Já tinha algum tempo que queria assistir à performance tão falada de Christian Grey no filme Cinquenta Tons de Cinza. Falou com o marido para alugarem o filme e assistirem juntinhos como forma de apimentar a relação que não estava lá essas coisas desde que fizeram os tais 10 anos juntos. O marido machista (do tipo touro com chifre de unicórnio), religioso (de hábito bem peculiar) e capricorniano (respira, come e vive o trabalho) disse que não ia perder tempo com essas bobagens, que tinha mais o que fazer. Mas ela estava decidida a assistir o filme e mais, fazer dele o seu Christian Gray (tudo na vida é questão de perspectiva, tudo bem que ele era baixo, acima do peso, barbudo, mas o amor é cego e não tem muletas).
Os serviços da tv incluíam o filme num canal fechado pagando uma taxa mínima e ela então pagou pra ver.
De noite, antes da chegada dele, juntou os apetrechos comprados No SexShop da Rosângela para dar um “Up” naquele momento. Vestiu da personagem e esperou. Ele nunca atrasada, mas como nem tudo que reluz é ouro, hoje atrasou. Ela já estava com a pulga atrás da orelha, mas permanecia com o salto alto. De repente o portão bate. Vai no banheiro, arruma o cabelo, passa batom, joga perfume e fica paralisada em posição “pode vir quente que estou fervendo” diante da porta por o de ele entraria. Ao abrir a porta, o bronco, já faz sinal da cruz e reza: - Que susto! Pensei que era assombração. Que palhaçada é essa?
Ela toda produzida no Luís 15 e no vermelho capital da sangria, ficou borocoxô. Desceu do salto. Mas permaneceu com aquela cara “te seduzo porque hoje tem”. Mas o ogro, coitado, só fazia rir, como se estivesse numa comédia da vida real. E soltou:
- Está parecendo que teve um AVC com estes trejeitos no rosto...
Saiu a Anastasia Stelle e entrou Anastasia (filme infantil). Já lembrou logo da avó que tinha dito pra ele fugir do casamento com aquele antiquado, um dia antes da celebração. Lembrou da viagem de trem em que o inergumemo a deixou no vagão e foi ver a lua, literalmente . Lembrou da pasta de dente no lavatório. Dos sapatos debaixo do recamier. Das humilhações e já baixou a cobradora de impostos com atriz protagonista do filme “Eu não sou trouxa”  pra ser amarrada e carregada e confirmou:
- Tá se achando o garanhão, baixa a tua bola. No caso, as suas bolas, bonitão da propaganda do Prestobarba. Não se assanhe não. Estava me arrumando para uma sessão de fotos para qual fui convidada pelo Maurinho: Mulheres reais- As várias faces de Eva. Ensaio sensual para mostrar que a beleza é universal. Assisti os 50 tons de cinza com o gostosão do Christian Gray e me inspirei na Anastasia. Vou guardar meus apetrechos, love. E saiu por cima, enquanto o marido vinha correndo atrás dela dizendo que era uma audácia ela tirar fotografias sensuais, um desrespeito com a família, que não iria admitir.
- Meu corpo, minhas regras, fofucho. O meu tom não é cinza. É de liberdade.
- Você só pode estar brincando ou deu uma aloprada, Cíntia?
- Cíntia não amor, é Anastasia! E vai circulando que não tô pro seu bico sujo não, tucano.
E os dois viveram felizes para sempre. Cada um de um lado da cama queen size, há mais de duas semanas. Será essa a sina do casamento? Ela com a autoestima lá embaixo, ele com a vaidade lá em cima.

 
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 17/04/2019
Reeditado em 17/04/2019
Código do texto: T6625567
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