Todo ano o aniversário da Dorinha era o evento mais aguardado da família. Dora Alice Salazar de Almeida Prado era um princesa de conto de fadas, em todos os sentidos, era na etiqueta, na educação, na beleza, na inteligência. Ela era o tipo loteria premiada da caixa (enquanto eu era a raspadinha).
Esse ano a festa traria duas comemorações: o aniversário e a formatura em Medicina. Como formatura é feito casamento árabe, lá estávamos nós para o primeiro de 5! Era o culto ecumênico. Terminado o evento os mais chegados, que não se topavam há anos, resolveram ir para a pizzaria.
Como o legado deixado por Sr. Ulisses é enorme (descendentes) fecharam a pizzaria.
Cheguei e já marquei ponto na penúltima mesa. Como o menu seria servido “à lá bolset”, conforme cada bolso, me atrevi a pedi um prato especial (tipo Mac) fritas com calabresa (odeio pizza). Não muito rápido a porção chegou e com ela Dr. Alfredo, um primo daqueles que você adora encontrar (uma vez ao ano), um pouco arrogante, intransigente, grosso, mas na linha das sucessões, o que importa.
Estávamos nós, degustando aquela batata saltet com molho inglês e um chorizzo argentino (criatividade é tudo) quando enfim decidimos nos despedir. O Alfredo combinando cara de cachorro no cio esterilizado com Pernalonga veio com uma provocação: já que comeu tudo, pague a sua conta. Não entendi direito o que tinha dito, mas paguei feliz. Era minha mesmo, senhor doutor, que rabugice é essa? pensei. Ao sair ele disse ao pé do ouvido: queria aproveitar do meu status gatinha, se for à luz de velas, aceito. É pago a conta. Continuei não entendendo nada, mas agora estava possessa, trabalho feito louca, dia e noite pra ter que apelar pra um médico acostumado a pegar peito de celebridade me pagar umas fritas com calabresa? Me poupe. Seu doente, atrevido, insolente, burro.
Saí pisando firme, mas despedindo de todos com delicadeza, menos dele. 
No dia seguinte, chego no escritório, sexta-feira feira 13, gato preto, escada na entrada, vejo uma caixa de chocolates e um bilhete. Pensei logo, chuta que é macumba! Quando abri o cartão lá estava um pedido de desculpas do dito cujo com recheio de chocolate amargo: “ Desculpe a indelicadeza de ontem, ao sentar à mesa com vocês tive a impressão de que se tratava da minha, cujo pedido estava tal qual o da sua mesa. Então ao provocá-lá a pagar a conta, o fiz por acreditar estarem gozando do que me pertencia. Momento depois, ao procurar por meus pertences acabei encontrando na mesa atrás com o prato intocado. Sinto muito. Posso me desculpar pagando a próxima? Com direito a fazer opção pelo melhor e mais caro restaurante da cidade. 
O ódio agora era sobrenome do prenome vai se... Enrabichar na próxima vítima, infeliz, já tem doido demais neste espaço. Que raiva! E era só o primeiro dia, só... Sexta-feira negra na folhinha branca do cliente. Marquei!
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 10/04/2019
Reeditado em 11/04/2019
Código do texto: T6620442
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