A sina da saúde

Ontem encontrei uma amiga que há pouco menos de três anos descobriu um câncer nos seios e está em tratamento. Ela falava dos impactos do tratamento em sua vida, da diminuição da autoestima por causa da queda dos cabelos, do tratamento, por vezes desumano, a que se submete, porque não tem plano de saúde e precisa usar os serviços de saúde pública. Em primeira análise concordei com suas falas, haja visto, que inúmeras vezes, já fui testemunha do descaso na área da saúde de muitos profissionais e, da falta de infraestrutura dos pontos de atendimento e dos hospitais privados com convênios em cidades onde não há hospitais públicos, como Congonhas. Mas, depois, ela foi contando a sua trajetória nesses anos e colocando datas precisas para cada uma das ações/intervenções que foi submetida. Em seu depoimento emocionado disse que foi fazer uma mamografia porque tinha completado 40 anos e que o ginecologista pediu, demorou dois meses a marcação. Uma vez apontado o precoce diagnóstico era preciso mais exames, o que foi feito em dois meses. Logo depois, foi marcada a cirurgia e na mesma data foi feita a recuperação mamária. E hoje ela tem um acompanhamento que antes era trimestral, semestralmente, e o próprio órgão a avisa da próxima consulta. Fiquei feliz em saber sobre a sua melhora, e também da sua luta, mas acabei relacionando o SUS e seus atendimentos ao que vivencio como conveniada a plano de saúde. Claro que o meu caso não é da gravidade do em epígrafe, mas saúde é qualidade de vida e ninguém vai ao médico por acaso. E fiquei debulhando na minha mente sobre a saga para tratamento com plano de saúde, da qual sou protagonista que, para marcar uma consulta com especialista demorou seis meses. Que para marcar um exame no mês de março, pelo convênio só em setembro, ou pagar particular para o dia seguinte (E eu paguei, mas logo depois me senti corrupta, corrompida, idiota, escrava, dependente); Que para o resultado leva semanas. Que para remarcar o médico para mostrar o exame já passou um ano.
Ainda bem que é doença corriqueira porque se fosse algo mais grave, morreria na fila do plano, pagando pra acelerar o processo de morte.
Há exceções para todas as regras. Tomara que a minha seja a única.
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 17/04/2019
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