Era a terceira noite seguida que batia à porta. Desde que consegui me livrar dela, apesar do vício, não tínhamos mais contato direto. Vez ou outra ela vinha, sempre a noite, procurando reatar o relacionamento. Mas não podia aceitar que continuasse assim, já não mais tínhamos cumplicidade.
O nosso relacionamento começou cedo. A conheci na faculdade. Tínhamos algumas coisas em comum. Entre elas, o tempo. Ela corria na frente, eu atrás.
No início era uma espécie de paixão avassaladora.  Depois de um dia cheio: família, trabalho, universidade chegava em casa e queria um colo. E lá estava ela sempre disposta. Elegante, vestia um tubo escuro e apresentava uma banquete de opções para me distrair e causar uma espécie de êxtase. Um prato japonês especial, um drama cinematográfico ou uma história da vida real desenhada num plano infalível para convencimento.
Passei a fazer dela minha bengala de salvação. Uma espécie de obsessão: chegava, deitava em seus braços e ficava esperando uma carícia, e logo depois, uma noite intensa de amor.
Mas o tempo foi passando e como num passe de mágica comecei a perceber que aquele relacionamento não estava me fazendo tão bem. Queria ter outras experiências. Ter sensações sensoriais mais amenas, um desligamento intenso talvez, mas ela não permitia.
Começou a dominar meus passos, e me perseguia. De noite queria oferecer um colo, o abrigo e de dia se escondia prrparando uma tocaia para me tirar do meu eu, despistando o sobrenome que trazia quando faziam a roda e começava a quantificá-los.
Não durou muito tempo e já estava prestes a cometer uma loucura. Nada mais fazia sentido, misturava o café, aquecia o chá, “pré ocupava” a mente insana que trazia imagens de flashback dispostas como uma arma de fogo a apontar para minha cabeça e disparar automaticamente como num fuzilamento.
Resolvi procurar ajuda, como me livrar dela? O aconchego sentido no início agora dava lugar ao sofrimento, ao medo e à insegurança. A qualidade de vida foi se perdendo e virei um zumbi.
Já no consultório tive a alegria de compreender que o meu caso não era uma exceção e que muitos com a ajuda do tratamento convencional conseguiram se separar sem cortes trágicos, apenas com uma adaptação, nada de súbito.
Ele prescreveu um hormônio e pediu para mudar os hábitos: parar de responder mensagens ao telefone ou escrever em computadores durante a madrugada, horário este que ela ficava à espreita. Não demorou muito e o remédio foi fazendo efeito e acabamos terminando aquele relacionamento doentio.
De um tempo pra cá, depois do tratamento e manutenção, ando tendo recaídas. Mas afirmo: pra essa INSÔNIA não volto nunca mais. Foi meu pior relacionamento. Mas acabou, espero. Só quem sofre de insônia sabe do que estou falando! É o pior relacionamento (figurado). Escrava, obsessiva, má!
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 18/04/2019
Reeditado em 18/04/2019
Código do texto: T6626289
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