CRÔNICAS DE UMA VIDA MISSIONÁRIA (texto em construção).

CRÔNICAS DE UMA VIDA MISSIONÁRIA

(Histórias da minha vida)

I – histórias que não deviam ser contadas ...

II – “Experiências interessantes, por vezes cômicas, da vida do Pastor José Carlos e Silvia, a maioria vividas no Campo Missionário...”

Dedico este livro ao meu pai (in memoriam) que me ensinou a amar a Bíblia – A Palavra de Deus, em a minha mãe (in memoriam) que sempre orou muito por mim.

Dedico este livro à minha esposa Silvia, coautora e companheira de quase todos os fatos, inspiradora e apoiadora em tantos outros, amiga e coparticipante das Graças de Cristo em nosso ministério.

José Carlos Gehard Matos

Maringá - 2018.

NOTAS

1. Para resguardar a identidade das pessoas, usamos aqui pseudônimos na maioria das histórias apresentadas.

2. Não sou dado à pena. Não nasci para escrever. Às vezes me aventuro nesta seara, para desafiar as minhas próprias limitações. É o que me proponho a fazer, consciente das minhas impossibilidades, lanço-me a este desafio com muita humildade, na certeza de poder contar com a paciência e a compreensão de todos os meus leitores. Apego-me também àquele adágio que reza:

“para se realizar na vida, o homem, precisa ter um filho, plantar uma árvore e escreve um livro”. Faltava-me o último! O qual, nesta ocasião, busco realizar.

PREFÁCIO EM POESIA

(Composto por ocasião dos 64 anos da Igreja Batista de Astorga. E dedicado às Igrejas, que pela Graça de Cristo pastoreei). 17/12/2014

O SONHO DO PASTOR

Em todo tempo da minha vida

Eu sonho com nossa igreja sem parar

Penso nos crentes trabalhando nesta lida

E alegre eu prossigo a sonhar

Vejo toda membresia caminhando

Com desejo de almas pra Cristo ganhar

Neste sonho todos nós vamos marchando

Conquistando vitórias, e ao nosso Deus louvar

Este sonho pode tornar-se realidade

Se toda a igreja, o sonho abraçar

E assim cada um nesta cidade

A obra do Senhor vamos realizar

A Deus toda honra e toda glória

Por este grande dia sem par

É do Senhor está bela vitória

E também deste povo que sabe amar

No aniversário da nossa igreja

Os 64 anos vamos juntos festejar

Fique marcado em toda nossa peleja

O tempo que Deus nos concede sonhar

Que Deus nos abençoe com seu favor

A vida que Ele nos outorga

São os votos deste pastor

Aos crentes da igreja batista de Astorga

Eu sei que todos vocês estão pensando

Nestes versos que faço com forte emoção

Cada crente cantando e orando

E nas mãos de Deus colocando o seu coração.

E aqui vou depressa parando

Sem mais delongas finalizar

Porque se não todos vocês vão pensando

Que eu não quero mais parar de sonhar

INTRODUÇÃO

Há experiências na nossa vida cristã que são tão autênticas, tão fortes e algumas até cômicas, as quais valem a pena o registro, seja por simples curiosidade, seja para o enlevo espiritual, seja pela apreciação deste estilo de literatura.

Normalmente se tratam de momentos únicos, singulares e espontâneos que acontecem no dia a dia e que refletem a simplicidade e a singeleza de vida e expressão do ser humano que, sem maldade ou malícia, refletem a sua cultura, sonhos, erros e acertos, em seu linguajar chulo e ao mesmo tempo belo e significativo.

Por vezes, esta forma de expressão se torna mais clara e direta, melhor definindo um fato ou um estado de espírito, justamente por não serem rebuscadas, sem rodeios acertam o alvo da objetividade, compondo o cotidiano no qual estão inseridos o pastor, as ovelhas, os missionários e toda a coletividade.

Creio que vale a pena registrar episódios da vida real, procurando valorizar também estes momentos singulares.

Nosso desejo é que estas “histórias” sirvam de inspiração na vida de todos àqueles que tiverem a oportunidade de apreciar esse tipo de expressão literária, sem qualquer intenção de denegrir a imagem de alguém e sem querer provocar malícia no leitor.

Esperamos que seja uma leitura agradável e enriquecedora, desse modo, fazemos votos de que sejam momentos de alegria e de reflexão para o reconhecimento das grandes bênçãos de Deus.

I – O VAGALUME

(...) E um vagalume lanterneiro, que riscou um psiu de luz. (Guimarães Rosa).

Em um vilarejo, chamado Moura, ao sul de Évora, Portugal, em uma tarde “iluminada” de domingo, cultuávamos a Deus, juntamente com irmãos da pequena Missão da Igreja Batista de Évora.

Nessa tarde ensolarada, marcada pela curiosidade do povo ante ao evento missionário conduzido por nós, brasileiros, o grupo de umas quarenta pessoas, se reuniu na casa dos irmãos Antônio e Maria, pessoas humildes e sinceras em sua vida cristã.

Iniciado o culto, com cânticos, leituras bíblicas, orações e a pregação do Evangelho, resolvemos apresentar o Plano de Salvação, em uma linguagem simples e firme àquela gente tão simpática e dócil.

Até aquele momento, não imaginávamos que a barreira do idioma pudesse nos trazer alguma preocupação ou surpresas, pois ambos falamos o Português, eles por raízes profundas e históricas e nós, pela colonização e hegemonia da língua em nossa nação brasileira.

Ao final da mensagem, procuramos ilustrar a pregação, explicando que o verdadeiro crente vive brilhando com sua vida e seu testemunho em meio a um mundo tão tenebroso e dominado pelo pecado.

Achamos, nesse ponto, profundamente inspirativo ilustrar a explanação com a figura do vagalume, “brilhando e vagando em uma noite de densas trevas”..., todavia, nesse momento, o irmão Antônio interrompeu a pregação e perguntou: - mas..., Pastor, o que é um vagalume?

Um pouco surpreso com a pergunta, pois já tinha visto vagalumes em Évora, mesmo assim procurei explicar definindo-o como um pequeno inseto que possui luz própria em seus olhos ou em seu ventre, piscando enquanto perambula pela noite escura.

Nesse instante foi que o irmão Antônio novamente interrompeu e nos blindou com esta pérola que reflete o regionalismo e a versatilidade da nossa língua portuguesa: - Ah, Pastor, esse eu conheço! Esse é o “caga-luz”!!!!!

- “É isto aí, meu irmão!”

Achei que foi um bom momento para finalizar a exposição, um pouco atordoado com a simplicidade, a espontaneidade e a ingenuidade do irmão Antônio Castelo, mas, feliz, pois percebi que a mensagem alcançou o entendimento e, quiçá, o coração daquelas pessoas queridas.

II – ENGOLINDO À SECO

Nos anos idos de 1972 a 1975, pastoreávamos a Primeira Igreja Batista de Macaé, no Rio de Janeiro, anos difíceis e trabalhosos, porém, gratificantes pela oportunidade de servir na Obra de Deus.

Em nossas visitas procurávamos pregar o Evangelho e ganhar as pessoas para Jesus. Foi assim que alcançamos a família do irmão Honório, sua esposa Maria e a neta que morava com eles, Joana D’arque.

Era uma família querida, a começar pelo irmão Honório, um homem magro, moreno claro, alto, um tanto esguio, de andar lento e encurvado. Era uma figura interessante! Também, não era do tipo “consagrado”, talvez pelas limitações que ele tinha.

Mas, o irmão Honório, ia à igreja dominicalmente. Sabíamos que ainda carregava alguns hábitos da velha vida, entretanto, sempre mantínhamos a esperança de que um dia Deus pudesse fazer uma obra completa em sua vida.

Certo dia, quando andava pela Rua Direita, dobrei uma esquina e dei de cara com ele, o qual vinha distraidamente com uma “bituca” à boca, dando baforadas tranquilamente...

Quando me viu, talvez pela surpresa do momento, em um gesto rápido, assaz, inconsequente, para esconder seu pequeno delito, engoliu o cigarro aceso, visando camuflar aquele incidente infeliz.

De minha parte, apenas o cumprimentei educadamente e continuei o meu caminho, na certeza de que ele passara um momento constrangedor e na esperança de que não sofresse maiores danos em sua saúde.

III – MALDITO CIGARRO D’ALÉM MAR

“as contradições nos definem e ao mesmo tempo nos desmantelam”. (Gore Vidal).

Havia na cidade de Évora, uma família muito querida, os irmãos Damião e Joana, um casal de idosos que viviam muito solitários e, por isso, eu e a Silvia, sempre que íamos à congregação de Moura, nós os chamávamos para irem conosco.

Porém, um dia em que chegamos à casa destes irmãos, encontramos o Damião fumando tranquilamente um cigarro.

Ao perceber nossa presença, num gesto rápido, tirou a “bituca” da boca, ainda acesa, e a colocou imediatamente no bolso da sua calça.

E assim, um pouco desconcertado, aproximou-se da gente... Senti que deveria fazer de conta que nada havia acontecido

Entregando, após alguns minutos de cumprimentos e conversas, começou a sair fumaça do bolso e vimos que a sua calça estava se queimando. Preocupado e surpreso, gritei com ele... e ele saiu correndo para casa..., alguns minutos depois, retornou com outra roupa.

Desta forma, entramos todos no carro e partimos para a congregação de Moura.

Estávamos todos em silêncio, e segurando o riso, quando o irmão Damião concluiu: - este maldito cigarro..., ora, pois, pois...!

DESFAZENDO CRENDICES E SUPERSTIÇÕES

A caminhada na fé dos queridos irmãos Damião e Joana fora lenta e trabalhosa, inclusive com oportunidades de para se corrigirem algumas crendices e superstições, estas embora não invalidem a Fé, podem enfraquecer o seu conteúdo e desviar o foco do seu fundamento que é Jesus Cristo.

Convidamos a irmã Joana e o seu esposo Damião,-aquele mesmo do cigarro incendiário -, para almoçar em nossa casa em um domingo.

Já assentados à mesa, quando fomos orar, a irmã Joana interrompeu-nos para virar o pão que estava sobre a mesa, “de cabeça para cima”, porque, disse ela: - “pão virado de cabeça para baixo (com o corte) traz fome à família e é desrespeito para com o alimento”.

SALVAÇÃO UNIVERSAL

Melhor lógica teve o irmão Avelino, que ainda não tinha aparecido na história: - “Pastor, eu tive vontade de evangelizar este guarda, mas quando o vi tão impertinente, fiquei com receio de encontra-lo no céu”.

IV – UMA TROVA EM ÉVORA

Os poetas são realmente especiais, assim era o irmão Jacinto, porém, os versos seguintes recitados por ele um uma das nossas reuniões, até hoje me intrigam, pela complexidade e subjetivismo.

Que os que vieram possam voltar

E os que não vieram que não saiam mais

Para que os que vieram permaneçam

E os que não vieram estejam em paz.

V – LUTANDO COM JOANA D’ARC

O trabalho pastoral exige abnegação e autonegação constante, ser pastor é ser humilde e respeitar a ação do Espirito Santo, verdadeiro convencedor do pecado, da justiça e do juízo, conforme prenunciado pelo evangelho de João, especialmente no capítulo dezesseis.

Entretanto, mesmo os mais calmos e resilientes, por vezes, perdem a paciência e se tornam contundentes em sua resposta, não que eu recomende o procedimento, mas assim aconteceu...

Estávamos evangelizando uma jovem em sua casa, seu nome era Joana d’Arc.

Estavam presentes seus avós, Horácio e Luíza, membros da nossa igreja, e todos acompanhavam compenetrados na explanação do Plano da Salvação.

A certa altura da conversa a jovem me disse, em tom forte e incisivo, próprio daqueles que julgam serem os “donos da verdade”:

- Ah Pastor, religião é para quem não tem o que fazer! É caretice!

Resolvi retrucar e responder no mesmo tom...

- “O porco vive na lama, gosta da lama e se sente bem, ... assim é o homem que vive no pecado!”

- O homem vive na lama do pecado!

Pela Graça de Deus, que deu força aos argumentos, duas semanas depois, a irmã Joana d'Arc se manifestou após o culto, dizendo receber a Cristo como Salvador e Senhor!

VI – EITA CIGARRINHO BOM!!!

A Espanha é um dos países que tem maior índice de fumantes. Muita gente preserva esse hábito nada saudável como um estilo de vida em liberdade. Tanto é que, por incrível que pareça, até crianças fumam.

Fomos, em certa ocasião, convidados para participar de uma campanha evangelística na cidade e província autônoma de Múrcia, sudeste da Espanha, e juntamente com o Pastor Fernando Vergana, desfrutamos daquele trabalho.

Pela graça de Deus, em todas as noites tivemos decisões que muito alegraram os nossos corações.

Creio que na última noite, naquele espaço de lona preparado estrategicamente para as reuniões, cerca de dez pessoas fizeram uma manifestação pública de receber ao Senhor Jesus como salvador.

Ao término daquele abençoado culto, mantivemos os decididos para uma habitual conversa de orientação aos novos crentes.

Em meio à conversa, um dos decididos tirou o seu cigarro do bolso, acendeu-o, e dando uma gostosa baforada exclamou: - “como es bueno recibir a Jesus Cristo como Salvador!”

Tive que rir e comentei: - “mira, qué forma tan diferente de expresar tan grande alegría”.

VII – DONA OU SENHORA?

Como bem sabemos, a língua é um organismo vivo, me referindo ao vernáculo, claro! Mas, por vezes as variantes regionais da língua portuguesa podem, ora nos surpreender, ora nos intrigar, já que, sobretudo, a língua é apenas um dos instrumentos da comunicação, com símbolos e significados que variam ao longo do tempo, modificando seus termos e aplicações.

Assim é que, na data de 07/04/1984, ao visitarmos uma senhora idosa, portuguesa, nascida e criada próximo de Lisboa, senhora Chica, acompanhados da irmã Ana e de Dona Laura, tivemos a oportunidade de um aprendizado interessante quanto à correta aplicação do vocativo “Dona” e “Senhora”.

A visita fora tão agradável e abençoada, mas em uma certa altura chamei a Senhora de Dona Laura, recebendo a devida e esclarecedora observação desta que não era Dona...descobrimos, então, que antigamente as senhoras casadas somente recebiam o tratamento Dona, se tivessem algum “dom” ou se tivessem “posses”... somente as ricas eram “Donas”.

VIII – UM POUCO MAIS DA LÍNGUA DE CAMÕES

Desta vez viajávamos eu e o irmão Carlos quando, em uma aldeia distante de casa, paramos em uma tasca para um petisco e alguns gajos comentavam: “o gajo estava morto e não se levantou”..., ri muito da afirmação, pois em nossa lógica brasileira seria redundante e óbvio um morto não se levantar, porém, o irmão Carlos afirmou que o reflexivo da língua portuguesa estava correto! Guardei o aprendizado e seguimos viagem.

IX – UM DRINQUE INUSITADO

Nos Açores, na época de Natal até o dia de Reis, é costume da garotada sair de casa em casa a fim de perguntar: “o menino mija?” – Se a resposta da pessoa da casa for: “mija, sim!” – Dão então um copinho de qualquer bebida forte a cada um dos meninos visitantes.

X – TUDO POR AMOR À DRAMATURGIA

Morávamos em Nuevo Horizonte, Bolívia, onde trabalhávamos com a Igreja Batista do povoado e também com a Escola Batista que tinha 350 alunos. Era uma escola rural e além de lecionar, tínhamos a oportunidade de trabalhar com os alunos, procurando levá-los a Cristo.

Numa tarde de domingo pudemos batizar 47 deles, entre eles o Aurélio. Este se tornou líder dos jovens e estava sempre à frente arregimentando o grupo e desenvolvendo muitas atividades na igreja.

Certa ocasião, os jovens liderados pelo Aurélio ensaiavam uma peça teatral muito interessante: um fazia o papel do jovem crente dedicado, outros dois eram os incrédulos, o Aurélio fez o papel de um jovem que estava na igreja, mas, recebia influências dos jovens incrédulos.

Em dado momento da apresentação, o Aurélio que estava “se desvirtuando” dos caminhos do senhor, tirou do bolso um maço de cigarro autêntico, acendeu e fumou sossegadamente, desfrutando das baforadas por um bom tempo..., depois, tomamos o conhecimento de que ele comprou o maço de cigarros apenas para tornar aquele momento bem real. Tudo por uma boa causa!

XI – FOI POR UM TRIZ

Uma das grandes recompensas do trabalho missionário é a oportunidade de sempre conhecermos pessoas novas e aqui e acolá vivenciarmos experiências inusitadas em culturas e povos diferentes.

Assim oi que trabalhando em Évora, nosso campo missionário da Junta de Missões Mundiais, tínhamos a incumbência de dirigir a Igreja Batista que contava, na época, com uns 20 membros.

Nesse tempo, começou a frequentar nosso trabalho uma família holandesa, recém-chegada do seu país, estabelecendo-se em nossa cidade. Eles compraram um sítio onde criavam vacas holandesas, produziam leite, queijos, etc., com a aproximação, nos tornamos amigos,... foi uma experiência marcante.

Certo dia convidaram a nossa família para um almoço em sua casa, no bom estilo holandês.

A casa era típica, com arranjos próprios de residência nórdica. De igual modo a comida, saborosa e atraente. De nossa parte, comemos aquela comida com muita alegria e cordialidade... foi um momento impar de grande descontração e desfrute.

Após o almoço e a lauta sobremesa, ele nos convidou para nos dirigirmos para uma sala de estar, lugar aprazível, onde nos sentamos numa confortável poltrona.

A seguir trouxe uma caixa de charutos cubanos e nos ofereceu dizendo: “Pastor, hoje é um dia especial e nós temos o hábito de desfrutar deste momento com um bom charuto!” A esposa já se posicionava no banco do cravo e ia tocando músicas de sua terra natal, formando um ambiente sui generis..., gentilmente expliquei-lhe que não tinha o hábito de fumar e agradeci..., porém, minhas explicações foram insuficientes e insistiu: “mas hoje é um dia especial!” Continuei firme na minha argumentação..., mas não adiantava! Nessas cerimônias foram uns 10 ou 15 minutos de “luta titânica”, e sempre com a explicação de que, segundo os hábitos daquele povo, todo o momento especial e significativo deve ser celebrado com um bom charuto.

Não se tratava de apenas tragar a fumaça, como um mero fumante, mas sentir o sabor daquele “objeto inflamado” e soprar aquela fumaça exótica.

Num último momento, quando não via mais saída e já estava prestes a ceder, pelo cansaço e por estar encurralado naquela situação, finalmente ele disse: “bem, então eu vou fumar sozinho este charuto!”

Ufa! Agradeci a Deus em espírito por aquele livramento. Foi por um triz...

XII – UMA CONVENÇÃO MEMORÁVEL

Logo que chegamos a Portugal, aconteceu no Templo da 3ª Igreja Batista de Lisboa, o Conclave da Convenção Batista Portuguesa. Para mim e família, tudo era novidade, estávamos felizes com o nosso novo campo de trabalho e nos relacionávamos com o maior número possível de irmãos esperando conquistar muitas amizades.

O desenrolar da assembleia foi tranquilo, mas o estilo português de realizar as coisas é sempre um tanto “diferente”...

Dois episódios ilustram bem o que digo e nos chamaram a atenção: primeiro, era início do ano de 1980, ano em que, no dia primeiro de janeiro ocorreu forte terremoto nas ilhas de Açores, matando muitas pessoas e deixando milhares de desabrigados.

Nessa assembleia convencional fora discutido amplamente o apoio que deveriam mandar para as vítimas e a discussão arrastou-se por horas, pormenorizando-se os detalhes da tragédia, bem como as peculiaridades do envio das ofertas.

Curiosamente, o “pegou” na discussão e que levou mais tempo para definir, foi a questão do termo “fenômeno telúrgico” ou “fenômeno telúrico”, os nossos amigos portugueses são muito detalhistas, além de utilizarem a língua pátria sempre no melhor estilo “camonico”.

Da nossa parte, apenas observávamos e, por vezes, ríamos um pouco dessa diversidade de modos e procedimentos, foi interessante!

O segundo episódio, não menos cômico e igualmente intrigante, foi que muito breve havia acabado a cerveja na cantina da igreja, fato que gerou protestos veementes de uma velhota, irmã nossa, que muito zangada, por não poder refrescar a sua garganta, assim se expressou diante do grupo: - é inadmissível que não haja cerveja suficiente numa Assembleia Convencional!

XIII – E NA CONVENÇÃO BOLIVIANA...

Antes de relatar os fatos, me lembro com saudades de alguns nomes que marcaram nossa história naquele país e que ainda hoje estão gravados em nossa memória: Pastores Herman Artega, Gabriel Monteiro, Juan Cesari, Raul Aponte, Pedro Zeballos, Nério Céspedes, Pedro Ibañes, Edmundo Añes, Cezar Arandia, Damian Cesari, Vidal Ortunzo, e irmãos Daniel, Horácio, Silas, JC, Isaias, Samuel e outros.

Este fato se deu na Assembleia da Convenção de 1978, na cidade de Santa Cruz de La Sierra, na Igreja do Pari...

As discussões acaloradas faziam a reunião literalmente “pegar fogo”, eram brigas, problemas, discussões..., à frente Raul Aponte e Edmundo Anêz tentavam em vão aplacar os ânimos e pôr alguma ordem nos trabalhos, quando, em dado momento, estourou um botijão de gás (desgarrou-se a válvula da garrafa) e houve um desespero, um corre-corre... todos se “evaporaram” do templo..., pela providência divina, não houveram vítimas mais graves, somente roupas arrebentadas, botões arrancados, arranhões...

De resto, a providência divina foi perfeita para acalmar e ajustas os ânimos, pois, daquele ponto em diante, os trabalhos seguiram um viés muito mais harmônico e fraterno.

XIV – HOJE VOU LUCRAR

Morávamos em Chaves, Trás-os-Montes, província localizada no extremo norte de Portugal. Cidade milenar e cheia de marcos históricos, na fronteira com a Galícia, parte fria da península ibérica. De quando em quando, recebíamos a visita do companheiro missionário Elton Rangel, que atuava na ilha de São Miguel dos Açores.

A visita do irmão Elton sempre nos era um tempo gostoso de confraternização e descontração em meio ao cansaço de nossa atividade estressante.

O trabalho missionário em Portugal é muito grande e os resultados escassos, pois, apesar da religiosidade do povo, este se mostra fechado para o evangelho puro.

Apesar disso, estávamos num clima de muita alegria e nos envolvemos no preparo de um apetitoso almoço que conduzidos pelos dotes culinários da Silvia, por certo culminariam em um momento de desfrute e vibração dos brasileiros em terra distante.

Nesse propósito, eu e o Elton, ainda engravatados, fomos ao talho (açougue) providenciar a carne. Ali chegando vimos uma bicha (fila) muito comprida e ali, pacientemente, nos postamos.

Nesse momento, um dos atendentes se colocou ao nosso lado, provavelmente com o pensamento de fazer um bom negócio.

Percebendo a situação, Elton, espirituosamente diz: “- Zé, vamos fazer hoje uma extravagância?” Ao que imediatamente respondi: “- sim, e vamos levar muita carne. Quanto vamos levar? Elton responde: “- cinquenta gramas de carne!”. O vendedor, com os olhos arregalados contesta: “-mas é muito pouco!” Mais uma vez eu e o Elton falamos: “- então vamos levar mais, umas sessenta gramas!” ... foi quando o moço concluiu: “ ah, são brasileiros!”

XV – ERRATA!

O trabalho de missionários e evangelistas nos obriga a conhecer pessoas e sempre que possível nos referirmos aos seus nomes expressamente, cada alma é um alvo, cada alvo tem um nome, aliás, alguém já disse que no ministério cristão, - "não é a propaganda que é a alma do negócio; mas, a alma é o negócio"!

Pois bem, um dia faleceu um irmão da igreja o senhor Antônio, esposo da irmã Deodata e fomos avisar a irmã Ana que era amicíssima dela e, coincidentemente, estava com o esposo acamado, recém-saído de uma internação hospitalar...

Em lá chegando, troquei os nomes, afirmando à irmã Ana que o senhor Augusto tinha acabado de falecer,... Imediatamente ouvimos a voz (oportuna) do senhor Augusto que do quarto gritava: “– Ei, Ei, eu não”!

XVI – SANTAS IGNORÂNCIAS

Por quase seis anos estivemos trabalhando na cidade de Évora, capital da Província do Alto Alentejo. Évora é considerada a cidade museu de Portugal, tendo ali funcionando ainda a Universidade onde estudou Vasco da Gama. Foi também um lugar onde imperou o catolicismo romano.

Quando ali morávamos, a cidade contava com aproximadamente trinta mil habitantes, mas tinha quarenta e oito templos católicos e trinta e dois conventos.

Em uma certa ocasião, estive ali visitando o Convento do Cartaxo. Um dos votos que os monges ali fazem é o de não ter contato algum com a água. Vivem encapuçados, a pele se torna oleosa e evitam qualquer contato com o mundo exterior.

Existem na cidade muitos monumentos históricos, como as ruínas do Templo de Diana, construída no primeiro ou segundo século de nossa era, representando um marco da presença romana no território português. Há ali também uma ermida, a de São Brás, construída no ano 750, mais ou menos. As ruas e ruelas estreitas da cidade são calçadas de pedras. Tudo cheira à antiguidade. A beleza da terra é Proverbial, pois o seu povo gosta muito de festas, poesias e canções. Todavia, a canção alentejana, além do sotaque típico e engraçado, muitas vezes é triste, outras alegres, mas sempre busca retratar a vida sofrida deste povo interessante.

Dentre os muitos templos da cidade, encontra-se ali a Catedral de São Francisco, uma das maiores do mundo, possuindo inclusive muitas capelas ligadas a este templo. Talvez uma das mais famosas seja a “Capela dos Ossos”, capela macabra, construída no século XVII por monges franciscanos. Dela falaremos mais adiante.

Há aproximadamente cem metros desta catedral, funcionava nosso pequenino salão de cultos, à rua Romão Ramalho, nº 132, em um prédio antigo, de paredes largas de pedra e vigas em forma de arco, um antigo lagar onde se fabricavam o azeite típico da região.

Em certa ocasião, tivemos um problema nas instalações elétricas e solicitamos à Companhia de Eletricidade que nos mandassem alguém para ajudar.

Recebemos, então, a visita de um técnico que conseguiu solucionar o problema, para não perder a ocasião, ao final fui conversar com ele e falar-lhe sobre Jesus...

Iniciei assim a conversa: - “conheces Jesus”?

Ao que ele me questionou: - “e ele frequenta esta igreja”?

Desde então percebi que o trabalho seria árduo!

XVII - LUGAR NADA DISCRETO

Meus pais foram nos visitar quando nos encontrávamos em Portugal, Évora. Foi um tempo gostoso e cheio de alegrias para todos nós. No domingo, estávamos na nossa igreja, felizes cultuando o nosso Deus.

Após o culto da noite, eu me encontrava à porta, como era de costume, cumprimentado os irmãos. Chegou um jovem aflito nesse momento e eu pedi que aguardasse um minutinho que iria atendê-lo. Minha mãe, muito solícita, aproximou-se dele e perguntou se ela podia ajudar, se gostaria que orasse por ele..., foi quando o gajo, com ares de naturalidade e espontaneidade respondeu: “- eu estou com problema no rabo!” (rabo, é o traseiro ou o assento da pessoa). Minha mãe ficou vermelha, quase caiu de costas e retirou-se sem poder ajuda-lo.

XVIII – DOIS BATISMOS

Desta vez a viagem missionária foi para Izozog, melhor definido como Bañados de Izozog, Bolívia, composto pela região do Gran Chaco, habitat de diferentes comunidades de plantas e animais característicos da região do Chaco, região hidrologicamente ligada à bacia amazônica.

O objetivo da nossa viagem era evangelizar e batizar uma tribo de índios guaranis, a aldeia localizava-se a aproximadamente seiscentos quilômetros mata adentro. Para lá rumamos eu, o irmão Roger Aguirre, secretário de missões nacionais na Bolívia e outros sete irmãos.

Foram dias de estudos bíblicos e muita festa naquela aldeia (Pueblo Nuevo). Deus abençoou ricamente as nossas vidas e nos alegramos muito com a vibração daquela gente.

Ao final destes estudos e dos cultos que eram realizados durante todo tempo, aproveitando ao máximo nossa estadia ali, pude batizar dezessete irmãos que espontaneamente se apresentaram, dentre eles o cacique.

Realizei os batismos, saí da água para me trocar e voltei novamente para o pequeno lago a fim de lavar meus pés e calçar as meias. Porém, nesse momento escorreguei e mergulhei completamente com roupa e sapatos na mão..., fui batizado à força, nessa ocasião festiva..., o cântico foi interrompido e uma gostosa gargalhada soou por parte dos fiéis que assistiram àquela cena patética.

Aleluia!

XIX – FOGO EM LUGAR IMPRÓPRIO

Por volta do ano de 1980, participamos de uma reunião de pastores na cidade de Faro, província de Algarve, localizada no extremo sul de Portugal.

O pastor que transmitia a palavra procurou despertar os ministros ali presentes com muita unção. Ele usou o texto bíblico que falava de Sanção, de sua coragem, valentia e determinação, ao atear fogo no rabo de raposas e assim incendiar a seara dos filisteus...

Ao final da mensagem houve um período de oração em que todos ali tiveram a oportunidade de interceder pela obra e por seus ministérios. Foi quando um sincero obreiro assim se expressou: “Senhor, põe fogo no rabo dos teus servos hoje!”

(obs.: rabo em Portugal é o mesmo que nádegas, ou “trazeiro”, como se costuma dizer aqui no Brasil).

XX – TOUCHÉ

Um senhor em Macaé, Rio de Janeiro, chamado Silas Almeida, que tinha sido membro da Igreja, irmão do Pastor Daniel Almeida da segunda igreja batista, chegou em minha casa, bêbado e desesperado, queria conversar comigo...

Dizia que não sabia o que fazer e que o diabo estava arrastando ele. Li a bíblia, orei e conversei com ele numa luta muito grande, conduzindo-o a uma tomada de atitude na sua vida. Senti que estava realmente desesperado e entregue ao pecado.

Entretanto, humanamente falando, percebi que tudo o que tínhamos feito ali, fora em vão...

Finalmente ele me disse: - Já me vou, Pastor! Eu conheço o Evangelho, mas estou perdido! Saindo daqui não sei para onde eu vou!

Busquei então como último recurso a “caixinha de preciosas promessas” e estendi para ele. Ele tirou o seguinte texto, que o transformou naquele momento:

“Para onde iremos nós se só tu tens as palavras de vida eterna?” (João 6:68).

Foi quando ele rapidamente disse: - vou voltar para o meu Deus!

XXI – ESTRANHA CONVERSÃO

Paula, filha da irmã Deodata, era professora de crianças na Escola Bíblica Dominical em Évora.

Porém, muita coisa foi acontecendo na vida desta jovem que a levou a uma perturbação de ordem física, psíquica e emocional. Creio também que ela brincou com Deus, naquele tempo mais ameno da crise...

Foi também um tempo de exercício da fé para mim e minha esposa. A Paula vinha a nossa Igreja toda empetecada, trazendo sempre um grande ramo de flores e um periquito em uma gaiola.

Essa cena patética e desconcertante era dominical, era triste vê-la na saída da Igreja, com suas roupas estrambólicas, recitando poesias antigas de maneira entusiástica e chamando atenção de todos.

Foi um tempo em que eu a Silvia orávamos muito por ela, pois sabíamos que o inimigo a usava fortemente, destruindo a sua vida e afetando a igreja.

Um dia, com muito amor, nos aproximamos da Paula e tentamos explicar-lhe que era uma jovem crente e devia evitar aquele comportamento, pois já tínhamos procurado fazer de tudo.

A família também não sabia o que fazer. Foi quando ela me respondeu em tom “convicto”: - O periquito já é crente!

(Infelizmente, o fim da Paula foi trágico. Ela se envolveu com drogas e acabou falecendo em um acidente entre o seu carro e um trem).

XXII – ENTREGA TEU CAMINHO AO SENHOR...

No final do meu pastorado em Macaé, em uma manhã, veio em minha casa o irmão Márcio Passos, homem crente, mas não muito firme, de vida espiritual inconstante e não dizimista.

Aproximou-se de mim nervoso, chorando, pedindo a exclusão da igreja porque iria matar um senhor chamado Valdelírio (este era ex-tesoureiro, porém, estava excluído da igreja).

Ocorre que o senhor Valdelírio havia alugado do irmão Márcio Passos uma saleta para açougue e no decorrer do tempo surgiram problemas quanto ao aluguel, pois o senhor Valdelírio foi danificando mais e mais aquela sala comercial, gerando aborrecimentos e preocupações.

Nesse passo, o irmão Márcio pediu as chaves e nessa luta permaneceram por dois ou três meses, sentindo o locador imensamente afrontado pelo locatário.

O tempo agravou o problema até que um dia, muito irritado, o irmão Márcio propôs-se em matar seu inquilino...

Antes, porém, foi conversar comigo. Conversei muito com ele, lemos a Bíblia e oramos. Disse a ele que este problema deveria estar nas mãos de Deus. Finalmente se convenceu de que deveria ter paciência e entregar o problema ao Senhor. Ao voltar para sua casa, sua esposa entregou as chaves do estabelecimento... o problema havia sido resolvido!

“Entrega o teu caminho ao Senhor, confia Nele, e Ele tudo fará”. (Salmo 37:5).

XXIII – A SAGA DA PORCA

Estávamos vivendo em Novo Horizonte, a uns cem quilômetros de Santa Cruz de La Sierra, Bolívia, no ano de 1977, morávamos na propriedade da Escola Batista, onde também trabalhávamos.

A igreja no povoado estava crescendo e era o local onde uma pequena multidão concorria todos os domingos pela manhã e à noite.

Nesse tempo, não era comum as pessoas terem dinheiro em suas mãos, o escambo era prática comum e costumeira, por isso ensinamos as pessoas a trazerem seus dízimos e ofertas com o fruto da terra. Assim, arrecadávamos arroz em grãos, arroz pilado, tomate, milho, ovos, mandioca, galinhas, patos e, às vezes, porcos e até cabritos..., tudo era levado e depositado no momento do ofertório.

Para variar, quase tudo, como missionários, era comprado por nós. Deste modo, acabamos formando um aviário em casa que foi crescendo até termos umas cento e cinquenta galinhas e uns cento e vinte patos, foi um tempo de muita prosperidade e fartura.

Quando havia festa na igreja, nós ofertávamos patos e galinhas para o almoço. Desta forma, conseguimos erguer um templo de alvenaria com capacidade para mais de quatrocentas pessoas.

Certa ocasião, um senhor de nome Don José, homem muito incrédulo, mas que era morador também do povoado, arranjou uma porca grande com o objetivo de cria-la “à meia” com outro senhor também descrente.

Este senhor começou a soltar a porca durante a noite para comer os patos. Na primeira noite foram cerca e trinta patos comidos pela porca. No dia seguinte fui à casa desse senhor e fui tratado com desdém, rindo inclusive da gente e desprezando da nossa presença ali. Passados mais três dias, o senhor soltou novamente a porca durante a noite e lá se foram mais uns vinte patos.

No dia seguinte fui ao Corregedor do povoado, Don Nico, uma espécie de delegado de polícia, e notifiquei a ocorrência, registrando assim, formalmente, a queixa.

Minha reclamação de nada adiantou, pois uma semana depois o homem voltou a soltar a porca, todavia, desta feita, um professor da Escola Batista, que também já estava chateado com a situação, ficou à espreita e quando a porca novamente atacou os patos, este atirou, matando o animal, mas não antes que esta matasse mais uns cinco patos.

Imediatamente alguém correu avisar o dono que, rapidamente, veio com uma carriola pronto para carneá-la, permitindo que todos, inclusive o senhor corregedor vissem a prova do crime.

Nesse momento, senti que deveria tomar uma atitude radical: entrei com um processo perante o corregedor, pedindo reparação pelos danos causados pela porca e uma indenização pelos danos morais de $1.000 pesos bolivianos.

No dia da audiência estávamos todos lá, eu, minhas testemunhas e Don José, - homem incrédulo e debochado, criador da porca -, sendo a audiência presidida pelo senhor Corregedor.

Cada parte, oportunamente, declinou suas explicações, sendo que ao final a sentença restou-me favorável, surpreendendo inclusive o incrédulo devedor, que mesmo durante a audiência mostrava-se debochado e certo de que sairia livre da conta.

De minha parte, com a força da sentença proferida, propus que a conta fosse paga em no máximo vinte dias!

Todavia, surpreendentemente, o homenzinho pôs-se a chorar compulsivamente e suplicar que tivéssemos misericórdia dele...

Fiquei em silêncio, esperando que todos pudessem dar um parecer quanto à melhor forma de cumprimento da decisão, e foram unânimes no pensamento de que tudo deveria ser pago pelo homem, e rapidamente.

Quando, porém, me despedi de todos, senti a aflição do homem que “não tinha onde cair”..., voltei..., comecei a falar-lhes sobre o propósito da minha vida ali naquele povoado, que eu estava ali para pregar o evangelho, falar de paz, de amor e de perdão..., foi um momento em que pude falar de Cristo e perdoei o homem e toda a sua dívida. Ele me abraçou efusivamente e experimentamos um momento em que pudemos testemunhar de uma forma diferente, esquecendo-nos da porca e dos patos, suspiramos aliviados e nos abraçamos.

XXIV – DEIXA EU PEGAR A MINHA BÍBLIA

Por ocasião de um trabalho especial na Primeira Igreja Batista em Macaé, Estado do Rio de Janeiro, o Pastor Antonio Buchaim falava no decorrer da semana sobre Graça e santificação.

O ilustre conferencista achava-se hospedado em nossa casa, e aproveitamos esse tempo especial para desfrutar da sua presença sempre tão inspirativa e crescer no conhecimento da Bíblia e da vida cristã.

O Pastor Buchaim era um homem autêntico e dedicado em seu estilo de vida cristão, porém, não era alguém muito sociável, não tinha muitos amigos, talvez por seu jeito mais fechado e reservado, mas era um homem piedoso, consagrado e conhecedor profundo das Escrituras.

Um dia, após o almoço, quando estávamos sentados no sofá para um ligeiro descanso e digestão, deslizei minha mão na direção de uma revistinha de piadas familiares, tomei-a em minhas mãos e li a primeira, que por sinal era composta por uma série de definições filosóficas: o que é o sabão? - Produto que apesar de ter sido feito de cachorro, só anda nas mãos de gente limpa! (quá, quá, quá) ... dá licença, deixa eu pegar a minha Bíblia!

E saiu para o quarto austeramente...

XXV – QUEM É JESUS?

É costume nas igrejas batistas, antes de batizar alguém, realizar o que chamamos de “Profissão de Fé”, trata-se de um momento em que se investiga o grau de entendimento do batizando em relação às perguntas básicas da fé crista, dos fundamentos do Evangelho e de se verificar o ânimo deste em relação ao início de vida com Deus, o que realça a sua experiência de conversão.

Pois bem, em uma Assembleia, em Macaé, nesse momento tão significativo perante a igreja, havia três pessoas da Congregação de Califórnia, a qual era dirigida pelo irmão Moacir.

Na hora de questionar um velhinho, portador de limitações normais da sua condição de idoso, tentando facilitar, perguntei-lhe: Quem é Jesus para o senhor? – Jesus Pastor? Ah! Jesus é o meu padroeiro!

XXVI – EXPERIÊNCIA DURA

Fizemos uma viagem missionária com os índios Guaranis na região do Chaco Boliviano, região conhecida também como “Los Bañados de Izozog”, local inóspito e desafiador para a sobrevivência humana.

Viajamos por dois dias e duas noites, sem parar, no interior da selva, chegando por fim encontramos uma clareira onde esperávamos encontrar alguma água para beber, pois estávamos sedentos e desidratados pela longa e extenuante caminhada.

Infelizmente, não encontramos água potável, porém, encontramos uma poça de água da chuva, contaminada por excrementos de animais...

Mesmo assim, pelo desespero da sede, apanhamos uma canequinha que trazíamos conosco, escolhemos uma parte da cacimba natural, um pouco menos poluída e bebemos...

Foi uma experiência amarga, mas a necessidade nos fez bebê-la com sofreguidão...

XXVII – O DIA EM QUE TIVE DE LUTAR

Em meados de 1977, pastoreávamos a Igreja Batista de Novo Horizonte, mas foram momentos difíceis...

Alguns líderes da Igreja estavam dando mal testemunho, se envolveram com pessoas ímpias e acabaram por se comprometerem com o time de futebol do povoando, abrindo uma brecha para que o Inimigo entrasse na Igreja para criar uma série de situações complicadas.

Num domingo, após as classes da Escola Bíblica Dominical, quando entrávamos para o templo para o culto matutino, vi saindo das classes às escondidas todo o time de futebol, os atletas subiam em um caminhão estacionado na esquina de baixo para o jogo de futebol. O jogo aconteceria num campo onde a maior parte das pessoas eram incrédulas e em meio à imoralidade.

Naquela noite de domingo, o culto transcorria com naturalidade, aos poucos o povo chegava ao templo, mas pairava um clima de intranquilidade...

Bem ao final da mensagem, três homens bêbados, invadiram o santuário, vieram na minha direção, subiram trôpegos no tablado do púlpito para me baterem. Ninguém se levantou para me defender, até os diáconos ficaram parados, estáticos, sem iniciativa, acompanhando a tudo atônitos e inertes.

Quando percebi que eu teria que tomar sozinho uma decisão, agarrei um bêbado debaixo de um braço e o outro debaixo do outro braço, apliquei-lhes uma tesoura e os arrastei pela porta dos fundos, para fora do templo..., enquanto isso o terceiro bêbado me seguia atônito, passei a perna em um dos bêbados, desferi um golpe no segundo e, imediatamente, agarrei o terceiro, jogando-o em cima dos outros dois e me preparei para o revide...

Nesse momento chegou o Corregedor (Delegado), juntamente com outros três auxiliares para prender os ébrios meliantes. Estes, enquanto eram levados para a cadeia gritavam: “- nós vamos matar esse gringo!”

Entretanto, quando saí do templo levando aqueles bêbados, Dona Sílvia assumiu o púlpito, exortou a Igreja, enfatizando que havia pessoas que com o seu mal testemunho estavam chamando o inimigo para destruir a Igreja...

A palavra foi poderosa e tocou profundamente a Igreja, experimentamos um momento de contrição e quebrantamento e muitos se renderam aos pés de Cristo, consagrando suas vidas e confessando os seus pecados.

Esse foi um dia em que fui obrigado a lutar fisicamente, mas o mover do Espírito quebrantou mais gente, agradeço a Deus pelo livramento.

XXVIII – NÃO TEM NENHUM DEFEITO

Na cidade portuguesa de Chaves, na Província de Trás-os-Montes, por volta de 1980, evangelizávamos Dona Alcinda e o Senhor Alexandre, expondo o plano da Salvação de forma simples e direta.

Ao final da conversa ela fez a sua decisão ao lado de Cristo, já o Senhor Alexandre ficou num canto relutante e ressabiado...

Deixei a Senhora Alcinda ali, me aproximei do seu esposo, começando a falar-lhe de Jesus, em uma fala longa, até porque o homem não parecia esboçar nenhuma reação. Insisti na mensagem do evangelho por mais um tempo, até que sua esposa, analfabeta também, interrompeu o monólogo e tentou justificar a atitude do esposo caladão: - Pastor, meu marido é um santo homem! Homem bom, sem nenhum defeito. É o trigo sem joio! Homem muito bom..., isto é, só tem um defeito, é mau, é perverso, ao ponto de matar uma pessoa, quando está com raiva! “Ploft..., melhor não provocar!”

XXIX – QUE DEFUNTO PESADO!

Em Novo Horizonte, a cem quilômetros de Santa Cruz de La Sierra, faleceu um senhor idoso e, como era o costume, dirigi-me até lá a fim de levar uma palavra de consolo à família, testemunhar do amor de Deus e da esperança da uma vida eterna com Cristo Jesus.

Naquele tempo, no mato, quando morria alguém, as pessoas doavam tábuas velhas que eram utilizadas para fabricar o caixão bruto, da mesma forma era costume derreterem pilhas velhas (baterias de lanternas) e utilizarem o carvão derretido para pintarem o caixão de preto.

Na sequência, buscam-se um galho de árvore no mato, amarrando-o com cordas ao caixão recém-construído, forma-se uma espécie de liteira que será carregada ao ombro por dois homens até o cemitério.

Como estávamos ali apenas dois homens, coube a mim assumir uma das pontas da liteira rústica, colocamos os galhos nos ombros e suspendemos o caixão..., na hora senti que o peso seria demais para mim, os meus ossos estalavam, os músculos estiravam e as juntas doíam (pois eu não estava acostumado a carregar peso semelhante). Todavia, apesar do sofrimento, suportei heroicamente o martírio...

Ao retornar para casa, fui diretamente para a cama, onde passei dois dias me recuperando..., “eita” defunto pesado!

XXX – UMA MÚMIA

Realizei, em certa ocasião, um trabalho na Igreja Batista da Amadora, em Portugal.

Era mais ou menos no ano de 1981, em um agradável culto de domingo à noite, com o templo repleto de ouvintes, trouxemos a palavra e, ao final da mensagem fizemos o apelo e muitos, corajosamente, vieram à frente, consagrando suas vidas ao Senhor Jesus.

Após o final do abençoado culto, uma senhora idosa de uns setenta anos, juntamente com seu esposo, um senhor analfabeto, com aparência sofrida, me procurou:

- “Pastor, eu deveria ser uma missionária. Trabalhei quando jovem na casa da missionária Herodias Cavalcante e fiz uma decisão na minha vida de servir a Jesus. Queria me preparar, mas... vieram as lutas, depois me casei com esta “múmia” que aqui está...”.

Enquanto isso, o homem ouvia indiferente e resignado o desabafo ácido da esposa. Eu engoli a seco aquela conversa, enquanto ela concluiu:

- Agora tenho que suportá-lo até o fim...!

XXXI – SOMENTE QUANDO É PRECISO...

Jacinto Rato era irmão da nossa Igreja em Évora, homem dinâmico e muito exótico em relação às suas atividades laborais: vendia seguros, eletrodomésticos, consertava rádios, transportava pessoas em sua pequena van (furgonete) e ainda vendia pombos que eram abatidos do clube de tiro ao alvo da cidade, dentre outras atividades inusitadas.

Sua vinda para a Igreja ocorreu de maneira insólita. Duas irmãs o convidaram e ele veio a um culto de quarta-feira pela primeira vez.

Ao final do culto me procurou dizendo que gostaria de comprar uma Bíblia, ao que lhe respondi que a traria no próximo domingo pela manhã.

No domingo pela manhã realizamos um culto de profissão de fé, antecedido pela Escola Bíblica Dominical, onde cinco irmãos anteriormente preparados vieram à frente a fim de serem sabatinados quanto aos fundamentos da fé cristã e investigados quanto à firmeza das suas decisões em Cristo.

Surpreendentemente entre eles estava também o senhor Jacinto Rato, sua atitude me “desarmou”, portanto, nada disse e passei às perguntas de praxe aos batizandos, ficando feliz pois as respostas vieram a contento.

Nesse momento, resolvi me dirigir ao irmão Rato e lhe disse: - mas irmão, por que o senhor está aqui? Ao que ele respondeu: - porque eu recebi Jesus agora e quero ser batizado também! “Senti-me em apuros”! Foi quando um Diácono experimentado pediu a palavra e propôs que ele também fosse aceito para batismo. Houve apoio imediato da igreja, então me senti mais seguro e assim aconteceu. Naquela mesma noite batizamos aquele grupo de irmãos e entre eles o Rato.

Aqui, faço uma rápida digressão para esclarecer os costumes (nem sempre louváveis) do local. O Alentejo, na época, era um lugar interessante de Portugal, as mulheres trabalhavam muito, já os homens eram mais indolentes e machistas. Dentre os muitos hábitos estranhos era a existência das carpideiras, mulheres beatas contratadas para chorar nos velórios; outro costume, assaz reprovável, era que os homens costumavam bater em suas mulheres.

Um dia, na casa do irmão Rato, juntamente com sua mulher, eu toquei no assunto, afirmando que ele agora não deveria mais bater em sua mulher, nesse momento ela interrompeu a conversa e naturalmente afirmou: "eu só apanho quando é preciso!"

XXXII – A AVENTURA DA MOTO

Foi o nosso meio de condução na Bolívia, uma motocicleta JAWA – 250 cilindradas, fabricada na antiga Checoslováquia.

Nesse tempo, atendíamos à Igreja Batista em Nuevo Horizonte e duas noites por semana, as quintas e sextas-feiras, dávamos aulas no Seminário Batista de Santa Cruz.

Pilotando a moto, aproveitávamos para fazer compras na cidade e trazíamos algumas coisas para casa. Era uma viagem de cem quilômetros pelo mato e, em alguns trechos, enfrentávamos um “areião”, em outros trechos muito pedregulho, o que tonava a viagem sempre perigosa.

Certa vez, com a garupa cheia de compras, num determinado terreno pedregoso do caminho, perdi o controle da moto e ambos fomos jogados em uma pirambeira. Fiquei ferido levemente e o pior, as compras se espatifaram e se espalharam pelo caminho. Parei, orei, pedi a misericórdia do Senhor,... respirei fundo por alguns minutos e recobrando minhas forças, pela Graça de Deus, levantei, fui me agarrando nos arbustos, em um esforço titânico, até que consegui carregar a moto até a estrada.

Coloquei a moto encostada em um barranco e verifiquei alguns estragos; cabo da embreagem arrebentado e suportes dos para-lamas quebrados. Voltei, apanhei o que pude das compras e tentei empurrar a moto para fazê-la funcionar no “tranco”, já que a embreagem estava danificada.

Nessa hora passou por ali uma caminhoneta carregada de índios que eram minhas ovelhas no povoado,... Pararam e ficaram por algum tempo rindo de mim e da minha situação trágica (eles são sempre assim riem de situações trágicas e do infortúnio alheio, é algo cultural, mas me senti chocado e triste com aquilo!). Por fim ofereceram-se para levar-me na caminhoneta até o povoado, mas não pude aceitar, porque não poderiam levar a moto e, nesse tempo, ela era muito preciosa para mim e para a minha família.

Quando, enfim, a moto funcionou, pulei em cima e prossegui devagar a viagem, todavia, quando faltavam uns vinte quilômetros para chegar em casa, ao passar por uma ponte, os suportes dianteiros do para-lama atravessaram os raios da roda, a moto empinou e novamente levei outro tombo violento. O sangue escorria por minhas pernas e braços, senti uma sensação terrível naquele momento. Verifiquei que já estava escurecendo o dia e orando buscava em Deus força para me acalmar.

Levantando um tanto atordoado, respirei fundo, peguei os suportes do para-lama, abri-os com força para que não pegassem novamente nos raios da roda e forcei a moto novamente para pegar no “tranco”, pulei encima dela e cheguei em casa, todo machucado e sem as compras.

Foi bom chegar em casa, em minha “choupana”, onde era aguardado com ansiedade pela minha família

XXXIII – AINDA É LONGE CANAÃ...

O caminho do Ministério Pastoral, por vezes é pedregoso e árido, mas também é gratificante e é maravilhoso perceber o cuidado de Deus em toda nossa jornada.

Assim foi que recebemos tempos de prosperidade em Nuevo Horizonte, tanto que conseguimos comprar um veículo, deixando a moto para o trabalho da Igreja. Tratava-se de uma Jeep Willys, ano 1951. Foi um carrinho abençoado no trabalho e parceiro de grandes aventuras.

Como relatado na história anterior, todos os fins de semana eu viajava para Santa Cruz de La Sierra, a fim de dar aulas no Seminário Batista e fazer compras para casa.

Certa feita, quando deveria voltar para Novo Horizonte, caiu uma chuva forte e intermitente, por tantos dias que me impediu de voltar, fiquei preso em Santa Cruz e preocupado com a família que aguardava o meu regresso com as compras que tinha que levar. Foram quinze dias de prova dura.

Cansado e impaciente com tantos dias de espera, resolvi me lançar a uma aventura sem precedentes. Fiz uma pequena compra, coloquei-a numa mochila, tomei um ônibus para a cidadezinha que distava cerca de trinta quilômetros da nossa casa e, em lá chegando, por volta das quatro horas da tarde, comecei a minha peregrinação... Foram cerca de treze horas de árdua caminhada, amassando barro, viajando pela mata, auxiliado por um cajado improvisado que achei pelo caminho, enfrentando chuva, frio e perigos, pela Graça de Deus, cheguei em casa por volta das cinco horas da madrugada.

Assim que cheguei, ao tirar as botas enlameadas, senti os dedos dos pés colados, literalmente... A esposa foi imediatamente ao fogão a lenha esquentar uma lata d’água para o banho quente com “canequinha”... Meira hora depois, já limpo, adormeci como um leão, a roncar.

Este Jeep, que Deus me deu, traz à minha memória muitas recordações e aventuras vividas em terras e florestas bolivianas.

Certa vez, quando fazíamos uma destas viagens, à beira do Rio Grande, de água barrenta e caudalosa, muita chuva e lama, ao patinar em uma poça, quebrou a chaveta da roda traseira. Nunca fui mecânico, mas sempre fui curioso, e as circunstâncias do momento exigiam alguma criatividade..., assim, suspendi o carro com um macaco hidráulico e o problema mostrou-se visível, chaveta quebrada, uma pequena peça sem a qual a roda não se fixa e o carro não pode rodar.

Diante disso, procurei e encontrei um prego à beira do caminho e fui martelando-o com a chave de rodas, até fazê-lo quadrado, fabricando assim uma rústica, porém, funcional chaveta. Problema resolvido! Seguimos viagem...

Em uma outra viagem para uma congregação da nossa Igreja, Las Palmitas, levei o meu filho Marcos de quatro anos comigo, como companheiro de viagem. Repentinamente o tempo virou, vindo “surazo”, vento frio do polo sul que de quando em quando ocorre naquela região sempre de maneira inesperada. Tentamos voltar para casa a tempo, mas, um pneu do carro estourou e o vento frio chegou intenso..., ficamos no carro. Abaixei a lona da porta do Jeep e como não tinha agasalhos, procurei envolver meu filho no peito, abraçando e protegendo-o ao máximo daquele tempo terrível. Ficamos ali encolhidos umas três horas até que pude trocar o pneu e seguir viagem para casa.

XXXIV – O CAMINHÃO MISSIONÁRIO

A Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Boliviana tinha um caminhão grande, marca Izuzu (japonês) a fim de favorecer as Igrejas que estavam construindo naquela fase pioneira da Obra.

Quando iniciamos as obras de construção do novo templo da Igreja em Novo Horizonte, requisitamos o caminhão para transportar todo o material como: tijolos, ferro, cimento, cal, areia..., enfim, todos os materiais necessários à edificação.

Para mim foi uma experiência impar, porque acabamos atuando como engenheiro, elaborando plantas, projetos e cálculos estruturais. A construção era considerável, pois se tratava de um templo em alvenaria, com capacidade para umas quatrocentas pessoas, lá no mato, lugar sem luz elétrica e água encanada. Acabei trabalhando também como pedreiro e motorista de caminhão.

Certo dia, partimos em uma viagem de uns 150 quilômetros até um rio chamado Yapa-Kani, juntamente com uns dez irmãos para buscarmos areia. A viagem foi tranquila, atravessamos uma grande ponte estreita, fizemos uma curva íngreme à esquerda, descemos cuidadosamente o barranco até chegarmos à beira do rio para carregarmos a areia.

Os irmãos munidos de pás puseram mãos à obra e, em pouco tempo, a carroceria do caminhão estava completamente carregada. O grupo, então, subiu a pequena estrada à pés para aguardar o caminhão no topo do caminho.

Liguei o motor e, devagar, fomos subindo numa marcha reduzida a fim de alcançarmos a estrada. Logo percebi que o caminhão estava sem freios e orando conduzi o veículo cautelosamente..., porém, ao fazer uma curva, não consegui realizar a manobrar completamente o caminhão, talvez pelo excesso de peso, e o veículo rumou em direção ao abismo..., já me preparava para o pior, quando a roda dianteira tocou na ponta do precipício e o caminhão, miraculosamente, parou..., foi por Deus!

Senti neste momento a mão do Senhor segurando aquele caminhão pesado. Notei também que o grupo acompanhava todo o movimento do caminhão com as mãos na cabeça, em atitude de desespero, por conta do iminente acidente que se desenhava.

Com o caminhão parado, desliguei o motor mantendo-o engrenado, desci, chamei os irmãos e agradecemos a Deus pelo livramento e pela manifestação explícita do seu Poder.

Passado o susto e ofertados os devido louvores a Deus, calçamos as rodas e fizemos com segurança a manobra, regressando assim para casa, com os corações cheios da presença e da Graça do senhor.

Todavia, o retorno nos reservou ainda um pequeno contratempo, pois, por conta de uma chuva fina e insistente, há uns três quilômetros do povoado, o caminhão encalhou. Sendo a distância pequena e, pelo avançado da hora, - umas dez horas da noite -, os irmãos resolveram ir a pés para as suas casas.

Eu, porém, não quis abandonar o carro e fiquei ali na boleia até que senti o desejo de enfrentar outro desafio..., peguei a caneca que servia de tampa de garrafa térmica e, com o auxílio de uma lanterna, desci e me pus a tirar a lama das rodas com essa caneca, segurando a lanterna acesa na boca. Desse modo fui superando várias etapas até conseguir novamente pôr o veículo em movimento, chegando sozinho ao pátio da Igreja, por volta das oito horas da manhã.

Feliz com essa façanha, finalmente, fui para cassa dormir em paz e, lá pelas dez horas da manhã, retornei à Igreja encontrando o caminhão descarregado.

Dou Graças ao meu Deus por momentos marcantes em minha vida que enriqueceram minha experiência com o Senhor. “A Deus toda a honra e toda a glória!”

XXXV – VESTIDO COMO ELIAS...

Eu era ainda missionário, na cidade de Macaé, estão do Rio de Janeiro, pouco tempo antes de minha ordenação.

Estava na casa pastoral, com o Pastor Edmundo, tomando café da manhã, quando bateram na porta..., fui atender..., era um mendigo, asqueroso e maltrapilho, querendo falar com o Pastor Edmundo. Por pouco não o mandei embora, pois o seu estado era deplorável..., mas, entrei e disse ao Pastor: “um mendigo quer falar com o senhor”..., ele saiu à porta e exclamou: “oh! Pastor Elias Portes, que bom vê-lo! Entre, por favor...!”

XXXVI – “DULCE FAENA”

No início da construção do templo da Igreja Batista de Nuevo Horizonte, Bolívia, a Igreja estava arrecadando, com todo o esforço, donativos para revertê-los em materiais para a construção.

Conforme relatado em outra história, dinheiro em espécie era coisa rara, mas os irmãos dedicavam os dízimos e as ofertas com os frutos da terra.

No momento do ofertório, ao som de hinos de louvor, os crentes traziam: tomates, arroz, ovos, feijão, milho, galinhas, patos, cabritos e leitões. O ruído dos animais se colmatava ao momento da dedicação, contribuindo para uma verdadeira festa espiritual.

Depois, juntamente com o tesoureiro, levávamos o que fora arrecadado e não arrematado para a vila em Santa Cruz, para vender no mercado “Los Pazos”.

Todavia, para fazer face à construção era necessário mais dinheiro. Foi aí que surgiu a ideia de participarmos de um mutirão (faena) e durante quinze dias colhemos algodão pela cooperativa local. Cerca de cem irmãos se prontificaram para esse trabalho, inclusive eu, a Silvia e as duas filhas maiores, Cláudia e Lusiane.

Todos os dias, às seis horas da manhã, nos reuníamos em frente ao velho templo coberto de palha, fazíamos uma meditação e saíamos montados num reboque puxado por um trator. Cada um levava o seu lanche, só parávamos na hora da comida e voltávamos ao labor até às seis horas da tarde.

Todos tinham um bom chapéu de palha para proteção do sol, e o grupo se espalhava pela lavoura de algodão, muitas vezes, cantando hinos e, até fazendo um coro de vozes... Era um espetáculo maravilhoso!

Desta forma, conseguimos uma expressiva quantia em dinheiro, suficiente para uma arrancada inicial na construção do templo.

Não tenho dúvidas de que foi um dos espetáculos mais marcante do qual participei em minha vida missionária! Uma Igreja integrada no esforço para a edificação de um grande templo ao nosso Deus. Ao Senhor toda a honra e toda a glória!

Robert Shirley, no passado, depois de construir um majestoso templo na Inglaterra, num tempo de crise, antes da inauguração, falecera, e na sua sepultura fixaram uma lápide com a seguinte inscrição: “No pior dos tempos, a melhor das coisas”.

XXXVII - ALGUNS PERIGOS

O tempo que passamos em Nuevo Horizonte foi cheio de aventuras e também de perigos.

A casa onde morávamos, propriedade da Escola Batista, em uma parte era coberta de palhas e o chão era de terra batida, sendo um lugar próprio para aparecerem diariamente “passancas” (aranha caranguejeira), bicho barbeiro, centopeias e, de quando em quando, algumas cobras. Por isso, costumávamos manter embaixo das camas, ninhos de patos. Essas aves fazem barulho quando percebem algum bicho, especialmente cobras, nos alertando dos eventuais perigos.

Certa noite, quando regressamos da Igreja, enquanto a Silvia preparava-nos um lanche, vimos uma cobra cascavel passar pela sala em direção à cozinha. Imediatamente peguei meu sapato e acertei a cabeça dela.

Por sinal, lá no mato, vivíamos cercados de bichos: um gato, dois cachorros vira-latas, um louro (papagaio), patos, galinhas, um porco e até um bicho preguiça. Eles ajudavam a cuidar da nossa casa.

Me lembro de uma manhã em que, ao abrirmos a porta da cozinha, nos deparamos com o gato matando uma cobra coral. Em outra manhã, ao abrirmos essa pesada porta, ao escorar meu rosto nela a fim de força-la, percebi uma enorme centopeia correndo pela minha cabeça... dei um salto, levando um bom susto!

A Silvia também acordou na manhã de um outro dia com manchas de picadas no braço e ao virarmos o colchão, percebemos dois bichos barbeiros.

Todavia, dentre todas as experiências, a que mais nos assustou, foi um dia em que os nossos filhos Marcos e Dalton brincavam na porta da cozinha com uma cascavel muito grande que se aproximava deles, essa víbora tinha uns dois metros de comprimento, foram salvos pela nossa empregada Mirtes, que com um pau conseguiu matá-la. Quando cheguei em casa e vi aquela cobra imensa, tive uma sensação de desespero tão forte que não posso descrever esse sentimento em palavras. Mas, Deus sempre nos guardou e somente permitiu essas experiências para nos fazer entender que Ele é quem cuida das nossas vidas. Ele é fiel!

Outra experiência insólita que vivemos, foi uma vez em que uma doença forte matou nossas galinhas e, em uma manhã, encontramos pelo menos umas vinte delas mortas. Peguei uma enxada para cavar um buraco e enterrá-las, quando a Mirtes, nossa empregada, disse: - não! eu vou levá-las para a minha casa e vamos comê-las..., a enfermidade está na cabeça, cortaremos a cabeça, jogamos fora e pronto! Apesar da minha insistência em sentido contrário, não teve jeito. Ela levou-as para a sua casa e comeram tudo, não desperdiçaram!

Também, de vez em quando enfrentávamos os “carrapatilhos”, pequenos carrapatos que eram pragas e infestavam àquelas bandas...

Como é bom lembrar que em todo esse tempo, Deus nos cuidou, o Evangelho foi pregado e a nossa vida marcada por uma experiência que pode, ainda hoje, servir de incentivo e fé às gerações que nos sucedem.

XXXVIII – UM DIA DE CAÇADOR

Sempre tive uma natureza “de índio”! Desde pequeno fui apegado às atividades de caça e pesca, nesse ponto não puxei ao meu pai... Muitas vezes, entrei no mato para estas aventuras.

Certa ocasião, juntamente com o irmão Jaime, em Guayaramerin, entramos numa mata perigosa, com uma mochila d bananas nos ombros e passamos três dias caçando, pescando, dormindo ao relento e sem muito sucesso em nossa empreitada.

Noutra ocasião pude abate um veado que na Bolívia chamavam de “urina” – a carne do veado urina é deliciosa. Porém, num sábado, depois do almoço, saí com um professor da Escola Batista, munidos de nossas espingardas e faroletes adentrando na mata. Até duas horas da manhã de domingo, matamos dois porcos do mato e um tatú. Chegamos em casa às três horas da manhã com a caça. Dona Sílvia, como sempre solícita, acordou, embora um pouco contrariada, e foi esquentar água no fogão a lenha..., pelamos os animais, abrimos, limpamos e carneamos tudo, e após toda uma noite de trabalhos, tomamos um banho rápido e saímos para a Escola Bíblica Dominical.

Achei que o que fiz fui injusto com minha esposa, se bem que, depois, ela gostou de saborear aquele quitute que ela mesma preparou.

XXXIX – UM CHORO COMOVENTE

Morando em Nuevo Horizonte, com o objetivo de trabalhar com aquele grupo de irmãos e pregar o evangelho em todos os povoados ao redor daquela vasta região, programamos visitar uma congregação de guaranis distantes uns quarenta e cinco quilômetros, num local chamado “Las Palmitas”.

No dia 28 de março de 1976, fomos visitar essa missão tão afastada de tudo, incrustada no meio do mato. Depois de uma viagem à cavalo, ao cair da tarde, chegamos ali muito cansados pelo tempo de peregrinação, e descansamos na rede, éramos um grupo de dez irmãos.

Fomos recebidos na casa do irmão Andrés Chuvirú que já nos aguardava com uma deliciosa sopa de galinha. Comemos aquela refeição com muita alegria e nos dirigimos para o templo.

O templo era uma espécie de tenda de quatro estacas, com uma cobertura de palhas e os lados abertos.

Comecei o culto dedilhando o acordeom (sanfona) que sempre me acompanhava, cantando com a congregação alguns coros de hinos comuns naquelas bandas, recebi o acompanhamento de um violão afinado “à moda da terra” e de um pandeiro, compondo o período de louvor que durou quase uma hora.

Depois de orarmos e lermos a Bíblia, começamos a mensagem que, longa, se estendeu por mais uma hora.

Ao final, cantamos mais um hino, oramos e fui para a porta cumprimentar os irmãos... mas, ninguém saiu!

Passados alguns minutos, eu ainda em pé sem saber o que fazer, quando o líder do grupo foi à frente chorando e disse: “meus irmãos, é a primeira vez que temos um pastor, estou muito feliz... mas, como é muito difícil alguém vir até aqui para orar e pregar, queremos ouvir mais”.

Voltei para a direção do culto, cantamos novamente e preguei outra longa mensagem, até que, por volta das 11h30 da noite terminamos o culto, cheios de muito gozo espiritual. Confesso que nunca participei de um culto como este. Deus seja louvado!

XL – EFEITOS DE UM CULTO DOMÉSTICO

A família dos irmãos Humberto e Joana Stremadoiro era toda da nossa Igreja em Guayaramerim. Eles eram crentes muito fieis e todos os dias faziam o culto doméstico. Família numerosa, cantavam bem, eram integrados em todas as atividades da Igreja.

Um dia enquanto realizavam um culto familiar, um senhor de uns 40 anos foi atraído pelos hinos e aproximou-se da casa, pedindo licença para participar. Após o culto, depois de uma meditação dirigida pelo chefe da casa, este homem começou a chorar e abriu seu coração pedindo ajuda. O irmão Humberto pegou uma bicicleta e foi me chamar. Fui imediatamente. Pude ouvir o drama daquele homem, fugitivo da lei, e aproveitei para falar-lhe de Jesus como salvador.

Uma história trágica! Há três anos tinha matado a esposa e o amante e fugido de Cochabamba para aquele recanto da região de Beni Bolívia.

Depois que ele abriu o coração recebendo a Jesus como Senhor e Salvador, pude convencê-lo de que ele tinha uma dívida para saldar com a justiça dos homens. Ele tranquilamente aceitou minhas palavras, porém, como ele era procurado pela polícia que queria mata-lo, “bolamos” um plano estratégico para a sua volta à Cochabamba. O irmão Humberto, tinha um sobrinho que era capitão de uma embarcação que ia de Guayará a Cochabamba e o levaria secretamente.

Este senhor também escreveu uma carta para seus irmãos para que o aguardassem no porto de Cochabamba ao final da viagem que duraria quatro dias pelo Rio Guaporé.

No dia marcado, lembrando da história bíblica de Paulo, que fugiu da cidade de Jerusalém escondido numa cesta, levamos o homem envolto em um encerado no chão da cabine do carro, passamos por um posto policial e nos embrenhamos mata adentro numa picada tremenda, até um determinado local, previamente combinado, quando acenamos para o barco, que na sequencia, mandaram uma canoa para recolher o homem na beira do barranco. Oramos e encomendamos o irmão aos cuidados do Senhor.

Penso também naquele texto de Isaías 55:11: “Assim, será a Palavra que sair da minha boca, não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei.”

XLI – MEU PRIMEIRO TRABALHO PASTORAL

Fui consagrado ao ministério pastoral no dia 10 de janeiro de 1973, na Primeira Igreja Batista de Macaé – Estado do Rio de Janeiro. Era uma quarta-feira e era também a despedida do Pastor Edmundo Antunes da Silva que, juntamente com sua família, deixavam a igreja depois de um ministério abençoado.

O culto de despedida e de nossa consagração foi bastante concorrido e o banquete espiritual prolongou-se até às vinte e três horas. Foi uma festa inesquecível!

Nesta época, já estávamos morando na casa pastoral ao lado da igreja. Tínhamos recebidos visitas em casa, parentes que vieram participar daquele momento especial. Fomos dormir tarde, talvez uma hora da madrugada.

Às três horas da madrugada fomos acordados com batidas insistentes à porta, era o irmão Ulisses, zelador da igreja, trazendo a notícia do falecimento do seu pai.

Eu fiquei sem saber o que fazer atordoado ainda pelo sono. O corpo deveria chegar ao templo à primeira hora do dia para o velório. Percebendo que não encontraria ninguém para arrumar o templo naquela hora, pus-me a trabalhar como zelador, arrumei os bancos, colocando-os na disposição correta de funeral, limpei o chão, ajeitei as flores e fui preparar meu primeiro sermão fúnebre.

Assim comecei meu ministério, com este momento desafiador. Talvez por estas circunstâncias, o que mais gosto de fazer como pastor é pregar em velórios. É o momento que todos estão mais atentos para a Palavra de Deus. Já fiz até apelo, podendo contemplar almas que se renderam aos pés de Cristo. Pregai em tempo e fora de tempo! (2 Timóteo 4:2).

XLII – ICONOCLASTA

A Igreja Batista em Évora era uma boa igreja onde trabalhamos por quase seis anos. Guardo grandes recordações daquela gente boa e simples.

Em especial me lembro do irmão Carlos e sua esposa Eglantina, grandes companheiros e amigos de muitas horas.

Certa ocasião, a irmã Eglantina convidou uma amiga, senhora Madalena, para ir a nossa igreja. Num domingo à noite a conhecemos e tivemos um culto muito gostoso, embora não me lembre de muitos detalhes daquele culto, muito menos do tema da mensagem.

Porém, ficamos sabendo que esta irmã ao regressar para sua casa, quebrou todos os ídolos colocados na parede, desfez-se dos nichos diante da presença do marido incrédulo que a tudo acompanhou, atônito pela atitude decisiva da esposa.

Posteriormente a Senhora Madalena fez sua decisão ao lado de Cristo e foi batizada.

De uma coisa eu sei: Eu não sugeri a ela que tomasse aquela atitude, mas, com certeza, foi obra do Espírito Santo de Deus.

XLIII – UMA HISTÓRIA TRISTE

O senhor Joaquim Mendes, homem de uns sessenta anos, cuidava da Capela dos Ossos, capela macabra, ligada à Catedral de São Francisco, na cidade de Évora. Sua localização era próxima da nossa igreja.

Trata-se de um templo anexo à Catedral, construído por volta de 1.830 com o propósito de levar as pessoas a meditarem sobre a morte. Para tanto, abriram cerca de cinco mil sepulturas na cidade, para assim revestirem as paredes e o teto com ossos humanos. O chão também tem formato de sepulturas, uma ao lado da outra. Na frente da capela se encontram dois cadáveres ressequidos. Sobretudo, à entrada da capela a célebre frase:

“Nós ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos”.

Um dia, por intermédio do irmão Carlos, fizemos amizade com o senhor Joaquim e conseguimos levá-lo à Igreja. Ele e sua esposa passaram a frequentar aos domingos à noite a nossa congregação, até que um dia ele levantou a mão, dando uma demonstração pública de que recebia a Jesus em seu coração. Foi uma alegria contagiante no seio da Igreja naquele momento.

Passados mais uns três domingos ele me procurou para me dizer que não poderia ser crente, porque perderia a casa em que morava e o seu trabalho. Procurei de todas as formas possíveis mostrar-lhe que Jesus não iria abandoná-lo e que a maior bênção da vida é ter a Jesus como Senhor e Salvador. Não houve jeito! Essa atitude trouxe muita tristeza para o nosso coração.

Continuamos orando por certo tempo até que veio a triste notícia de que o senhor Joaquim tinha se suicidado.

Perdeu a casa, o trabalho, a família e a oportunidade de salvação.

XLIV – DURA LIÇÃO

No final do ano de 1969, estava me preparando para ir para o seminário do Sul, no Rio de Janeiro. Sem emprego e com muitas dificuldades, tendo que assumir pela fé uma nova fase de minha vida, já casado e com duas filhas, procurava um meio mais econômico para transportar umas cinco caixas de louças, livros e roupas que eram a nossa mudança.

Finalmente soube de um irmão motorista de caminhão, Moisés, membro da Igreja Batista de Novo Mundo em Curitiba. Eu me informei sobre seu endereço e fui procurá-lo.

O irmão Moisés me recebeu com muita atenção, propondo levar minha mudança graciosamente..., fiquei feliz, louvei a Deus e no dia marcado fiquei atento aguardando a chegada do caminhão. O tempo passou e nada, não apareceu.

Fiquei revoltado, como um jovem rebelde, e falei o que não devia... Liguei para sua casa e fui informado que o irmão Moisés teve que viajar para o Rio de Janeiro e que não sobrou espaço para as minhas caixas. Fiquei furioso, mas me contive.

Três dias depois recebi a notícia de que o caminhão pegou fogo na estrada e tudo foi destruído completamente. Envergonhado, pedi perdão a Deus e aprendi que “Deus escreve certo por linhas certas”, nós é que lemos torto.

Foi uma tremenda lição!

XLV – CRENTE NÃO USA ROSÁRIO

A irmã Eglantina era a secretária da Igreja Batista em Évora, capital da Província do Alto Alentejo. Fomos para lá, a fim de substituir o Missionário Pastor José Nite Pinheiro que realizou ali um grande trabalho.

Ao chegarmos, eu e Silvia, começamos a visitar as famílias da igreja e foi uma experiência muito prazerosa. Propusemo-nos também visitar o irmão Carlos, esposo da irmã Eglantina. Ele relutou em nos receber, mas, insistimos que seria apenas uma visita para conhecer a família. Enfim, ele concordou que fossemos...

No dia marcado, ele foi o primeiro em nos receber à porta e com voz incisiva a seguinte observação: “vocês podem vir aqui, mas, eu já tenho religião; a minha religião é caçar e pescar!”

Ouvimos e educadamente dissemos que a nossa visita e desejo era apenas o de conhecer a família. Entramos e toda a conversa girou em torno da caça e da pesca.

O encontrou foi agradável e lá pelas 11 horas eu perguntei:“- posso um dia pescar com o senhor? – Claro!”

Assim foi que combinamos de nos encontrarmos no portão da minha casa no sábado seguinte às 5h da manhã para uma pescaria. Mas, antes de deixar a casa, pedi licença a ele para orar a Deus agradecendo a amizade que tínhamos iniciado. Foi gostoso!

No sábado fomos pescar e passamos o dia à beira do Rio Guadiana, onde fisgamos alguns peixes. Lá pelas 6h da tarde, quando voltávamos, sem tocar nos assuntos da igreja ou bíblia, ao chegar em casa ele disse: “amanha eu vou à sua Igreja!” (Oh! Aleluia! Pensei eu).

No domingo ele estava lá, logo se decidiu, tornando-se uma bênção na Obra do Senhor.

Como nós frequentávamos a casa deles, percebemos uma dificuldade que ele e a esposa mantinham em suas vidas. Sobre a cabeceira da cama do casal, encontrava-se um rosário. Eu e Silvia sentimos dificuldade em falar no momento sobre o assunto e estivemos orando para sentir o que Deus falava. Foi quando estes irmãos vieram nos contar uma experiência.

O irmão Carlos era professor num colégio e tinha amizade com um padre. Este sacerdote romano foi visitar o irmão Carlos e este o convidou para ver as suas armas de caça no quarto do casal. Quando o padre adentrou no quarto, vendo o rosário e sabendo que eles eram evangélicos, questiono: - vocês não são crentes? – Por quê? (indagou o irmão Carlos) – porque crente não usa rosário!

Esta foi uma lição tremenda na vida deste casal que os levou a tirar da parede aquela peça desnecessária à vida do crente. Foi um momento de choque, mas marcante. Deus ouviu nossa oração.

XLVI – O MAIOR BATISMO

Em Nuevo Horizonte trabalhamos também à frente da Escola Batista. Evangelizávamos na região e na própria escola. Pregava, juntamente com um grupo expressivo da Igreja em alguns povoados próximos: Sam Antônio, Monte Verde, etc. Certa ocasião, estávamos realizando um culto ao ar livre em Monte Verde, já era a terceira ou quarta vez que íamos ali, foi quando um homem do povoado veio me intimar: “se o senhor não sair daqui agora, os homens do povoado virão expulsá-los à pau”. Saímos imediatamente para evitar possíveis situações desagradáveis e “tiramos as poeiras dos nossos pés”.

Mas, Deus foi abençoando o trabalho em Nuevo Horizonte. O templo vivia sempre repleto. Certa feita nos dirigimos ao Rio Grande, há uns cinco quilômetros e ali realizamos naquelas águas barrentas quarenta e oito batismos.

Fomos numa carreta puxada por um trator e o povo ali se apinhava. Que festa! Deus seja louvado!

Assim a Igreja crescia e prosperava para a honra e glória do Senhor.

XLVII – VIAGEM A PUERTO SILES

No tempo em que nos encontrávamos em Guayaramerim, de vez em quando, viajávamos de barco à Puerto Siles, subindo o Rio Guaporé, afluente do Rio Madeira.

O Pastor Silas Luiz Gomes, tinha começado este trabalho. Este Missionário, juntamente com a sua esposa Senhora Aldair foram dinâmicos na obra missionária, sendo pioneiros naquela região.

A viagem e barco era longa, demorando uns quatro dias e quatro noites até chegarmos na nossa pequenina Missão de Puerto Siles.

Quando fomos a nossa primeira viagem, quatro irmãos nos acompanharam, todavia, o barco teve um problema no motor, próximo do lugarejo de Santa Rosa de Vigo, onde o barco foi atracado para realização dos consertos.

Aproveitamos a oportunidade para realizarmos ali um culto e falarmos de Jesus. Tomamos o acordeon, acompanhados de um violão de um pandeiro, cantamos e pregamos a Palavra de Deus.

Ao final, um senhor do lugar, veio falar conosco muito emocionado e assim se expressou: “É disso que nós precisamos! Se os senhores voltarem aqui, eu vou doar um terreno e construir uma igreja”. Estas palavras tocaram os nossos corações.

Terminado o conserto do barco, retomamos a viagem para Puerto Siles. Durante o trajeto realizávamos cultos no barco, anunciando o evangelho aos tripulantes e passageiros, umas trinta pessoas.

Chegando ao nosso destino fomos recebidos com alegria. A dona da casa preparou-nos um peixe assado sem sal, pois isso era coisa rara num lugar daqueles. Famintos, comemos e nos preparamos para o culto da noite à luz de lamparinas.

Passamos ali cinco noites, realizando o trabalho e aguardando a volta do barco para regressarmos à nossa casa.

Assim foram muitas viagens missionárias, pregando, evangelizando e vendo muitas almas se renderem aos pés de Cristo.

XLVIII – BREVE HISTÓRIA DE NUEVO HORIZONTE

Nuevo Horizonte na Bolívia era um povoado om umas quinhentas pessoas. Situava-se numa região interiorana a nordeste de Santa Cruz de la Sierra.

Na região existiam muitos povoados, todos habitados por índios Tiquitanos, na maioria, e alguns grupos de Guaranis e Colhas. Os colhas eram oriundos do altiplano, região de La Paz ou Cochabamba.

Próximo de Nuevo Horizonte havia uma colônia japonesa onde se encontrava um pequeno posto avançado de saúde e uma delegacia de polícia, composta de um major da polícia boliviana e mais uns cinco soldados prontos para qualquer eventualidade.

De igual forma, em cada povoado havia um “Corregidor”, espécie de delegado, ou juiz de paz, para resolver as pequenas causas do povo. O Corregidor de Nuevo Horizonte era diácono de nossa igreja, Irmão Juan Hípano.

A história deste povoado foi interessante. Havia um povoado pequeno à beira de um rio de águas barrentas, chamado e Rio Grande, povoado este nomeado de Los Queimados.

Um pregador, Pastor Valdomiro Motta, pregava por todos os lugarejos deste vasto interior boliviano, convertendo-se um pequeno grupo de irmãos neste povoado e o trabalho floresceu ao ponto de colocarem ali uma missionária. Foi quando a nossa Junta de Missões Mundiais enviou a missionária Jailse para atuar naquelas bandas.

Lá pelo ano de 1973 correram chuvas tão grandes que causaram uma enchente em toda àquela área. Obrigando o povo de Los Queimados, juntamente com a missionária, a fugirem com água na altura do peito, levando alguns pertences na cabeça para uma região mais alta. Percorreram cerca de cinco quilômetros, onde ficaram e construíram seus barracos.

A Convenção Batista Boliviana deu atenção a estas pessoas refugiadas e a seguir foram feitas diligências com a Aliança Batista Mundial que apoiou a formação de um novo povoado, nascendo assim o Povoado de Nuevo Horizonte.

Foi então feito um traçado de quatro ruas, duas se cruzando com outras duas, no centro ficou uma quadra para a Igreja Batista, ao lado, outra parte para uma caixa d’água com um poço artesiano e um centro comunitário. Embaixo da caixa d’água, aproveitando as quatro colunas de concreto, ergueram paredes formando uma pequena cela que serviu de cadeia pública.

Organizou-se a liderança do povoado que fora assim constituída: Presidente e Vice-Presidente, Corregidor e mais dois auxiliares.

As casas eram todas cobertas de palha, chão batido de terra e mediam três metros por quatro metros. Na maioria destas casas não haviam paredes, pois eram levantadas somente por quatro esteios de forma primitiva e precária. Outras poucas tinham um pequenino quarto com paredes de palhas e, raríssimas, tinham paredes de estuque. A nossa casa era assim, apesar de ser uma casa maior. As paredes eram de pau a pique, rebocadas com uma massa de barro, estrume de vaca e palha seca. Misturava-se bem essa massa com água e rebocavam com as mãos. Depois de seco, pintavam com cal as paredes. Era muito comum logo depois nascer grama nas paredes da casa, e todas tinham o cheiro desagradável do esterco animal.

Mas foi um tempo diferente na nossa vida cristã. Cozinhava-se à lenha num fogão de barro, não havia energia elétrica, usava-se a lamparina e tínhamos um lampião Petromax. Comprávamos todo mês vinte litros de querosene para a geladeira, lamparinas e lampião. O arroz para a comida era antes pilado no pilão de madeira que possuíamos. Como não havia água encanada, da caixa d’água do povoado saía uma rede de água de uns seis pontos para coleta do lugarejo. Assim, no terreno da Escola Batista havia uma torneira que servia a casa dos professores e a nossa casa, bem como toda a Escola.

Cada residência do lugar tinha também sua privada lá no fundo do terreno. Nas noites de frio ou chuva o sacrifício era redobrado, mas tínhamos ânimo para encararmos estas circunstâncias. Graças a Deus por esse tempo marcante de nossas vidas! Eu, esposa e os quatro filhos pequenos. Deixamos o conforto da casa pastoral de Macaé (Rio de Janeiro) para a Obra Missionária naquela região carente do interior boliviano. Foram dias memoráveis.

Agradecemos a Deus por aquele tempo de muitas bênçãos na Obra do Senhor.

XLIX – AVENTURA PERIGOSA

Certa ocasião apareceu no nosso povoado um grupo de homens estranhos, que passavam com caminhonetas luxuosas em direção ao Rio Grande. Essa movimentação durou alguns dias e chamou-nos a atenção. Percebi que o Corregidor, que era da nossa igreja, irmão Juan Hipano, estava tranquilo, não esboçando qualquer reação com relação àquela movimentação para mim tão suspeita.

Conversei com ele que me pediu que eu o levasse ao posto policial na colônia japonesa, pois eu era o único que tinha carro no povoado, - um Jeep Willians 51 -, lá chegando o Corregidor notificou o delegado. Imediatamente o delegado solicitou a minha cooperação para realizarmos uma busca destes elementos, a busca seria realizada no dia seguinte.

Pensei comigo: “céus que enrascada eu me meti!” Mas tinha que cooperar...

No dia seguinte pela manhã acompanhado do Corregidor formos à colônia buscar o Major (delegado) e mais três soldados na colônia para àquela expedição. Todos armados com revólveres e os fuzis militares e eu o motorista do grupo. Orei muito a Deus nos momentos que antecederam à busca.

Partimos e, com facilidade, encontramos a trilha e os rastos do bando. Adentramos na mata, porém, em determinado ponto tivemos que deixar o Jeep, seguimos a pé e chegamos ao ponto em que, poucas horas antes, o grupo havia acampado, mas poucas horas antes, pela Grança de Deus já tinham partido. Foi um alívio!

Eles tinham cavado umas dez valas de oito metros de comprimento por um metro de largura e com a profundidade de uns sessenta centímetros. Eram traficantes de coca!

Sobre as valar eles estenderam um plástico comprido formando verdadeiras bacias para colocarem as folhas de coca, encherem depois de querosene e bicarbonato e as pisotearem durante uns três dias a fim de extraírem a essência da coca. A partir daí extrai-se uma pasta que enviam para os laboratórios processarem alguns tipos de drogas.

Foi um momento complicado esse no qual me envolvi, mas sabendo que não poderia negar-me à solicitação do delegado por circunstâncias várias.

Dou graças à Deus porque ele me preservou de uma situação perigosa. Creio também que, como missionário, há muitas maneiras de testemunhar. Também diante do perigo podemos mostrar Jesus como nosso Senhor e Salvador.

L – EXPERIÊNCIA SALGADA

Morávamos em Tarragona, cidade marítima da região da Catalunha, Espanha, e ali desenvolvíamos a atividade missionária.

A água potável da cidade era de poços artesianos da região. Nas proximidades não havia nenhum rio e a água que utilizávamos no dia a dia era infiltração do mar. Água salobra que carcomia as pias, torneiras e banheiros, não permitindo que se a utilizasse para cozinhar alimentos, mesmo o banho era horrível. Sabonetes, nem pensar, este se derretia, usávamos um gel próprio, saindo do banho como se estivéssemos saindo do mar, com o corpo pegajoso e desconfortável.

Com o povo aprendemos que deveríamos comprar uns galões plásticos e irmos às montanhas, cerca de trinta quilômetros, a fim de colhemos águas de minas geladas e assim estávamos preparados por uns vinte dias.

Certa vez, logo que chegamos ali, Silvia utilizou a água da torneira para preparar um feijão na panela de pressão. Depois de muito tempo, como o feijão não amolecia, resolvemos jogar tudo fora. Além de o feijão continuar muito duro, percebemos que o calcário da água tinha deixado a comida intragável.

LI – QUEM TEM OUVIDOS, OUÇA!

Um jovem em Nuevo Horizonte, Eusébio Parada, se afastou da Igreja e sentiu a mão de Deus pesar em sua vida, ficou surdo.

Em nosso pastorado, quando trabalhávamos com a Igreja, recebemos uma carta escrita por este jovem, pedindo a reconciliação com a Igreja. Nesta carta, reconhecia que Deus tinha pesado a mão sobre ele e assim se expressava:

“Quero confessar à Igreja que, como consequência do meu pecado e afastamento de Deus, hoje tenho perdido o sentido da audição...”. (Carta arquivada).

LII – ALGUMAS EXPRESSÕES DE JÚBILO

Algumas vezes a expressão de alegria pela conversão é tão extasiante que é difícil expressar em palavras, mas, alguns irmãos se atreveram a tanto, nos permitindo colher algumas pérolas:

“Aceitar a Jesus há sido para mim como comer doce de coco em minha casa!” (Irmã Percentilha Lima).

“Recebe a Jesus Cristo foi uma transformação..., eu era sujo e feio, agora sou limpo e bonito!” (Irmão Venâncio Duran – um velho índio).

“É um alívio como tirar um carrapato do corpo!” (irmão Antonio Manoel – Moura, Portugal).

LIII – FÉRIAS DA VIDA ETERNA

Trabalhávamos em Guayaramerin, Bolívia, fronteira com o Estado de Rondônia. A nossa Igreja era muito querida, tínhamos um grupo fiel de irmãos que testemunhava com muita alegria. O trabalho crescia, graças a Deus.

O grupo era de mais ou menos cinquenta membros que formavam três ministérios na igreja: visitação, evangelismo na praça e nas casas e intercessão. Bons tempos!

Bem, como todas as igrejas, tínhamos lutas, problemas e desafios.

Um dia, um irmão chamado João Soleto veio conversar comigo nestes termos: - Pastor, eu vou tirar férias! – Como assim irmão? Vai viajar? – Não, eu vou tirar férias e me afastar da igreja por três meses. É férias mesmo!

Não entendi, mas fiquei calado diante da decisão do irmão... Ao final de três meses ele voltou com todo o gás... Até hoje não consigo entender aquela postura. Só Deus sabe...

LIV – PROVAI E VEDE QUE O SENHOR É BOM!

O irmão Almir Pires não era dizimista. Um dia foi à minha casa fazer-me uma visita. Depois de conversarmos eu lhe perguntei: - o irmão é dizimista? – Não Pastor! (foi a resposta). Disse-lhe então: - meu irmão, não adianta fazer nada na igreja, orar, pregar, cantar..., pois, Deus não escuta, porque o irmão não é fiel com Deus. O irmão precisa viver como crente, pela fé, e Deu vai abençoá-lo. “Provai e vede que o Senhor é bom!” Faça uma prova com Deus!

Convidei aquele homem para irmos ao meu gabinete orar e antes lhe estendi a caixa de promessas e ele leu: “provai e vede...”.

O irmão Almir saiu de minha sala visivelmente perturbado e, depois de três dias sem dormir, propôs em seu coração que seria dizimista.

Passados outros três dias retornou a minha casa trazendo o seu dízimo.

Uma semana depois teve um bom aumento de salário, sua filha que estava noiva contra a sua vontade com um mau caráter e que a proibia de vir à igreja terminou o noivado e, ainda, o irmão Almir recebeu uma bonificação no trabalho.

LV – NO ÚLTIMO DIA

Em Nuevo Horizonte, evangelizava uma senhora guarani que estava prestes a morrer. O irmão Cassiano era o intérprete... Cantamos, falamos e oramos... Ela disse: Eu nunca tinha ouvido falar em Jesus!

No dia seguinte faleceu...

LVI – ME SENTI DESMORALIZADO

Eu era um jovem pastor, no meu primeiro campo missionário, quando tive uma das mais duras experiências de minha vida...

Havia falecido a mãe do irmão Obadias e, na pequena casa, estávamos nós: irmão Obadias, Dona Sulamita sua esposa, irmã Maria, eu e um casal de espíritas, todos diante do corpo desta irmã falecida...

Comecei a pregar o evangelho para o casal e, em certa altura da palestra, quando estes já estavam se convencendo, disse: “o homem vai para o inferno é porque quer!”

Neste momento fui interrompido pela Dona Sulamita que afirmou: Pastor, não existe inferno! (E me desmentiu). O casal então, cheios de força pelo apoio recebido, contestou-me: “sim Pastor, não há inferno”. Esta irmã tem mais experiência! Me senti desmoralizado... em seguida a Dona Sulamita saiu envergonhada...

LVII - PROVAI E VEDE QUE O SENHOR É BOM

O irmão Almir Pires não era dizimista. Um dia foi à minha casa fazer-me uma visita. Depois de conversarmos eu lhe perguntei: - o irmão é dizimista? – Não Pastor! (foi a resposta). Disse-lhe então: - meu irmão, não adianta fazer nada na igreja, orar, pregar, cantar..., pois, Deus não escuta, porque o irmão não é fiel com Deus. O irmão precisa viver como crente, pela fé, e Deu vai abençoá-lo. “Provai e vede que o Senhor é bom!” Faça uma prova com Deus!

Convidei aquele homem para irmos ao meu gabinete orar e antes lhe estendi a caixa de promessas e ele leu: “provai e vede...”.

O irmão Almir saiu de minha sala visivelmente perturbado e, depois de três dias sem dormir, propôs em seu coração que seria dizimista.

Passados outros três dias retornou a minha casa trazendo o seu dízimo.

Uma semana depois teve um bom aumento de salário, sua filha que estava noiva contra a sua vontade com um mau caráter e que a proibia de vir à igreja terminou o noivado e, ainda, o irmão Almir recebeu uma bonificação no trabalho.

LVIII – NO ÚLTIMO DIA

Em Nuevo Horizonte, evangelizava uma senhora guarani que estava prestes a morrer. O irmão Cassiano era o intérprete... Cantamos, falamos e oramos... Ela disse: Eu nunca tinha ouvido falar em Jesus!

No dia seguinte faleceu...

LVIX – ME SENTI DESMORALIZADO

Eu era um jovem pastor em Santa Rita - Macaé quando tive uma das mais duras experiências de minha vida...

Havia falecido a mãe do irmão Oséias e, na pequena casa, estávamos nós: irmão Oséias, Dona Ester sua esposa, irmã Almerinda Midão, eu e um casal de espíritas, todos diante do corpo desta irmã falecida...

Comecei a pregar o evangelho para o casal e, em certa altura da palestra, quando estes já estavam se convencendo, disse: “o homem vai para o inferno é porque quer!”

Neste momento fui interrompido pela Dona Ester que afirmou: Pastor, não existe inferno! (E me desmentiu). O casal então, cheios de força pelo apoio recebido, contestou-me: “sim Pastor, não há inferno”. Esta irmã tem mais experiência! Me senti desmoralizado... em seguida a Dona Ester saiu envergonhada...

LX– JEOVÁ SAMÁ – DEUS PRESENTE

Muitos foram os momentos de livramentos e cuidados de Deus em minha vida, por certo, de alguns sequer tomei conhecimento, haja vista a minha limitada e frágil existência humana. Porém, alguns desses momentos, Deus permitiu-me conhecer e experimentar, para que o seu santíssimo nome fosse ainda mais glorificado e como louvo ao meu Senhor por esses momentos.

Meu nascimento já foi um milagre. Minha mãe lutava muito naquele momento difícil, a criança demorava a nascer e meu pai, desesperado, correu a pés a procura de um médico, pois a parteira estava se desdobrando e já não sabia o que fazer. Algum tempo depois eu nasci, cianótico, minha mãe exausta a ponto de desmaiar. Mas Deus estava no controle. Quando o médico chegou, duas horas depois do parto, eu já chorava. Na verdade, minha mãe já tinha sido orientada por um outro médico de que a sua saúde era frágil e que não poderia engravidar.

Quando garoto, viajava com meu pai no “pé-de-bode” (veículo rústico) na região de Rolândia. Era noite de lua cheia e íamos com os faróis apagados... De repente eu falei: - Pai acenda os faróis... Foi quando nos deparamos com um JEEP que vinha em nossa direção, em sentido contrário, também com os faróis apagados... Houve o desvio mútuo no último instante... Foi por um triz!

Lá pelos anos de 1974, estava participando de uma Assembleia da CBB em Fortaleza, Ceará. Num domingo os pastores foram divididos para pregar nas igrejas da cidade e região... Eu fui para uma igrejinha localizada num bairro distante... Tive um desarranjo intestinal e nestas condições assumi o púlpito... Quando vi que não ia aguentar mais, deixei o púlpito às pressas e fui me aliviar... Porém, para meu desespero, o banheiro da pequena igreja estava cheio de garotos. Tive que correr desesperado para os fundos da igreja e no mato escuro e pisando no barranco de um buraco alivie-me o ventre...

Voltei para a igreja, ainda trôpego, e preguei por uns dez minutos, cumprindo meu ofício de pastor e pregador do Evangelho.

Na manhã seguinte, domingo, assim que cheguei o pastor me aguardava para me mostrar o local onde eu tinha pisado, era uma fossa de uns dez metros de profundidade..., ambos ficamos muito assustados, mas Deus estava comigo! Deus me livrou!

Ainda por esses anos de 1974, sofri um acidente... Estava com o Pastor Geraldo Jeremias em um Fusca. Íamos comprar uma árvore de Natal em uma estradinha na qual raramente passavam carros, porém, naquele dia, vinha um DKV Vemag e chocamos de frente. Quebrei várias constelas e o braço; meu filho Marcos estava no banco traseiro e não se feriu.

Somos socorridos pela polícia em um camburão e espiávamos para fora pelas grades de uma janelinha... Dado momento, o Pastor Geraldo olhava pela janela e um moleque gritou: - Aí negão, vai ver o sol nascer quadrado! Rimos muito depois, mas, Deus providenciou o socorro e o transporte. Também nisso, louvado seja Deus!

Em outra ocasião, morávamos em Chaves, Trás os Montes, Portugal; subi ao telhado do prédio onde morávamos, no Largo da Madalena, para consertar umas telhas quebradas. O prédio de três andares tinha um telhado íngreme... Num dado momento, escorreguei, desci rolando e parei na beira... Foi por um triz que eu não me despenquei daquela altura. Reconheço que foi imprudência minha, mas, Deus me segurou!

Há muitos outros momentos de livramentos, alguns relatados aqui nas histórias anteriores, muitos outros também nas aventuras pelas matas da Bolívia, perigos com cobras, onças e acidentes, dormindo no mato, passando fome e bebendo águas da chuva, pregando o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo e pagando o preço de uma vida com propósitos.

LXI – TEMPO BOM, TEMPO DE DEUS!

Ah! Tempo gostoso que ficou para trás...

Aventuras ditosas que não voltam mais.

Eu tinha disposição para correr todo o tempo,

Enfrentava a chuva, o frio e o vento.

Subia nas árvores e comia tantas frutas,

Jogava tanta bola, e as tardes eram curtas.

Brincava, corria, pulava e saltava,

Fazia tanta coisa e nada bastava...

Tempo bom, tempo da mocidade...

Ah! Tempo bom, tempo da minha saudade!

Tempo gostoso que ficou para trás...

Tempo maravilhoso que não volta mais.

Tinha amigos e conversava tanto,

Passava horas sentado no banco,

Brincávamos, saia com meus amigos.

Nunca pensava em tantos perigos.

Tantos amigos – amizades sinceras.

Cantava, vibrava – doces quimeras...

Tempo bom, tempo da mocidade...

Ah! Tempo bom, tempo da minha saudade!

Kleber Versares
Enviado por Kleber Versares em 15/04/2019
Reeditado em 30/04/2020
Código do texto: T6623958
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