita. É sempre que tínhamos algum problema ela falava: um siri e uma gaita e nós ríamos muito depois.
- Que lindo, filha! Porque não disse antes pra eu ir lá agradecer?
- Não vô, por favor, aqui em Portugal agradecer é ofensa. Vamos embora, vô. Vamos embora.

E entre Lizas, Luanas, Adrianas, Carmens, Micheles, Lilás, Adrianos e tantos outros, estão muitos amigos dos quais sinto saudade do tempo em que o português de Portugal era só um sonho feito à mão no caderno de listras azuis com capa de bandeira. Que tempo bom, que tempo bom!
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 07/04/2019
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