POR MEDO DA ENTREGA ME PERDI

POR MEDO DE FICAR SÓ

Por medo de ficar só acabou sozinho. Me dizia um senhor de cabelos grisalhos.

Contava a mim suas aventuras amorosas. Me disse que quantas amantes teve e a nenhuma delas teve coragem de abrir o coração. A nenhuma delas teve a coragem de se despir de alma e ser quem desejava ser.

Seu medo não era apenas de se entregar. Era de estar com alguém de verdade e ser descoberto como um homem inseguro e nem o romântico de poucos dias que era.

Tinha receio da rotina roubar sua alma e o transformar apenas no marido. Porque marido não é romântico disse o mesmo.

Como não? Você pode ser romântico a vida inteira e se entregar a cada dia mais a quem você realmente pode amar e confiar.

Confiar foi a palavra pesada no assunto. Como confiar em meus sentimentos, me assegurou. Como me deixar levar por alguém se nem mesmo eu confio em mim.

Por medo de se entregar ao amor se perdeu na solidão. Viu todos seus amores passar, constituir família e ficou só observando.

Uma delas deixou marcas profundas. Assim ele fechou os olhos, juntou as mãos, respirou fundo e falou: quando eu chegava ela me soltava um sorriso feliz como quem ganha o melhor presente.

Me olhava com uma curiosidade de como foi meu dia. Eu tinha prazer em sentar e contar quantos clientes visitei. Cada cidade que parei. E quantos não eu dizia apenas porque seria dela aquele fim de semana.

Sentava no sofá apenas para me ver assitir o jornal e dizia que só tinha Graça quando estava comigo.

Começou a ficar muito bom estar ali. Já havia meus sapatos no armário, espaço na garagem e uma camisa velha de dormir.

Havia meu cheiro de pós barba no banheiro e uma toalha sempre seca para mim.

Na geladeira sempre um suco que não me dava azia. O aconchego daquele lugar parecia comigo. Até que um dia eu me pergunto se rotina combinava comigo.

O medo começou a tomar conta de mim. Fui diminuindo as visitas, troquei telefone, sofri muito e me fui.

Passei por aquela cidade várias vezes até um dia a ver segurar um bebê que nunca tive coragem de ver de perto e uma voz masculina chamar seu nome.

Assim ele não mais foi até lá. Em todos os casos uma história. De cada uma ele trouxe o que restou. Apenas lembranças e nada mais.

Agora já avançado em idade não sabe responder porque tanto medo de ser feliz.

De medo eu disse a ele, entendo muito bem. Conheço cada detalhe dele. Sei onde começa e como nos ganha. Mas decidi superar o medo da entrega. Mesmo que seja dolorido.

Ele retirou fotos velhas e recortadas da carteira e contou nome e historias e me fez um pedido. Vá descobrir seu amor e seja honestamente feliz.

Abra a janela do seu coração e deixa a luz amor entrar e trazer brilho ao seu olhar. Olhe o horizonte como quem o deseja alcançar, porque quem não sonha não chega lá.

Percorra todas as estradas da vida juntos, de mãos dadas. As de ruím estado passe devagar para nada quebrar. As de asfalto não corra para poder aproveitar.

Uma mão sempre ao volante da vida a outra segure quem estiver com você. Não se permita perder o cheiro da paixão, mas não se domine por ela para não perder a razão.

O que responder a ele? Um sorriso apenas e um abraço. Bem vinda vida vamos voltar a viver....

Até próxima estranho, obrigada por dividir sua história...

Leticia Carrijo
Enviado por Leticia Carrijo em 09/04/2019
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