Quando perco a paciência

Das poucas coisas das quais me arrependo na vida uma delas é de não ter conseguido manter o equilíbrio. O maior legado que podemos deixar para aqueles que nos veem como espelhos é a saúde emocional equilibrada.
Sinto uma espécie de raiva quando não consigo dominar meus instintos e ajo precipitadamente. Pior mesmo é olhar para você no espelho do tira teima.
Tinha lá no interior uma praça de eventos onde acontecia uma grande festa da cidade conhecida por ser produtora oficial de batata. Todo ano a comemoração contava com grandes nomes nacionais para abrilhantar os palcos montados em três locais diferentes.
Numa destas, acabei conhecendo a Nanci. Mãe do Joviano. Menino esperto que gostava de observar tudo ao seu redor. Ele era portador de uma Síndrome Neurológica que o fazia ir mais devagar quando o assunto era sentir, então toda vez que algum dos seus sentidos aguçava, ele se rendia sem medo e preocupações. Embora possuísse a tal síndrome, isso não afetava o seu conhecimento cognitivo, o que o fazia bastante inteligente e sensível. Todo ano escolhia uma entidade beneficente pra contribuir como voluntária nesta festa e neste ano fui trabalhar com Nanci. O menino era a cola da mãe, não desgrudava.
Todos os dias quando estavam os músicos, passando o som, Joviano chamava a mãe para dançar, no mesmo pique e no mesmo horário. E lá ia Nanci.
Quando a menina da barraca de flores passava, ele a chamava para cheirar uma a uma e identificar por cores, e ela ia.
Quando o moço da barraca do churros passava, ele a conduzia até nolição indevida doce era preparado apenas para afirmar ser nomeais gostoso da cidade, e Nanci ia rindo comprar um churros.
Quando o pessoal da limpeza vinha, ele levava a mãe até os rapazes e juntamente com ela abria os sacos para ajudar no trabalho deles, pegando na mão de um a um.
Quando as meninas que concorriam ao concurso de Rsinha da Batata vinham para marcar os pontos do desfile, ele prontamente apontava para mãe, para que assistissem aquela cena.
Como era a primeira vez que via aquela cena que secretária pelo terceiro dia consecutivo quis dizer à mãe sobre o que pensava e logo afirmei que não sabia como ela conseguia suportar essa pressão para trabalhar na barraca e ser interrompida ao menos 5 vezes durante improcedente de preparo dos alimentos para satisfazer as necessidades do filho. E emendei dizendo que deveria lhe causar sofrimento.
Ela com a paz que parecia ser a bandeira do próprio coração olhou para mim com ternura e disse que antes, sofria, quando acreditava que podia colocar o filho na lata e rotular, mas sabia que mudar seria retirá-lo de sua zona de conforto para satisfazer à sua. Então decidiu fazer da sua renúncia a grande vitória.E fazia daquelas cenas um deleite. Não era a paciência e tolerância que treinava, mas sim, a empatia.
De lá pra cá, todas as vezes que extrapolo a questão da paciência procuro os sentidos, mais para externar um arrependimento pouco eficaz, por isso às vezes choro como se fosse a única e última pessoa no mundo (sem vergonha, sem receio); às vezes como unhas, para passar a ansiedade; coloco alternativa 67 no último volume e pulo cantando a saideira ou cerveja de garrafa; pego um livro jurídico e leio uma teoria contrária já me colocando o chapéu de jegue; e por fim, pego um spray marcante, de canela, aromatizo o ambiente E fico sentindo à essência ( o que ocorreu agora , mas como o stress apaga meu termômetro, estou tossindo feito um boi com tuberculose).
Mas, tudo isso apenas pra ilustrar, esse livro de histórias que revela a identidade de alguém que toda vez que perde a paciência, perde também a propriedade, primeiro porque cria uma distância enorme entre Nanci’s e segundo porque o argumento vai saindo de fininho e deixa a pessoa nua de ideias. A ponto de perder a noite, como se ela fugisse também de si. 

 
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 08/04/2019
Código do texto: T6618254
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