QUANDO O CALDO SAI MAIS CARO QUE O PEIXE

Moraes recua e foge de vexame maior, mas expõe ativismo político do Judiciário e alarga o caminho para a “lava-toga”.

Claudio Chaves

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Toffoli e Moraes - Google Imagens

Perdão! Mas não resisto (admito). Justo na Páscoa, Toffoli e Moraes protagonizam mais um daqueles números meio circenses – especialidade, até aqui, reivindicada como quase exclusivo do presidente da República e seus ministros mais chegados – e, com isso, me impelem a recorrer a uma das minhas predileções (provavelmente por limitação de erudição literária) na construção textual: os famosos trocadilhos.

No caso, pode se dizer que os (2) caçadores de fake news acabaram mantando não dois, mas vários coelhos de uma pataquada só.

Sob fortíssima pressão da mídia, do Ministério Público Federal, corporações profissionais da Imprensa e do Direito e do próprio STF, o ministro Alexandre de Moraes recuou da ação de censura contra a revista Crusoé e o site O Antagonista; e cassou a própria decisão tomada no início da semana, a pedido não do “amigo do amigo do seu pai”, mas do seu próprio amigo, o presidente do STF, ministro Dias Toffoli.

Com isso, Moraes evita protagonizar vexame maior ao amargar derrota dada por certa em eventual apreciação do caso pelo plenário da Corte. Mas não foi só isso. A mistura de exibicionismo com excesso de vaidade e parvoíce dos dois magistrados pode custar mais caro aos próprios, ao STF e ao judiciário como um todo. Além de expor, mais uma vez o colegiado supremo, Moraes conseguiu, entre outras façanhas, promover a revista e o site, jogar mais pressão sobre o presidente Toffoli e sua investigação pessoal (q ele jura ser em defesa do Supremo) e alargar o caminho para a abertura, no Senado, da CPI do Judiciário, apelidada por lá de “CPI da Lava Toga”, numa referência clara do possível envolvimento de magistrados com, entre muitos outros, os crimes de corrupção revelados pela operação lava jato, a própria, também, sob suspeição de ativismo político e, por isso, vários excessos em alguns casos e omissão em outros.

Que tanto o Judiciário quanto o Ministério Público se valem das funções constitucionais e do prestígio pra praticarem ativismo político, não é de hoje e nem é segredo; apenas ficou mais escancarado a partir da referida força-tarefa.

A ex-ministra do STJ e ex-presidente do CNJ, Eliana Calmon – isso! aquela mesma que disse (2011) que há “bandidos de toga” infiltrados no Judiciário, e quase provocou uma tsunami entre magistrados de todo o País –, ainda no auge da lava jato (2017), indagou: “O que eu acho é o seguinte: a Odebrecht passou mais de 30 anos ganhando praticamente todas as licitações que disputou. Enfrentou diversas empresas concorrentes, muitas com uma expertise semelhante, e derrotou todas. Será que no Judiciário ninguém viu nada?”, questionou a jurista em entrevista ao El País/Brasil (https://brasil.elpais.com/brasil/2017/02/16/politica/1487263344_802616.h

tml).

Talvez o período (da semana santa) tenha influenciado na nova decisão do ministro (Alexandre de Moraes) que, por conta da anterior, poderia passar para a história como o discípulo amigo dos inimigos de Jesus: Judas, o traidor.

Porém, sua decisão pode ter vindo tardia demais para o propósito que pretendiam: defender a honra dos ministros e proteger a imagem do STF, dizendo eles.

Esse parece o típico caso em que o remédio torna-se pior do que a doença; ou quando o caldo sai mais caro do que o peixe – desculpem mais esses; mas tanto a situação quanto a data são demasiadamente tentadoras!

Feliz Páscoa – literalmente!