SEM LÓGICA

O tempo termina por nos ensinar como as coisas deveriam ser ou ocorrer para se pautarem na lógica, na razão e na normalidade a fim de ganhar um certo sentido, um bom propósito.

Aproveito minha coluna no Jornal Alerta para citar algumas coisas que me parecem fora de lógica.

1. A subutilização da Rodovia BR 418, no trecho entre Caravelas e o Trevo de Posto da Mata/BA. Quem tem que pegar um coletivo de Prado ou Alcobaça para Posto da Mata, Helvécia, Juerana ou mesmo para cidades mineiras, como Nanuque, Teófilo Otoni, Valadares obrigatoriamente passam por Teixeira de Freitas, fazendo um inexplicável, custoso e tortuoso itinerário, quando seria mais lógico, curto e rápido se feito pela BR 418. Igualmente, não faz sentido o itinerário da linha Prado-Vitória/ES que passa por Alcobaça incluir Teixeira de Freitas em seu itinerário.

2. O abandono do Aeroporto de Caravelas. Trata-se de um aeródromo de primeira qualidade, inclusive com boa estação de passageiros. Construído pelos americanos durante a segunda guerra, possui duas pistas de pouso e decolagem em formato de “X”, o que oferece ao piloto alternativa de cabeceira para contornar ventos de cauda (laterais). Servido pelas BR 418 e BA 001 oferece acesso imediato a Caravelas, Alcobaça e Prado, cidades praianas da Costa das Baleias, com grande fluxo de veranistas e ecoturistas. Também não dista muito mais que cem quilômetros de Teixeira de Freitas, Itamaraju, Nova viçosa e Mucuri. Suas pistas têm pavimento reforçado para operar com aeronaves transportadoras de carga pesada. Nesta última década passou por reformas de nivelamento e extensão de pistas com o fim de integrar e facilitar os planos de expansão do turismo regional, oferecendo incontestes vantagens sobre o acanhado campo de pouso de Teixeira de Freitas, com pista frágil para aeronaves de maior porte.

3. Asfaltamento de ruas sem a respectiva rede de coleta de águas pluviais. As cidades praianas, quer do extremo sul baiano quer alhures, regularmente são desprovidas de rede de captação de águas pluviais por economia na infraestrutura. Felizmente, isso não impede que seus logradouros, ainda que sem pavimento, consigam escoar rapidamente a água da chuva, graças à drenagem interna do solo altamente arenoso. É por essa razão que ruas, praças e avenidas dessas localidades são logicamente pavimentadas com blocos sextavados ou paralelepípedo com juntas abertas sem argamassa para permitir o escoamento da água. Uma lógica hídrica que qualquer pessoa entende sem esforço racional. Contudo, certos gestores públicos insistem em preferir a cobertura asfáltica impermeável, por razões só por eles conhecidas. Opção que resulta na formação de grandes poças duradouras só esvaziadas por evaporação. Portanto, é falta de lógica no asfaltamento sem a respectiva estruturação de rede de coleta de águas pluviais.

4. Telefone público cabeado (fixo) com uso de cartão, do tipo “orelhão”. Após advento da telefonia celular e sua popularização, praticamente todo cidadão possui um aparelho telefônico sem fio. Esses trambolhos plantados nas vias públicas, sem manutenção, desbotados, pendurados aos pedaços, caíram em desuso faz tempo. Provavelmente nunca mais serão utilizados. Prestam-se apenas para poluir a paisagem, obstruir passeios e ser objeto de vandalismo e até de casa para maribondo e abelha. Resultam de uma obsoleta obrigação imposta pelas regras da privatização da telefonia no Brasil. A comunicação telefônica evoluiu, mas esqueceram de remover o ditame regulamentar e essas peças de empobrecimento paisagístico.

5. “Fala” demorada. Exposição verbal, pregação doutrinária, homilia, discurso de qualquer natureza etc. com larga duração são coisas que não mais atingem seu objetivo como antigamente. Apenas causam aborrecimento a quem se dispõe a ouvi-los. A comunicação moderna formatou a interlocução, o diálogo, com mais valor que a passiva atenção, exigida tempos atrás. A aula inteiramente expositiva pode ensinar algo nos seus primeiros dez ou quinze minutos. Daí em diante, nada diz a quem escuta. É mais provável até que apague o que se disse antes. O apresentador de programa de TV que se mostra na tela como num retrato 3x4 sabe que a atenção dada a sua fala expira dentro de poucos minutos. Por isso, tem que inserir imagens dinâmicas ilustrativas da mensagem para resgatar e manter a audiência do telespectador. Mais do que nunca, hoje aquele que intenciona passar mensagem para alguém ou a um grupo de pessoas tem que estar consciente da “FADIGA DE ATENÇÃO”. Fenômeno que ocorre após certo tempo em que o ouvinte se perde associando e dissociando o que ouve do que entende, ou seja, desliga-se da verborreia ouvida ao fazer conjecturas, correlações e comparações críticas da mensagem com seu saber. Certamente essa fadiga é menos precoce e mais suportável quando o ouvinte tem pouca cultura e se depara com algo novo para ele, de intrigante compreensão. O discurso religioso, especialmente o proferido por limitados e inexperientes sacerdotes e pastores, costuma nada de novo apresentar; normalmente é longo, enfadonho, repetitivo e recheado de infelizes exemplificações que transformam o ofício religioso em insuportável e agoniante espera pelo término. Não faz sentido, pois, azedar o humor do fiel que vai ao templo para orar e ser feliz.

6. Mototaxi não faz sentido. Não é de hoje que em países orientais a condução de passageiros no perímetro urbano em veículos de duas rodas foi extinto e substituído por veículos mais seguros e confortáveis de três rodas – os triciclos ou “tuc-tucs”. Esses triciclos – motorizados ou não - oferecem além da possiblidade de transportar até duas pessoas, abrigo contra ventos e chuva. O fato de serem veículos mais lentos, em nada prejudica a mobilidade. Ao contrário, os ganhos em segurança superam o risco que se corre com a afoiteza e a irresponsabilidade dos atuais mototaxistas. Além disso, dispensam o incômodo e insalubre uso de capacete; estendem seus serviços a pessoas idosas e com dificuldades de locomoção que jamais se ariscariam a pongar na garupa de uma moto. Fora isso, como o futuro está reservado a veículos elétricos, os triciclos são mais adequados a essa propulsão. Claro que o custo seria ligeiramente maior que dos atuais mototaxis, porém inferiores aos tradicionais taxis operados com viaturas pesadas.

7. O ônus da prova. Não é legal, tampouco lógico remeter ao acusado a responsabilidade de provar sua inocência. No trânsito é comum essa ilegalidade e aberração lógica. Por exemplo, não cabe ao condutor de um auto de passeio provar que os passageiros por ele conduzidos não são pagantes, se estes declararem negativamente ou nada responderem quando inqueridos. Neste caso, a abordagem policial é indevida, inócua e, portanto, sem sentido. Isso para não dizer ilegal e desrespeitosa quando o agente policial obriga o(a) condutor(a) a afagar ou beijar o(a) passageiro(a) para provar a afinidade entre os dois.

Roberio Sulz
Enviado por Roberio Sulz em 19/04/2019
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